O mais grave dos pecados contra a fé é a infidelidade
O mais grave pecado contra a fé é a infidelidade (ST II-II
Q10A3). Por ele o homem voluntariamente resiste à fé, não querendo recebê-la,
crescer nela ou a distorce. Assim, aquele que procura não conhecer melhor a fé
professada pela Igreja, com medo de ser cobrado por esse conhecimento em alusão
à palavra “a quem muito for dado, muito será pedido” (Lc 12,48), peca contra a
fé. Esta infidelidade é uma cegueira voluntária, que corrompe e destrói a
virtude da fé. A fé deve ser estimulada a crescer e não ser combatida ou
cerceada.
Heresia e a apostasia
Dentre os modos do pecado da infidelidade estão a heresia e a
apostasia. A heresia, que vem do grego “eleição”, tem este nome porque o herege
escolhe ou elege a doutrina que julga ser melhor ou mais adequada para si
mesmo. Nega-se, assim, que existe uma doutrina verdadeira que deve ser seguida
e defendida, não importando a opinião pessoal que se tem sobre ela. A partir do
momento que se arbitra sobre o que se deve ou se quer crer, escolhendo no que
acreditar e no que não acreditar da fé ensinada pela Igreja, adopta-se a
postura do herege e destrói-se a fé. Aquele que já ouviu a expressão “Sou católico,
mas não concordo com isto e aquilo que a Igreja diz” conheceu um herege de
perto. Pode ser um herege que não entrará para os livros de história, mas,
fatalmente, destruirá a própria fé (e de quem der ouvidos às suas “opiniões” ou
“eleições”).
A apostasia, por outro lado, é uma forma de infidelidade de
quem se afasta completamente da fé em Deus (ST II-II Q12A1). Aquele que teve
uma formação católica foi introduzido nos sacramentos e abandona a Igreja e a
fé, é um apóstata. A consequência da apostasia é a morte da fé de um modo mais
rápido e eficaz do que a heresia, pois essa ainda procura conservar alguma
coisa da fé, embora a distorça. O apóstata, no entanto, tem como objectivo (e
consegue) destruir a própria fé.
Como a fé exige um aplicar-se, conscientemente, na aprendizagem
das coisas de Deus para se desenvolver, a cegueira ou embotamento da mente é
outro vício que destrói a fé. Ou seja, aquele que se aplica a entender,
usufruir e aperfeiçoar-se nas coisas terrestres ou materiais, deixando de lado a
aprendizagem da fé, comete um erro que mata a sua fé. Afinal, acumular títulos
académicos após décadas de estudo e permanecer no “jardim de infância” da fé é
uma distorção intelectual extraordinária. O conhecimento e aprofundamento em
relação à fé tem de caminhar no mesmo tom e qualidade dos outros conhecimentos
intelectuais. Quando, por negligência, se deixa de se aprender e aprofundar as
verdades de fé, cria-se o pecado da cegueira intelectual que faz a fé ficar
débil até morrer.
Entre os inúmeros dons recebidos de Deus, a inteligência é um
dos maiores
Por outro lado, o embotamento da mente, causado por uma falta
de vivência intelectual em qualquer área, não é menos danoso ou menos
problemático. Se aquele que desenvolve toda a sua capacidade intelectual em
várias áreas, menos no conhecimento da fé, peca, aquele que não a desenvolve
também peca. Entre os inúmeros dons recebidos de Deus, a inteligência é um dos
maiores. Ela dá-nos a capacidade de ver e compreender o mundo, além de receber
e entender a revelação de Deus que contém as verdades de fé. Aquele que embota
(debilita, insensibiliza) a sua própria inteligência, não só destrói as suas
capacidades de viver melhor em sociedade, como também se priva de aprender a
revelação de Deus.
Procurando corrigir-se destes erros voluntários – isto é, os
pecados – e involuntários, que são os vícios adquiridos por maus hábitos,
conseguimos preservar a fé dada gratuitamente por Deus.