- “Se, em matéria de castidade, nos 10 Mandamentos, como refere a Bíblia, só se proíbe o adultério; e se Jesus também não se pronunciou de modo mais explícito, porque é que os moralistas da Igreja atribuem tanta gravidade aos pecados contra a castidade, à masturbação por exemplo?”
R. - Os 10 Mandamentos contêm o núcleo principal da moralidade então exigida, mas não de modo exaustivo. Além disso, nalgumas passagens do Antigo Testamento aparecem condenadas as relações sexuais fora do matrimónio:
“Aquele que procura prostitutas, a sua alma será suprimida do número dos vivos” (Ecli 19,3).
Mas é no Novo Testamento que os pecados contra a castidade aparecem mais denunciados:
S. Paulo enumera “a devassidão, a impureza, a lascívia e os maus desejos” entre os pecados “pelos quais vem a ira de Deus” (Col 3,5).
E sentencia:
“Nem os imorais, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas... possuirão o reino de Deus” (1 Cor 6,10).
E mais adiante, depois de condenar a prostituição: “Fugi da imoralidade. Quem pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo” (v. 18) que “é templo do Espírito Santo” (v. 19).
E exorta: “Não reine o pecado no vosso corpo mortal obedecendo à concupiscência” (Rom 6, 12-13) porque “o corpo não é para a imoralidade mas para o Senhor” (1 Cor 6,13).
A. Plé, (Suplement de la Vir Spirituelle 1966, 258-292), põe o problema num plano natural humano.
Com efeito, sendo o acto conjugal a expressão dum dom total e recíproco que frutifica normalmente na procriação, segue-se que a relação de homem e mulher é o constitutivo da sexualidade humana.
E consequentemente, a imoralidade da masturbação, para além da frustração duma finalidade biológica, situa-se principalmente no individualismo desse acto incapaz de cumprir qualquer finalidade.
O pecado, portanto, está no egoísmo desse prazer desligado de qualquer finalidade honesta, utilizando-se como fim, quando devia ser simples meio ao serviço da procriação e do amor conjugal.
Para conservar a vida corporal, o homem precisa de comer. Mas se Deus não tivesse ligado a essa necessidade fisiológica o apetite provocado pela fome e o prazer do sabor, a pura obrigação da alimentação correria sérios riscos de ser descuidada.
No entanto, está de ver que, se Deus ligou este prazer à comida, não foi para que nos ativéssemos apenas a ele, tomando-o como fim em vez de meio, como faziam os romanos que possuíam vomitórios para se poderem entregar horas seguidas ao prazer da comida.
O mesmo sucede quanto ao 6.° mandamento. A necessidade da propagação da espécie, os sacrifícios que trazem consigo a criação dos filhos, estimulou-os Deus com o atractivo natural entre pessoas de diferentes sexos e com o prazer inerente aos actos necessários para a geração.
Mas seria do mesmo modo irracional transformar também aqui os meios em fim, buscando apenas o prazer sexual por si mesmo, pois não foi para isso que Deus concedeu à natureza humana a capacidade de o sentir.
(In Magnificat, Junho/Julho 2008)