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O primeiro passo para saborear o gosto da oração
- 24-02-2023
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Gloriosa, mas às vezes difícil, é a oração pessoal! Quem
nunca sentiu frustração ao tentar rezar bem? Aqui está uma dica para dar o
primeiro passo
“Oração pessoal? Não
sei como fazê-la bem”, admite Agnès, uma mãe de 37 anos de idade, mãe de dois
jovens rapazes de Lille. Ela participa regularmente nas vigílias de oração.
Como membro de um grupo paroquial que cuida de pessoas em situações precárias,
ela está acostumada a organizar momentos de recolhimento ou a juntar-se a
outros em oração.
No entanto, ela está sempre muito mais à vontade cantando ou partilhando
uma leitura do Evangelho do que rezando sozinha. “Acho difícil rezar sozinha,
pela manhã quando me levanto, e à noite antes de ir dormir, ou durante as
vigílias quando há tempo para a oração individual. É difícil para mim, sinto
que não sei como fazer isso. Todas as minhas tentativas parecem ser rígidas,
enquanto sinto que a oração deve ser um tempo real passado com Deus”.
Como a Agnes, há muitas pessoas que acham a oração pessoal
difícil. Como dar o primeiro passo? Como finalmente saboreia o gosto da oração
pessoal? Por onde começar? E, na verdade, qual é o lugar da oração: a alma, a
mente ou o coração? Onde se realiza o encontro pessoal com Deus?
O coração, o lugar da oração
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “é o homem todo que
ora. Mas para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às
vezes da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do coração (mais de mil
vezes). É o coração que ora”. (2562)
Mas aqui devemos ser cuidadosos. Sim, é o coração que é o
lugar da oração, mas “na linguagem da Bíblia, que é a linguagem de Jesus, o
‘coração’ não é o lugar do sentimento”. “É o centro da pessoa”, explica o irmão
Carmelita Dominique Sterckx, autor de “L’oraison, petit guide pratique”
(Edições Emmanuel). É “o nosso centro oculto, inapreensível, quer para a nossa
razão quer para a dos outros: só o Espírito de Deus é que o pode sondar e
conhecer”, diz o Catecismo. Este coração tem várias funções: é ao mesmo tempo o
lugar da decisão, da verdade, do encontro e finalmente o lugar da Aliança:
“O lugar da decisão, no mais profundo das nossas tendências
psíquicas. É a sede da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do
encontro, já que, à imagem de Deus, vivemos em relação: é o lugar da aliança”.
(CIC 2563)
Como descer ao coração?
Mas, em termos concretos, como podemos fazer a oração pessoal
quando pensamentos errantes dominam a nossa mente? Se é natural ser invadido
pelos pensamentos, a oração não pode ser apenas uma actividade da mente, pois
é, acima de tudo, um encontro. “Um verdadeiro encontro entre as pessoas não se
faz com pensamentos piedosos, ou recitando o Pai Nosso sem se dirigir ao Pai”.
Devemos ouvir a palavra de Jesus:
“Estas pessoas honram-me com os lábios, mas os corações estão
longe de mim” (Mc 7, 6)
A oração não é apenas uma questão de sentimento, mesmo que
seja bom. “Podemos ter sentimentos fortes em relação a alguém (simpatia ou
antipatia) sem entrar num relacionamento com ele”, explica o irmão Dominique
Sterckx. Na prática, é bom perguntar: estou a rezar no nível do meu pensamento
ou no nível do meu coração?
Os antigos monges são claros: “Deixe a oração descer ao seu
coração”
Os antigos monges são claros: “Deixe a oração descer ao seu
coração”, insiste Dominique Sterckx. Se não for um movimento espontâneo, pode
ser aprendido. Naturalmente, às vezes é preciso coragem para ir até ao mais
íntimo de si mesmo. Se este caminho é difícil, às vezes seco, então a oração
ganha em profundidade e verdade. Não há um método preciso para conseguir isto,
porque um encontro não se enquadra na estrutura de um meio eficaz que sempre
leva a um resultado. O que é importante é a forma como te aproximas do outro: estás
atento à outra pessoa, ou estás focado na tua própria pessoa, nos teus
pensamentos, preso em preocupação consigo mesmo?
Basta dizer: “Senhor, Tu estás aqui comigo”
É essencial tomar cuidado para entrar em oração, o que não é
feito num instante. Às vezes leva três, cinco ou dez minutos para deixar o
nível cerebral e descer ao nível do “coração”. Por isso, o primeiro passo é
tomar consciência d’Aquele a quem nos dirigimos, e da sua presença. “Quer seja
Cristo, o Pai, o Espírito Santo ou Deus sem precisão, Ele está presente, muito
próximo, como Ele nos revela na sua Palavra”, explica o irmão carmelita. Descer
para rezar no coração é entrar em contacto através de um acto de fé e não
tentando “sentir a Sua presença”. Podemos dizer-lhe de forma simples, mas atenta:
“Senhor, Tu estás aqui comigo”.