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Queres ser santo, assume que és fraco
- 05-09-2011
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Queres ser santo? Assume que és fraco!
É uma riqueza insondável o texto de São Paulo: II Coríntios 12,1-10. O apóstolo diz que, para o seu espírito não se encher de orgulho e vaidade, foi-lhe colocado um "espinho na carne".
Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que sabe salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, sabe encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer em que é que precisamos de melhorar. Contudo, este é um grande desafio para todos nós, porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Por quê? Porque muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fraquezas há uma série de repreensões diante de nós.
Já reparaste que nós não deixamos a criança chorar? Já reparaste que quando o recém-nascido chora, nós fazemos tudo para calar a boca dele? Fazemos uma série de "caras feias" para ver se calamos a criança, para tentar espantar a fragilidade.
Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja nosso filho. Nós queremos é ver toda gente feliz! Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faça esquecer os nossos limites.
Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também dar atenção àquilo em que ainda temos de melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estamos prontos, não somos perfeitos, estamos por ser feitos, estamos a ser feitos aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos nós vamos descobrindo onde é que dói “esse espinho” de que fala o apóstolo dos gentios. Esse espinho muda de lugar. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, tanto maior é a facilidade de conhecer limites.
Para retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos de tirar aquilo que não nos pertence. Há algumas inflamações do espírito, da personalidade, porque há pessoas que são tão aborrecidas que nem nos podemos aproximar delas. São as inflamações que se alastram.
E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Porque Deus não quer que tu sejas um “anjinho” na terra, mas que deixes de ser “inflamado”! Ele quer mostrar-te as inflamações para que lutes contra elas.
Cara feia, arrogância, tudo isto é complexo de inferioridade. Sabes qual é o “espinho”? O medo, a insegurança.
Já fizeste a experiência de viver uma palavra que fizesse com que saísse tudo o que estava estragado no teu interior? Língua afiada quer dizer: deixar toda a inflamação que está dentro de nós vir para fora. Ter condições de deixar “vazar” aquilo que antes desconhecíamos é admitir e reconhecer que somos frágeis. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender.
Muitas vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, – porque parece que o mundo de hoje se esqueceu de mostrar a cultura do esforço que se fez para chegar onde chegámos –, perdemos o direito de chorar. E por diversas vezes choramos e não sabemos por que choramos.
O ensino de Jesus é sempre o avesso do avesso. Queres ser santo? Assume que és fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, nós sangramos. E nós precisamos de sangrar.
Nós somos todos iguais. Não adianta fingir que somos fortes ou fingir que não sentimos nada e que não temos medo.
Conversão é isto. É tu educares o teu filho para que ele te possa contar onde estão os “espinhos”. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos de trabalhar para que sejamos melhores.
A vida vai perdendo a graça porque não nos deixamos sangrar. A gente sangra melhor nos momentos de intimidade, nos quais temos coragem de tirar a couraça. É muito melhor admitir que temos medo. Para as pessoas é sempre doloroso ter de tirar os “espinhos” e ver vazarem as inflamações.
Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Muitas vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas acham de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos.
Examina-te, tu és uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil.