ACEITAR-SE PARA SER FELIZ
Cada um de nós é um ser em construção; todos temos defeitos e qualidades, e os nossos limites não podem fazer com que deixemos de nos amar e valorizar. É uma grande sabedoria saber aceitar-se a si mesmo; quem não se aceita é porque carrega um refinado e escondido orgulho; e isto não te deixa ver o teu valor. Todos nascemos com a capacidade de vencer e de ser felizes. Quem não se aceita acaba por se tornar rancoroso contra si mesmo, contra os outros, contra a vida e até contra Deus… e isto leva-o à revolta, à auto-piedade e à depressão.
Deixa de sonhar, pega no material que tens e começa a construir a tua casa, como for possível. É melhor tu morares num casebre do que ficar ao relento a sonhar com um castelo. Ninguém é perfeito; por isso, todos precisam de se aceitar. Não estou a dizer para negares os teus limites; isto seria perigoso, pois não os elimina. Olha-os com coragem, de frente, sem exagerá-los nem diminuí-los, e muda o que for possível. O que não pode ser mudado, aceita e oferece a Deus. Tu não és menos amado por Ele por causa dos teus limites. A partir desta aceitação, toda a tua pobreza pode começar a transformar-se em imensa riqueza. Começa agora a ver as tuas qualidades; tu tens qualidades. Ser humilde é reconhecer a verdade sobre ti mesmo.
Aceita-te também diante dos outros; não te sintas pequeno ou invejoso porque o teu colega tira notas melhores do que tu, ou porque ele se destaca e tu não. Não deixes a inveja aninhar-se no teu coração; lança-a fora, é um veneno. Sê o que és diante dos outros; não finjas ser outra pessoa, e não fiques paralisado diante deles por um complexo de inferioridade. A melhor maneira de impressionar alguém é ser autêntico e espontâneo diante dele. A personalidade é para o homem o que o perfume é para a flor, o que a luz e calor são para o sol. Uma engrenagem pequena não é menos importante do que uma engrenagem grande num jogo de engrenagens. Um tijolinho que falte numa construção deixa um buraco na casa. Cada um é importante neste mundo de Deus.
Não vivas a imitar a vida dos outros; tu és rico porque és único no universo; não esqueças isto. O Pai deu-te uma vida sob medida, e única, irrepetível; vive-a, desenvolve-a. Se te aceitares, os outros te aceitarão também. Não queiras parecer o que não és. Não tenhas medo ou vergonha de ser tu mesmo; e sê honesto em dizer: “eu não entendi isto”, “eu não sei fazer aquilo”, etc… e ajudará os outros. Sabe uma coisa: os homens têm necessidade de ver pessoas que reconhecem os seus limites, para que tenham coragem de reconhecer também os seus. É nobre saber dizer: “eu não compreendo isto…”, “por favor, ensine-me isto!” Enfim, os outros precisam de ti como és, como Deus te fez. Tu és um exemplar único na História da Humanidade. Todos nós somos limitados, mas isto ajuda-nos a aprender a precisar uns e outros. Assim aprendemos a amar, pois damos o que temos e receberemos o que nos falta, e todos crescemos juntos. Não é bonito isto? Chegar à perfeição é chegar a ser plenamente aquilo que Deus quer que tu sejas, e não os outros. Deus deu uma vida a cada um, para que cada um cultive a sua e respeite a do outro.
Cada um de nós é riquíssimo no seu ser. Como, então, tu podes ficar a reclamar das qualidades que não ten? Antes de lamentar e lamuriar o que não tens, agradece o que tens, e tudo o que recebeste gratuitamente Dele. Olha primeiro para as tuas mãos perfeitas… e diz muito obrigado, Senhor! Pensa nos teus olhos que enxergam longe, os teus ouvidos que ouvem o cantar dos pássaros, e diz obrigado, Senhor!
Olha para a beleza e vigor da tua juventude, e agradece ao bom Pai, de quem procede toda a dádiva boa. A pior qualidade de um filho é a ingratidão diante do pai. Tu recebeste uma grande herança: a tua inteligência, a tua memória, consciência, liberdade, capacidade de amar, de cantar de sorrir e de chorar, e muitos outros talentos que Deus espera que tu faças crescer para o teu bem e o dos outros.
Mas a primeira coisa para que possas multiplicar estes talentos, é aceitares-te como és, física e espiritualmente. Não fiques apenas a olhar para os teus problemas, numa introspecção mórbida, porque senão acabarás por não ver as tuas qualidades; e isto te tornará vitima dos teus sentimentos. São Paulo disse que somos como “vasos de barro”, e que trazemos um tesouro de Deus escondido aí dentro (cf. 1Cor4, 7).
Eu não estou a dizer que deves esconder-te dos teus problemas, ou fazer de conta que eles não existem, não é isto. Reconhece-os e aceita-os; e, com fé em Deus, e confiança em ti, luta para superá-los, sem ficar derrotado e lamuriando a própria sorte. Sabe que é exactamente quando vencemos os nossos problemas e quando superamos os nossos limites, que crescemos como pessoas humanas. Não tenhas medo dos problemas, eles existem para serem resolvidos. Todo o problema tem solução, e quando um deles não tem solução, então, deixa de ser problema. É na crise e na luta que o homem cresce. É só no fogo que o aço ganha têmpera.
Por isso, é importante eliminar as tuas atitudes negativas. Deus quer que sejas um aliado dele, um cooperador Seu, na obra da construção do mundo. Ele não nos entregou o mundo acabado, exactamente para nos poder dar a honra e a alegria de sermos seus colaboradores nesta bela obra. É um acto de maturidade ter a humildade de reconhecer os seus limites e aceitá-los; isto não é ser menor ou menos importante; é ser real. Aceite as tuas limitações, os teus problemas, o teu físico, a tua família, a tua cor, a tua casa, também os teus pais e os teus irmãos, por mais difíceis que sejam… e começa a trabalhar com fé e paciência, para melhorar o que for possível. Como dizia São Francisco, “sou, o que sou diante de Deus.”
Tem aqui lugar a história do velho, do rapaz e do burro. Certa vez iam por uma estrada um velho, um menino e um burro. O velho puxava o burro e o menino estava sobre o animal. Ao passarem por uma cidade, ouviram dizer: “Que menino sem coração, deixa o velho ir a pé. Devia ir a puxar o burro e pôr o velho sobre este!” Imediatamente o menino desceu do burro e pôs o velho em cima, e continuaram viagem. Ao passar por outro lugar, escutaram alguém dizer: “Que velho folgado, deixa o menino ir a pé, e ele vai sobre o burro!” Então, pararam e começaram a pensar no que fazer. O velho disse ao menino: Só nos resta uma alternativa: irmos a pé levando o burro nos nossos ombros!…” Moral da história: é impossível agradar a todos! Se eu não me aceitar como sou, nunca saberei amar os outros como eles são; estarei sempre a desejar conviver com pessoas sem defeitos; e isto não existe. Sabe reconhecer e aceitar os erros; um erro reconhecido com simplicidade é uma vitória ganha.