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Só os católicos se salvam?

Só os católicos se salvam? – Há ou não há salvação fora da Igreja?

O Sr. "Rafael" escreveu o seguinte:

"Se eu não for católico, eu não tenho salvação? (...) Realmente é complicada esta linha de pensamento: "para me salvar, preciso de estar ligado à Igreja, a única Igreja de Cristo, a Igreja Católica. Penso muito naquela passagem de Mateus 12:30 - Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Somos de Jesus, acreditamos em Cristo, como nosso Senhor e Salvador, então fico triste porque sou da Igreja Batista, e sou muito amado, muito bem cuidado, ali aprendo, escuto a palavra de Deus, aumento a minha fé, porque a fé vem pelo ouvir, faço parte do Corpo de Cristo, e não sou "Católico", a Salvação é Dom de Deus, Efésios 2:8 - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Efésios 2:8 - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus."

HONESTAMENTE, RAFAEL, não entendo as suas críticas. Vou responder aos seus comentários, tentando deixar as coisas bem fáceis para você, da maneira mais simples e clara possível.

Você pergunta se fora da Igreja há salvação. A resposta católica a esta pergunta, a qual ninguém é obrigado a adotar, porque cada indivíduo está obrigado a observar, antes de qualquer coisa, a sua própria consciência (e isto faz parte da própria doutrina católica), é a seguinte: não e sim; sim e não. Isto mesmo. Por isso é que eu lhe disse que esta questão, apesar de no fundo ser simples, é de complexa explicação. Vou tentar esclarecer em poucas palavras:

1. Imagine um índio, que nasceu e viveu toda a vida numa tribo totalmente isolada, que nunca teve contacto com a civilização. Ele nunca ouviu falar em Jesus Cristo, nem na Igreja, nem na Escritura, nem no Batismo ou em qualquer outro Sacramento. Será que ele está condenado ao inferno, por não pertencer à Igreja? O que a doutrina católica diz é que este homem não será condenado pela sua ignorância e nem por não pertencer à Igreja, – não haveria como ser diferente. – Este homem, então, será julgado pela sua boa ou má vontade, pela sua disposição interior. Ele poderá, sim, ser salvo, por meios que só Deus conhece. Ponto.

Até aqui, sem dificuldades; demonstramos uma face da questão. Mas há outra face da mesma questão é que, enquanto cristãos, nós cremos que mesmo a pessoa, que nunca ouviu falar em Jesus ou na sua Igreja, se for salvo, será mediante o Sacrifício de Nosso Senhor, ainda que, por assim dizer, de modo indireto. Por quê? Porque foi Cristo e exclusivamente Cristo, quem possibilitou esta religação a Deus, esta remissão, este resgate da alma humana ferida pelo Pecado original, para retornar à Casa do Pai, à Comunhão com o seu Criador.

A esta situação muito específica, das pessoas que não tiveram a possibilidade de conhecer a Igreja, a Teologia chama “ignorância invencível”. Como o próprio nome diz, é um desconhecimento a respeito dos meios que propiciam a salvação, que o indivíduo simplesmente não tem condições de superar. Em certos casos (embora aqui estejamos tratando de uma questão muito delicada, com desdobramentos muito próprios e que precisaria de uma análise bem mais apurada), poderíamos aplicar esta mesma condição a uma série de outros casos, como o das pessoas que foram induzidas desde a infância a crer em falsas doutrinas, e o dos simplórios, que por sua incapacidade intelectual não conseguem discernir o certo e o errado, e outros ainda.

Claro até aqui? Cremos que, para alguém que se define como cristão, não é tão complicado aceitar que todo aquele que chega a se salvar, é sempre por meio do Sacrifício Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muito bem, vamos então ao segundo ponto:

2. A grande dificuldade que você encontra, e que transparece nos seus comentários, está no ato de diferenciar o Cristo e sua Igreja. Assim, se eu digo que a salvação só é possível por Jesus Cristo, você por certo concordará comigo. O problema é que você não identifica Cristo à sua Igreja. Para você, basta ler a Bíblia, interpretá-la de modo particular, ouvir uma pregação aqui, fazer suas orações ali, e pronto: você já se considera cristão e membro do Corpo de Cristo. Nós católicos, não entendemos assim. Nós cremos, muito concretamente, que a Igreja é a continuidade histórica do Mistério da Encarnação de Jesus Cristo no mundo. Falando de modo mais simples, a Igreja é a continuação de Jesus Cristo no mundo. Jesus está no Céu, mas continua no mundo, em sua Igreja.

Deus tomou forma humana e veio nos salvar. Por isso, – atenção, – não é pela pregação, por mais bela que seja, que somos salvos. Também não é por meio de alguma "fórmula mágica" que Jesus ensinou, ou algum poder especial que Ele nos dá. Não. A salvação se dá pela Pessoa de Jesus Cristo, Deus Filho, Senhor, Redentor e Salvador nosso. Sendo assim, nós, católicos, não cremos que toda religião salva, que toda religião é igual, porque no fundo todas querem a mesma coisa e blábláblá, como dizem por aí. O homem não é capaz de alcançar Deus por seus próprios esforços. E, no entanto, é isso que todas as outras religiões representam: o esforço humano para alcançar Deus. Essa tentativa vem desde a Torre de Babel, quando os homens (metaforicamente ou não) tentaram erguer uma torre alta o suficiente para alcançar o céu, onde imaginavam que Deus habitava. E desde aqueles tempos antiquíssimos, o homem não aprendeu a lição: ele ainda acha que pode chegar a Deus por seus esforços, seja estudando muito, conversando com "espíritos" ou lendo e interpretando a Sagrada Escritura por conta própria. Mas tudo isso é inútil! Só Jesus salva! E este mesmo Jesus nos deixou sua Igreja, una e indivisível, que é seu próprio Corpo, sendo Ele mesmo a Cabeça, para a nossa salvação.

Mas, muita atenção, estamos a falar de uma Igreja, e não de "muitas igrejas", cada qual seguindo as diferentes interpretações particulares que os seus "pastores" e "pastoras" fazem da Escritura, cada qual ensinando uma doutrina diferente da outra. O Espírito Santo não se contradiz a si mesmo, então, como poderia estar em todas as "igrejas", se umas crêem em coisas completamente diferentes das outras?

Umas ensinam que o batismo é necessário para a salvação, outras ensinam o contrário; umas admitem o batismo de crianças, outras dizem que isso é heresia; umas admitem o divórcio, outras dizem que Deus não o admite; umas guardam o sábado, outras não; umas são adeptas das orações barulhentas, com altos berros e pesados instrumentos musicais em seus louvores, outras dizem que isso é contra a Escritura, que prescreve que tudo no culto a Deus deve ser feito com ordem e decência (cf. 1Cor 14,40)...

Eu é que lhe faço uma pergunta: como é que Deus poderia estar em todas as diferentes "igrejas", se umas contrariam as outras, se cada uma tem a sua própria doutrina, e umas consideram as outras como heréticas?

O desencontro entre denominações protestantes ou ditas "evangélicas" sempre aconteceu, acontece e vai continuar a acontecer, porque todas elas caem no mesmo erro primordial, que é observar como única regra de fé e prática a Escritura. – Porque a Bíblia, mesmo sendo o livro sagrado dos cristãos, assim como todo livro depende da interpretação que fazemos dele. Por isso é que a própria Escritura, em passagem alguma, se coloca como única e exclusiva regra dos cristãos, mas elege a Igreja como “a Casa do Deus Vivo” e “a coluna e o sustentáculo da Verdade” (1Tm 3,15). Por isso é que Jesus jamais nos orientou a observar exclusivamente a Bíblia, mas disse claramente que não adianta apenas examinar as Escrituras para se chegar a Ele (João 5,39-40). E é por isso que o Senhor deu autoridade a Pedro e aos outros Apóstolos, conferindo-lhes até mesmo o poder para perdoar ou reter os pecados dos homens.

Retomando o nosso raciocínio central, nós sabemos e entendemos que só Jesus salva, e por quê? Porque somente Ele é Deus, que se fez homem e uniu, nEle mesmo, a humanidade a Deus. Ele é a Ponte entre Deus e os homens, porque Ele é a um só tempo as duas coisas: em uma Pessoa, estão a divindade e a humanidade. Assim, só há um modo de o homem ser salvo, que é morrer e nascer novamente em Cristo, e viver em Cristo, ser em Cristo, comungar com Cristo, ser parte do Corpo de Cristo... Que é a Igreja!

Ora, a Igreja é o próprio Corpo de Cristo! Quando S. Paulo Apóstolo teve a visão do Senhor, ouviu a sua voz, que lhe dizia “Por que me persegues?”. – Mas a quem Paulo perseguia? A Jesus? Sim! Mas como seria possível, se Jesus já havia sido crucificado e morto, se já estava no Céu, à Direita do Pai, em Glória inacessível? Como Paulo podia perseguir Jesus? Ele podia fazê-lo porque Jesus, mesmo estando no Céu, estava ao mesmo tempo aqui na Terra: Paulo perseguia a Igreja, o Corpo do Senhor, cuja Cabeça é Ele próprio; Igreja que á a continuidade de Cristo no mundo. Por isso, ao perseguir a Igreja, Paulo perseguia o próprio Jesus. Por isso, o Senhor não lhe disse: “Por que persegues os meus servos?”, ou “Por que persegues os meus seguidores?”. Não. O Senhor diz: “Porque ME persegues?” Perseguir a Igreja é perseguir Jesus, porque a Igreja É Jesus.

Sendo assim, não se trata de frequentar a “igreja” batista, calvinista, luterana, universal, mundial, adventista, quadrangular, renovada, etc, etc, etc... Trata-se de pertencer à única Igreja que foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Maria virgem, Filho de Deus e Deus, Senhor e Salvador de todos.

Você participa nos cultos na “igreja” batista, ouve as pregações do pastor, estuda a Bíblia por lá, e sente-se bem, acolhido? Sinto muito, mas a "sua igreja" foi fundada por John Smyth, em 1604, na Holanda, que já começou errado: estudando a Sagrada Escritura por conta própria, sendo que a própria Escritura diz que, antes de tudo, devemos saber que “nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular” (2Pd 1,20). E qual será a Igreja chamada pela própria Escritura "Noiva do Senhor" (Ap 21,9), "Corpo de Cristo" (1Cor 10,16), “Casa do Deus Vivo” e “coluna e o fundamento da Verdade” (1Tim 3,15)? Ora, que Igreja existia no tempo em que estas palavras foram escritas, sob a inspiração do Espírito Santo? A única, una e indivisível Igreja de Nosso Senhor, que é católica (universal), apostólica (guarda a Tradição dos Apóstolos) e hoje romana (porque sua sede primacial está em Roma).

Então, se você aceita e confessa que sem Jesus não há salvação, você está pelo menos a meio caminho de compreender porque para nós, católicos, sem a Igreja não há salvação. E que só pode haver uma Igreja, e não "muitas igrejas" que se contradizem e disputam entre si. A Igreja não é instituição humana, não é empresa, ainda que seja composta por homens, e os homens sejam sempre falhos. A Igreja é o próprio Jesus Cristo no mundo. É neste sentido, fundamentalmente, que cremos que sem a Igreja não há salvação; simplesmente porque sem Cristo não há salvação.

Finalizando, quando você diz que acha "egoísta esta linha de pensamento", eu lhe digo: se é egoísmo crer em Nosso Senhor e integrar a sua Igreja, ser membro do seu Corpo, como acabei de demonstrar, então continuarei a ser egoísta, com muita alegria, devoção e amor. E continuarei a respeitar quem pensa diferente, quem não adota a mesma fé, porque é Deus mesmo quem nos dá o direito de escolher o que quisermos para as nossas vidas, o bem ou o mal, a luz ou as trevas, a vida ou a morte. Não tenho e nem posso ter a pretensão de privar alguém da dádiva divina da liberdade. Mas continuarei a trabalhar para que todos entendam que respeitar não é o mesmo que abdicar da obrigação que temos, enquanto cristãos, de defender a verdade.

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