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Por que cometemos sempre os mesmos pecados?
- 05-03-2018
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Por que cometemos sempre os mesmos pecados?
O encontro pessoal com Cristo ressuscitado provoca uma transformação no nosso interior. O amor de Deus é responsável pelo nascimento de homens e mulheres novos, gerados na água e no Espírito (cf. Jo 3,3-5). As nossas aspirações passam a ser enveredar pelo caminho da santidade, procurar o arrependimento dos pecados, para não ofender o Senhor, que revelou quanto nos ama.
A esperança renasce, uma força contagia e, principalmente, um novo conceito de si, a partir da dignidade de filho de Deus, abrange os nossos corações. Mas, decorrido algum tempo, pode acontecer voltarmos a cometer alguns pecados. Mesmo com luta e vigilância, acabamos por cair, uma vez ou outra, nos mesmos erros. São os chamados “pecados de estimação”.
O que acontece connosco?
Temos a consciência e a inspiração de não pecar, então, por que nos percebemos fracos diante de certos impulsos? A primeira coisa a entender é que o Senhor criou o homem todo no bem, para o bem e pelo bem. “E viu (Deus) que tudo era muito bom” (Gn 1,31). São Tomás de Aquino diz que “o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo o bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina”. Ainda citando São Tomás de Aquino, ele diz: “O pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem”.
O que leva o ser humano a pecar sempre será o desejo de alcançar o bem que nele foi constituído. Pecamos quando usamos esses bens dons e talentos depositados em nós por Deus de forma incorreta. Este anseio pelo bem nunca será extirpado, e ainda que a forma de buscar alcançá-lo seja errada “o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar-se, mas não consegue destruir o senso moral até à raiz” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1865). O dom nunca morrerá, mesmo que o estejamos a usar para o pecado. “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11,29).
Se todas as nossas faculdades humanas foram criadas para o bem, mas, por nossa livre iniciativa ou porque aprendemos as coisas de forma pecaminosa, nós ainda não conseguimos livrar-nos de uma prática ruim, significa que estamos a lidar com um traço da nossa personalidade criada para o bem; mas, durante a história pessoal, foi habituado na forma de pecado e não de virtude.
Aqui entra satanás, o autor do pecado com as suas artimanhas. A tentação será maior numa área do que noutra, pois o demónio conhece as nossas fraquezas, ou melhor, conhece os nossos traços e quer acabar com o que temos de melhor. Jesus, no deserto, foi tentado justamente na Sua mais sagrada particularidade, naquilo que só Ele é: “Se és Filho de Deus!” (Mt 4,3-6). De Job, o demónio pediu contas do seu maior mérito: a fé (cf. Job 1,21; 2,9-10).
Também a nossa maior luta será nas maiores características do nosso ser, no que diz respeito ao núcleo íntimo de cada um. É por isso que voltamos à prática do pecado, pois foi afetado um traço da sacra individualidade do ser, está selado em nós e não há como lançar fora o que somos. Exemplo disso: uma grande habilidade de comunicar-se, em vez de ser usufruída para levar a Boa Nova pode estar a ser desenvolvida para a maledicência.
Se uma fraqueza persiste, há ali um forte traço da nossa humanidade. É um valioso dom, mas não o percebemos como riqueza, pois estamos a lutar para o sufocar, já que está manifesto na forma de pecado. O homem que enterrou o seu único talento, no fim perdeu-o, exatamente por não ter investido corretamente (cf. Mt 25, 14-30). O livro “Pecados e Virtudes Capitais”, do professor Felipe Aquino, salienta que os erros e os bens capitais têm todos uma mesma raiz, somente que um é inverso do outro.
O que se deve fazer agora é direcionar essas forças para o bem, descobrindo em que ponto nos apropriamos, aprendemos ou canalizamos essa característica individual de forma errada e potencializá-la de maneira que venha à tona toda a riqueza que o Altíssimo deu a cada um de nós.
Também é essencial não lutarmos sozinhos! Tanto para detectar em que ponto da nossa vida o dom se foi inclinando para o pecado como para bem canalizá-lo será importante a ajuda de uma outra pessoa. Procura auxílio: biológico (se for patologia ou vício), psicológico e espiritual.
Nesta descoberta, que é permeada pela luta, acima de tudo devemos ter paciência connosco. Sendo humanos, somos limitados e sempre conviveremos com as nossas misérias, mas, não nos podemos render a elas. A busca da santidade não é atingir a perfeição, mas lutar contra as nossas fraquezas. Nisto o ser humano avança, torna-se humanamente melhor e mais próximo de Deus.
São Francisco de Sales ensinava: “Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, com mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio de um amor brando, sossegado e terno”.
Caíste? Levanta-te! Não te conformes com o pecado nem desanimes. Tu vais vencer! O Catecismo da Igreja Católica afirma, no número 943: “os leigos têm o poder de vencer o império do pecado em si mesmos e no mundo”. Além de o Senhor nos dotar com a força interior, que é mais potente do que as nossas faltas, ainda podemos recorrer à Sua graça. “Mas Jesus disse: Basta-te a minha graça”.
Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, necessidades, perseguições e no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. “Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (II Cor 12,9a-10).
A graça de Deus também se manifesta na nossa pobreza. Quando nos percebemos impotentes diante de um facto, só podemos recorrer à Misericórdia Divina, que, neste mundo, se manifesta por excelência no sacramento da confissão. Confessar-se será sempre a melhor via de libertação.