Sem medo da velhice
A velhice tem sentido!
“Que os homens idosos sejam sóbrios, dignos, ponderados, cheios de uma fé sadia, de amor, de perseverança. Igualmente as mulheres idosas devem comportar-se como convém a pessoas santas: nem maldizentes, nem dadas a excessos de vinho. Incitem ao bem, ensinem as jovens a amar seus maridos e filhos, a ser modestas, castas, dedicadas aos afazeres domésticos, boas, submissas a seus maridos, a fim de não ser blasfemada a palavra de Deus.” (Tito 2,1-5).
A velhice, como todas as etapas do ciclo de vida humano, é plena de significado, realizações e desafios. Compreende, de certa forma, três tarefas: “olhar para trás”, “viver o presente” e “olhar para a frente”.
Olhar para trás é a acção que leva o idoso a fazer um balanço da sua vida: suas experiências, conquistas, aprendizados, alegrias, perdas, dores... que construíram sua história pessoal. Esse olhar deve inicialmente procurar os êxitos, as acções bem sucedidas, as experiências felizes, o que foi suportado com coragem, as contribuições próprias que foram prestadas à humanidade e, principalmente, o amor recebido e o amor doado. Esta colheita dos frutos da própria existência, é algo q sempre pode ser contemplado com os olhos do espírito. São os dons que banharam em ouro a vida do homem. Esse olhar para trás, por fim, leva o idoso a saber “para que foi bom ele ter vivido”.
O filósofo Emanuel Kant expressa esse olhar de forma muito bela: “Dias luminosos... não chores por terem passado, antes sorrias por haverem existido”. Mas o olhar retrospectivo também trás outras coisas à lembrança: os dias cinzentos, a angústia, os medos, fracassos, a vida que não foi vivida, o tempo não aproveitado ou erradamente aproveitado... são lembranças que pesam na alma da pessoa idosa, pois resta-lhe pouco tempo para acrescentar à vida alguma coisa que possua sentido. Uma recomendação às pessoas idosas é que busquem a reconciliação no seu olhar para trás. Perdoar é uma das grandes oportunidades de sentido na velhice, e realizá-lo equivale a reconciliar-se consigo mesmo, com os outros e com a própria história. O perdão pode recuperar toda uma vida sem sentido e, no instante final, dar a ela a plenitude existencial.
A segunda tarefa que chamamos de “viver o presente”, é a oportunidade de que agora se pode e se deve fazer aquilo para o qual se é chamado. Cada ser humano tem um chamado para alguma coisa, mas esta “alguma coisa” não lhe pode ser imposta. Ele mesmo deve encontrá-la com a sabedoria do seu coração, ele mesmo precisa afirmá-la como o seu sim à vida. O homem cresce por suas tarefas, mas também diminui com a perda delas, por isso, é necessário que, em cada fase da vida, se desempenhe tarefas adequadas à própria situação e às próprias forças. Na velhice, esta é uma vantagem, pois o esquema rígido de actividades a serem cumpridas, de normas e pressões, desafoga-se, permitindo que as tarefas sejam realizadas muito mais por prazer do que por exigência económica e social.
Não esqueçamos isto: o idoso já realizou sua parte de contributo à sociedade. Ele não pode mais ser convocado como uma mão-de-obra barata para outros serviços, apenas podemos pedir-lhe sua ajuda onde ela se faz necessária. O que ele fizer, que o faça espontaneamente. Esta perspectiva corresponde ao carácter da “vida como tarefa”, pois a todo homem é dada uma tarefa, mesmo que seja apenas a de suportar sua situação com bom humor e paciência. Esta tarefa é o sentido do momento presente.
A terceira tarefa é olhar para a frente, pois também o idoso tem um futuro diante de si, mesmo que esse futuro esteja resumido a dias, meses ou anos. Muitas pessoas idosas não começam nada de novo porque pensam que não vale mesmo a pena. O medo de começar algo e vir a deixar incompleto é uma justificativa, mas assim deveria ser para todos nós: crianças, jovens e adultos, pois quem de nós pode assegurar a própria existência? Nunca sabemos até que ponto iremos chegar quando iniciamos uma coisa nova e, mesmo que o futuro não venha a realizar-se, o facto de olhar para ele e de planeá-lo já é, em si, uma experiência bonita, uma vivência que vale a pena ser vivida.
Por fim, quem vive consciente da responsabilidade de dar a cada momento um sentido à sua vida, pode olhar tranquilo para a velhice e para a morte. O olhar para a frente traz consigo também o olhar para a morte, e nesse caminhar para a pátria verdadeira do ser humano: o Céu, uma vida plena de significado e um confiante olhar para Deus, renova a esperança de um dia ouvir: “Vinde, benditos de meu Pai!”. Na vanguarda deste caminho, estão os idosos...