Prudência, um grande bem
Prudência não é medo; é discernimento. Ela não só nos manda ficar, mas também nos manda ir
“E se alguém ama a justiça, os seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida. Se alguém deseja uma vasta ciência, ela sabe o passado e conjectura o futuro; conhece as subtilezas oratórias e revolve os enigmas; prevê os sinais e os prodígios, e o que tem que acontecer no decurso das idades e dos tempos. Portanto, resolvi tomá-la por companheira da minha vida, cuidando que ela será para mim uma boa conselheira, e minha consolação nos cuidados e na tristeza” (Sabedoria 8, 7-9).
A crise das virtudes
O mundo de hoje vive uma grande crise de virtudes. Cresce de modo assustador o grande problema dos vícios, seja de que natureza for: vícios de drogas, entorpecentes, cigarro, álcool, entre outros. Este tipo de conduta chegou a atingir um ponto tão alarmante que, muitas vezes, temos vergonha de fazer a coisa certa.
Não é permitido mais fazer o certo, pois, se estás certo, estás errado no conceito do mundo. Além dos vícios físicos, ainda há os vícios da alma. Pensa-se: “Perdoar? Imagine! Eu não preciso de ninguém!”
As pessoas acreditam que a virtude se deve dobrar diante do vício; mas é exatamente o contrário que precisa de acontecer: é o vício que se deve dobrar diante da virtude. Por isso, há uma necessidade muito grande da presença das virtudes em nossas vidas.
Prudência não é sinónimo de cautela
Vamo-nos aprofundar na que é considerada a ”mãe das virtudes”: a prudência. Não existe nenhuma outra coisa se esta não existe. Pensa-se que prudência é ser cauteloso, mas não é isso que as Sagradas Escrituras nos ensinam. Prudência não é sinónimo de cautela.
Prudência é ver e perceber o que realmente é importante; é perceber as coisas a partir da luz de Deus e dar a resposta certa no momento certo. Prudência não é medo; é discernimento. Ela não só nos manda ficar, mas também nos manda ir.
A sabedoria é fruto da prudência, as duas são iguais. Compreendemos o que é preciso fazer; vamos lá e fazemos. Mas para tomar essa atitude precisamos de ver.
As virgens prudentes
A prudência sabe contornar as situações. Vejamos o exemplo da “Parábola das Dez Virgens Prudentes”, que se encontra em Mateus 25, 1-13:
“O Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com as lâmpadas ao encontro do esposo. Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes. Tomando as lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas.
Tardando o esposo, todas elas adormeceram. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro. E as virgens levantaram-se todas e prepararam as lâmpadas. As tolas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso óleo, porque as nossas lâmpadas se estão a apagar.’ As prudentes responderam: ‘Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós.’ Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: ‘Senhor, senhor, abre-nos!’ Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: não vos conheço!’ Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora”.
Esta passagem bíblica mostra bem, o que é a prudência. Às vezes, mesmo que tenhamos vontade de sermos solidários, não podemos dar algo que nos vá faltar. Muitas vezes, damos de graça aquilo que nos era necessário. Prudência, é fruto de Deus, é virtude que vem do Alto.
Nem todo o bem, nos faz bem
É fácil saber o que tem de ser feito, a que horas fazer e como fazer? Claro que não. Para cada momento existe uma decisão diferente. Não é sempre a mesma resposta. Se tu dás sempre uma mesma resposta para todos os teus problemas, está na hora de seres mais prudente.
Escolher entre o que é bom e ruim no nosso mundo é fácil. Se eu te oferecer um pudim cheio de terra e um limpo, qual vais escolher? É claro que o pudim limpo. Ninguém quer o que não é bom.
Então, por que é que as pessoas escolhem coisas ruins? A escolha entre o bem e o mal é questão apenas de inteligência, lembra-nos Santo Inácio de Loyola.
Por isso, escolher entre o bem e o mal é questão apenas de sobrevivência. Mas a vida não está baseada, simplesmente, na escolha do bem. É preciso saber que nem todo o bem nos faz bem, nem todo bem faz bem a todos. Isto é o discernimento, é preciso saber escolher entre o bem e o bem devido.
Se olhamos, por exemplo, o açúcar, é um bem, é bom, mas não faz bem a quem é diabético, nem a quem recupera de cirurgias. Ou seja, nem todo o bem nos faz sempre bem.
Saber fazer as escolhas
Escolher entre o bem e o bem devido é questão de prudência. Para ser feliz é preciso saber romper com o apego das coisas que são incompatíveis com nossa vida. Esta é a vontade de Deus!
Precisamos de amadurecer para as escolhas mais difíceis como esta, escolher entre tudo que é bom e encontrar a vontade do Senhor, o bem que nos é devido. Acertar nessa escolha é questão de realização.
A prudência é a mãe de todas as virtudes e é nela que nos encontramos com o Senhor. Ser de Deus não é fácil, mas é possível. Pede a Jesus Cristo prudência para as tuas decisões. Amém.