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Porque é que nem todas as religiões são iguais?
- 14-01-2009
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Porque é que nem todas as religiões são iguais?
Pensa-se que todas as religiões são boas. Todas — salvo degenerações estranhas que são como a excepção que confirma a regra — levam o homem a fazer coisas boas, exaltam sentimentos positivos e satisfazem em maior ou menor medida a necessidade de transcendência que todos temos. No fundo, é igual uma ou outra. Além disso, por que não pode haver várias religiões verdadeiras?É certo que alguém tem que ser de espírito aberto, e apreciar tudo o que é positivo que há nas diversas religiões, que é substancialmente diferente que dizer que existem várias religiões verdadeiras: se somente há um Deus, não pode haver mais que uma verdade divina, e uma só religião verdadeira.
A sensatez na decisão humana sobre a religião não estará, portanto, em escolher a religião que a um goste ou lhe satisfaça mais, mas sim em acertar com a verdadeira, que só pode ser uma. Porque uma coisa é ter uma mente aberta e outra, bem distinta, pensar que cada um pode fazer uma religião a seu gosto, e não se preocupar muito posto que todas vão ser verdadeiras. Já disse Chesterton que ter uma mente aberta é como ter a boca aberta: não é um fim, a não ser um meio. E o fim — dizia com senso de humor — é fechar a boca sobre algo sólido.
Como cristão que sou, acredito que o cristianismo é a religião verdadeira. Porque se a gente não acredita que a sua fé é a verdadeira, o que lhe acontece então, simplesmente, é que não tem fé.Logicamente, acreditar que o cristianismo é a religião verdadeira não implica impô-la a outros, nem menosprezar a fé de outros, nem nada parecido. É mais, a fé cristã bem entendida exige esse respeito à liberdade de outros.Agora bem, a adesão à verdade cristã não é como o reconhecimento de um princípio matemático. A revelação de Deus desdobra-se como a vida mesma, e toda a verdade parcial não tem por que ser um completo engano.Muitas religiões terão uma parte que será verdade e outra que conterá enganos (excepto a verdadeira, que, logicamente, não contem enganos). Por esta razão, a Igreja Católica — recordando o Concílio Vaticano II — nada rechaça do que as outras religiões têm de verdadeiro e santo. Considera com sincero respeito os modos de trabalhar e de viver, os preceitos e doutrinas que, embora discrepem em muitos pontos do que ela professa e ensina, não poucas vezes reflectem um brilho daquela Verdade que ilumina a todos os homens.
E porque é que a religião cristã é a verdadeira?
Para responder esta pergunta, pode-se contribuir com provas sólidas, racionais e convincentes, mas nunca serão provas esmagadoras e irresistíveis. Além disso, nem todas as verdades são demonstráveis, e menos ainda para quem entende por 'demonstração' algo que tem que estar atado infalivelmente à ciência experimental.Digamos — não é muito académico — que é como se Deus não nos queria obrigar a acreditar. Deus respeita a dignidade da pessoa humana, que Ele mesmo criou, e que deve reger-se por sua própria determinação. Deus nunca coage (além disso, se fosse algo tão evidente como a luz do sol, não faria falta demonstrar nada: nem tu estarias a ler isto nem eu agora a escrever).Para acreditar, faz falta uma decisão livre da vontade: a fé é um dom de DeusE um acto livre. E ninguém se rende diante de uma demonstração não totalmente evidente (alguns, nem sequer diante das evidentes), se houver uma disposição contrária da vontade.Neste caso, sugiro, para compreensão da leitura, comentar algumas das razões que podem fazer compreender melhor porque é que a religião cristã é a verdadeira. Não pretendo fazê-lo de modo exaustivo nem tremendamente rigoroso: trata-se simplesmente de lançar um pouco de luz sobre o assunto, resolvendo algumas dúvidas, ou fortalecendo convicções que já se têm: só tento fazer mais verossímil a verdade.Um surpreendente desenvolvimentoPodemos começar, por exemplo, por considerar o que tem suposto o cristianismo na história da humanidade. Pensem como, nos primeiros séculos, a fé cristã abriu caminho no Império Romano de forma prodigiosa. O cristianismo recebeu um tratamento tremendamente hostil. Houve uma repressão brutal, com perseguições sangrentas, e com todo o peso da autoridade imperial em seu contrário durante muitíssimo tempo (uns dois séculos).É necessário pensar também que a religião então predominante era uma amálgama de cultos idolátricos, enormemente indulgentes, em sua maior parte, com todas as debilidades humanas. Tal era o mundo que deviam transformar. Um mundo cujos dominadores não tinham interesse algum em que trocasse. E a fé cristã abriu passo sem armas, sem força, sem violência de nenhuma classe. E, embora pese a essas objectivas dificuldades, os cristãos eram cada vez mais.Obter que a religião cristã se enraizasse, estendesse e perpetuasse; obter a conversão daquele enorme e poderoso império, e trocar a face da terra desta maneira, e tudo a partir de doze pregadores pobres e ignorantes, deficientes de eloquência e de qualquer prestígio social, enviados por outro homem que havia sido condenado a morrer numa cruz, que era a morte mais vergonhosa daqueles tempos... Sem dúvida para o que não acredita nos milagres dos evangelhos, pergunto-me se não seria este milagre suficiente. Algo absolutamente singular na história da humanidade.
Jesus de Nazaré
Entretanto, a pergunta básica sobre a identidade da religião cristã centra-se no seu fundador, em quem é Jesus de Nazaré.O primeiro traço característico da figura de Jesus Cristo —assinala André Léonard — é que afirma ser de condição divina. Isto é absolutamente único na história da humanidade. É o único homem que, em seu são julgamento, reivindicou ser igual a Deus. E recalco o de reivindicado porque, como veremos, esta pretensão não é em modo algum sinal de jactância humana, mas sim, ao contrário, vai acompanhada da maior humildade.Os grandes fundadores de religiões, como Confúcio, Lao-Tse, Buda e Maomé, jamais tiveram pretensões semelhantes. Maomé dizia-se profeta de Alá, Buda afirmou que tinha sido iluminado, e Confúcio e Lao-Tse pregaram uma sabedoria. Entretanto, Jesus Cristo afirma ser Deus.Os gestos de Jesus Cristo eram propriamente divinos. O que de entrada surpreendia e alegrava as pessoas era a autoridade com que falava, por cima de qualquer outra, até da mais alta, como a de Moisés; e falava com a mesma autoridade de Deus na Lei ou dos Profetas, sem se referir mais do que a si mesmo: "ouvistes o que foi dito..., Mas eu vos digo..." Através dos seus milagres manda sobre a doença e a morte, dá ordens ao vento e ao mar, com a autoridade e o poderio do Criador mesmo.Entretanto, este homem, que utiliza o eu com a audácia e a pretensão mais insustentáveis, possui ao mesmo tempo uma perfeita humildade e uma discrição cheia de delicadeza. Uma humilde pretensão de divindade que constitui um facto singular na história e que pertence à essência própria do cristianismo.Em qualquer outra circunstância — pense-se de novo em Buda, em Confúcio ou em Maomé — os fundadores de religiões lançam um movimento espiritual que, uma vez posto em marcha, pode desenvolver-se com independência deles. Entretanto, Jesus Cristo não indica simplesmente um caminho, não é o portador de uma verdade, como qualquer outro profeta, mas sim é Ele mesmo o objecto próprio do cristianismo.
Por isso, a verdadeira fé cristã começa quando um fiel deixa de se interessar pelas ideias ou a moral cristãs, tomadas em abstracto, e encontra Ele como verdadeiro homem e verdadeiro Deus.Quando se trata de discernir entre o verdadeiro e o falso, e em algo importante, como o é a religião, convém aprofundar o bastante. A religião verdadeira será efectivamente a de maior atractivo, mas para quem tem dela um conhecimento suficientemente profundo.
Pode alguém salvar-se com qualquer religião?
A verdade sobre Deus é acessível ao homem na medida em que este aceite deixar-se levar por Deus e aceite o que Deus ordena; e também na medida em que o homem queira procurar Deus rectamente. Por isso, é um barbarismo dizer que os que não são cristãos não procuram Deus rectamente. Há gente recta que pode não chegar a conhecer Deus com completa claridade. Por exemplo, por não ter conseguido libertar-se de uma certa cegueira espiritual. Uma cegueira que pode ser herdada da sua educação, ou da cultura em que nasceu, e neste caso, Deus que é justo, julgará a cada um pela fidelidade com que tenha vivido conforme as suas convicções. É preciso, logicamente, que ao longo da sua vida tenham feito o que esteja na sua mão para chegar ao conhecimento da verdade.
E isto é perfeitamente compatível com que haja uma única religião verdadeira.Nesta linha, a Igreja católica destaca que os que sem culpa da sua parte não conhecem o Evangelho nem a Igreja, mas procuram Deus com sincero coração e tentam na sua vida fazer a vontade de Deus, conhecida através do que lhes diz a sua consciência, podem conseguir a salvação eterna.E como assegura Peter Kreeft, o bom ateu participa de Deus precisamente na medida em que é bom. Se alguém não acreditar em Deus, mas participa de alguma medida do amor e a bondade, vive em Deus sem sabê-lo. Isto não significa, entretanto, que basta ser bom sem necessidade de acreditar em Deus para obter a salvação eterna. A pessoa não deve acreditar em Deus porque nos seja útil, ou porque nos permita sermos bons, mas sim, fundamentalmente, porque acreditam que Deus é verdadeiro. Nesta linha terá que nos mostrar um tanto cépticos diante de algumas crise de fé supostamente intelectuais, mas que no fundo escondem uma opção por fabricar uma religião própria, à medida dos próprios gostos ou comodidades. Quando uma pessoa faz uma interpretação acomodada da sua religião para rebaixar assim as suas exigências morais, ou não se preocupa em receber a necessária formação religiosa adequada a sua idade e circunstâncias, é bem provável que a pretendida crise intelectual bem possa ter outras origens.
Porque é que, então, a Igreja é necessária para a salvação do homem?
A Igreja peregrina é necessária para a salvação, pois Cristo é o único Mediador e o caminho de salvação, presente a nós no seu Corpo, que é a Igreja» (Lumen gentium, 14). Seguindo a Dominus Iesus, esta não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus; portanto, «é necessário, pois, manter unidas estas duas verdades, ou seja, a possibilidade real da salvação em Cristo para todos os homens e a necessidade da Igreja em ordem a esta mesma salvação» (Redemptoris missio, 9). Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, «a salvação de Cristo é acessível em virtude da graça que, até tendo uma misteriosa relação com a Igreja, não os introduz formalmente nela, mas sim os ilumina de maneira adequada na sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo; é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo» (ibid, 10).Certamente, as diferentes tradições religiosas contêm e oferecem elementos de religiosidade, que formam parte de «tudo o que o Espírito obra nos homens e na história dos povos, assim como nas culturas e religiões» (Redemptoris missio, 29). A elas, entretanto, não lhes pode atribuir uma origem divina nenhuma eficácia salvífica ex opere operato, que é própria dos sacramentos cristãos. Por outro lado, não se pode ignorar que outros ritos não cristãos, assim que dependem de superstições ou de outros enganos (cf. 1 Cor 10, 20-21), constituem mas bem um obstáculo para a salvação.Neste sentido, a Dominus Iesus é bastante clara quando afirma que com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus estabeleceu a Igreja para a salvação de todos os homens.
Esta verdade de fé não tira o facto de que a Igreja considera as religiões do mundo com sincero respeito, mas ao mesmo tempo exclui a mentalidade de indiferença «marcada por um relativismo religioso que termina por pensar que "uma religião é tão boa como outra"» (Redemptoris missio, 36). Como exigência do amor a todos os homens, a Igreja «anuncia e tem a obrigação de anunciar constantemente Cristo, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e em quem Deus reconciliou consigo todas as coisas» (Nostra aetate, 2).
Fonte ACI Digital