Temas de Formação
PECADOS: Quais as suas raízes, como somos tentados e como evitá-los.
- 28-02-2020
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Antes disso, o
pecado já existia, não por natureza, mas pela má vontade dos anjos decaídos, os
demónios.
Foram eles quem, por
inveja, se aproximaram do primeiro homem para o tentar.
Até então, Deus tinha-o
colocado num jardim de benesses, com múltiplas possibilidades de árvores e
animais para comer e inúmeras coisas para fazer, tendo proibido apenas uma coisa:
“Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal não deves comer, porque, no dia em que dela comeres, com certeza
morrerás”.
Por medo da morte e
pelo aviso divino, Adão e Eva não tinham comido da árvore, até que o demónio os
tentou, invertendo o apelo de Deus e transformando em atractivo aquilo que era
proibido: “De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em
que comerdes da árvore, os vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus,
conhecedores do bem e do mal”.
Seduzidos pelo
maligno, os primeiros pais pecaram e a desordem entrou na humanidade.
O relato do livro do
Génesis sublinha um facto de notável importância: quando a serpente apresentou
o fruto da árvore à mulher; ela “viu que seria bom comer da árvore, pois era
atraente para os olhos e desejável para obter conhecimento”.
Estas três
realidades – “comer”, “atraente para os olhos” e “desejável para obter
conhecimento” – perpassam toda a história da humanidade: representam a
tendência do homem para o prazer, para possuir as coisas e para o poder, essa
última entendida como uma espécie de astúcia operativa.
São João entendeu
bem isto, quando escreveu que “tudo o que há no mundo – a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza [a soberba da vida]
– não vem do Pai, mas do mundo”.
.
E o próprio Senhor,
no deserto, foi tentado pelo demónio com essas três matérias.
Primeiro, Satanás
propôs-Lhe que transformasse pedras em pão, para comer. Depois, “mostrou-lhe,
num relance, todos os reinos da terra” e prometeu dar-Lhe tudo aquilo, se Se
prostrasse diante dele. Por fim, tentou Jesus a fazer uma demonstração de
poder: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo”.
Jesus venceu as três
tentações, mostrando ao homem que é possível, com a Sua graça, vencer a carne,
decaída pelo pecado original.
Mas, que são essas
três coisas que com razão se podem chamar “raízes” do pecado? Trata-se de três
libidos.
O que Eva perdeu por
orgulho, Maria Santíssima ganhou por humildade; a primeira, a libido amandi, é
o apetite desordenado que “tem por objecto tudo o que pode fisicamente
sustentar o corpo para a conservação do indivíduo, alimento, bebida, etc., ou
para a conservação da espécie, as coisas venéreas”.
.
O objecto desta
concupiscência é tanto a gula como o sexo desordenado, que é o vício da
luxúria.
É curioso que, na
mesma época em que se vê o fenómeno da anorexia, de meninas que morrem de fome
porque não querem comer; percebe-se uma humanidade que busca o prazer venéreo,
mas não quer assumir a responsabilidade dos filhos.
As pessoas querem
comer, mas não querem engordar; querem fazer sexo, mas não querem estar abertas
à vida.
A segunda, a libido
possidendi, “é concupiscência animal, e tem por objecto as coisas que não se apresentam
para a sustentação e o prazer da carne; mas que agradam à imaginação ou a uma
percepção semelhante, por exemplo, o dinheiro, o enfeite das vestes, e outras
coisas deste género”.
É esta espécie de
concupiscência que se chama concupiscência dos olhos.
A terceira é a
libido dominandi. É a soberba fundamental de querer ser igual a Deus, como fez
Satanás.
Enraizada no
irascível, esta libido deseja o bem enquanto algo árduo: “Quanto ao apetite
desordenado do bem difícil, pertence à soberba da vida, sendo que a soberba é o
apetite desordenado da excelência.”
É para combater estas
três causas do pecado que se praticam as três obras quaresmais:
O jejum, a esmola e
a oração;
E também os três
votos evangélicos:
A castidade, a
pobreza e a obediência.
Também aqui se
identificam os nossos relacionamentos com o outro, com as coisas e connosco
mesmos.
Se abusamos de outra
pessoa, usando-a como objecto para obter prazer, estamos a ceder à
concupiscência da carne; se idolatramos as coisas, pensando estar nelas a nossa
felicidade, cedemos à concupiscência dos olhos; e se fazemos de nós mesmos
deus, estamos na soberba da vida.
Deus criou o homem
para que ele participasse da Sua divindade, mas ele deveria sê-lo pela graça,
não pelas suas próprias forças.
Quando Eva “se apega
ciosamente ao ser igual a Deus”, ela rouba: as suas mãos fecham-se para pegar
para si.
As mãos de Cristo
são o contrário das mãos de Eva: abrem-se para dar. Enquanto Eva quis, Cristo
tudo entregou.
Enquanto as mãos de
Eva se voltam ao lenho para pegar, as de Cristo deixam-se pregar ao lenho da
Cruz para dar.
Da primeira árvore vêm-nos
a desgraça e a morte; da segunda, a graça e a vida, a nossa salvação.