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O que significam os misteriosos símbolos, números e cores do Apocalipse?
- 04-06-2020
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Do trono ao cordeiro imolado, do branco ao escarlate, do 3,5
ao 144.000 – passando pelo famigerado 666
Símbolos misteriosos, cores e números nunca escritos ao
acaso. Quem fala deles é Ignacio Rojas Gálvez, autor do livro “I simboli
dell’Apocalisse” (“Os símbolos do Apocalipse”, ainda sem tradução ao
português).
Rojas afirma que, no livro do Apocalipse, São João usa os
símbolos para nos fazer compreender alguns aspectos da Revelação divina. O
autor do Apocalipse apresenta um mundo que foge à lógica e à experiência humana
– e são incontáveis os estudos de exegetas que tentaram “traduzir” as mensagens
do Apóstolo.
Símbolos
Entre os símbolos evocados por João, a dicotomia Céu-Terra
indica espaços onde se desenvolve a liturgia e a luta entre o bem e o mal; o
trono representa Deus; o Cordeiro em pé, imolado, é Cristo, morto e
ressuscitado; os vinte e quatro anciãos são a totalidade que louva a Deus; um
rolo com sete selos é o plano de Deus para a história e para a humanidade; o
lago é um símbolo negativo: o lugar da rejeição de Deus.
Animais
Em Apocalipse 4,6-7, João cita quatro seres viventes cheios
de olhos por diante e por trás. O primeiro ser assemelhava-se a um leão; o
segundo, a um bezerro; o terceiro tinha aspecto como de homem; o quarto era
semelhante a uma águia que voa. Os quatro seres viventes têm seis asas cada um
e, ao seu redor e por dentro, são constelados de olhos. Estes seres vivos
representam a Criação, a vida que flui de Deus. Cada animal simboliza a sua
qualidade fundamental: o leão, a realeza; o touro, a força; a águia, a
velocidade e a altura. Já um animal negativo como o dragão evoca o poder terrível
do mal.
Cores
João não vê a realidade em preto e branco, e não é casual o
uso de uma cor em vez de outra. O detalhe cromático nas descrições revela o
desejo do autor de expressar através das cores uma forte carga emocional. O
autor pinta um universo caracterizado principalmente por cinco cores. A chave
de interpretação das cores é determinada pela sua utilização no conjunto da
obra. Os atributos que acompanham os personagens e a sua relação com o bem e o
mal propõem-nos uma forma de interpretar essas cores.
CORES POSITIVAS: Os tons positivos são o branco, simbolizando
a transcendência e a vitória do Ressuscitado e dos que triunfam com Ele, e o
dourado, o ouro puro, reservado por João à liturgia, para simbolizar a
proximidade do mistério divino.
CORES NEGATIVAS: Três outras cores representam a face
negativa da história: o vermelho escarlate simboliza o demoníaco e o violento
(por exemplo, o dragão); o verde amarelado representa a fragilidade da vida; e
o preto indica a miséria, as ameaças e a injustiça social.
Números
O número mais presente em todo o livro e o preferido pelo
autor é o sete, que simboliza a totalidade, a plenitude, na esteira das tradições religiosas ancestrais. É,
portanto, bastante lógico que o três e meio, metade do sete, indique a parcialidade
e a transitoriedade. Um período de três anos e meio, por exemplo, é um tempo
definido e concreto, que tem um fim certo. O número quatro, que indica os
quatro seres viventes, é o número da totalidade cósmica e da acção universal de
Deus, posta em prática por meio dos anjos que provêm dos quatro ventos.
666
O número seis foi
o que provocou o maior debate desde os inícios. A sua relação com o número da
besta e o convite enigmático ao vidente para o decifrar deu origem às mais
diversas interpretações. Destaque-se o texto seguinte: “Eis a sabedoria. Quem
tem entendimento calcule o número da besta: é número de homem, e o seu número é
seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13,18).
A modalidade de interpretação mais antiga deste número é
conhecida pelo nome de “gematria”, uma antiga arte com a qual, através da
análise numérica de um texto ou de uma simples palavra, se tentam deduzir leis
e correspondências. A cada letra corresponde um valor numérico; por exemplo, A tem o valor 1 e Z vale 900. Aplicar a gematria ao número 666
significa descobrir um nome cuja soma das letras, hebraicas, gregas ou latinas,
corresponda a este valor. Com a gematria, vários nomes foram “calculados” e a
besta foi identificada com diversos personagens históricos. Ao longo dos
séculos, as interpretações da simbologia numérica 666 fizeram jorrar rios de
tinta e sugeriram figuras históricas de todos os tipos, de Nero a Stalin,
passando por Domiciano, Hitler, Martinho Lutero e até cada papa reinante, só
para citar alguns.
Actualmente, a interpretação mais aceita é a que vê o número
6 como defeituoso, como uma “imperfeição clamorosa”; o símbolo, portanto, seria
uma forma de manifestar que a besta é vulnerável.
12 e 1.000
O número doze
indica plenitude, mas com certa
nuance social: designa o povo de Deus representado no passado pelas doze tribos
de Israel e no presente pelos doze apóstolos do Cordeiro. A sua soma simboliza
a plenitude da revelação de Deus na história: assim, o Antigo e o Novo
Testamentos são representados, juntos, pelo número vinte e quatro. Já o número mil indica a totalidade divina e a plenitude da ação de Deus. O tempo é
sacralizado graças à presença e à acção de Cristo.
144.000
Até as operações matemáticas são importantes para a
compreensão de algumas cifras. Por exemplo, 144.000, o famoso número dos
salvos, pressupõe a operação 12 × 12 × 1000, ou seja: o povo de Deus na sua
totalidade (doze vezes doze), guiado no tempo (1000) pela plenitude da acção
salvífica de Cristo.