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O problema da ditadura do relativismo
- 01-06-2021
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O Papa emérito Bento XVI usou esta expressão para explicar o
regime filosófico que se deseja impor no mundo. Há duas formas de ditadura: das
armas e da cultura. Esta última é muito pior, porque dura muito mais tempo. A
expressão relativismo mostra a ideia central, isto é, a ausência da verdade
absoluta, renascimento de uma ideologia antiga. É uma ditadura, porque deseja
proibir-te de defenderes o contrário. Tudo passa a ser, então, relativo,
excepto o próprio relativismo, que é um absurdo.
Ora, se tudo é relativo e não existe a verdade objectiva,
então, a própria afirmação “tudo é relativo” ou “não existe verdade absoluta”
também não podem ser tidas como verdadeiras. Além do relativismo ser um grave
erro, que destrói as bases da civilização, o pior de tudo é não admitir que
alguém dele discorde. Esta triste mentalidade, na verdade, é uma lógica muito
esperta e maldosa daqueles que desejam eliminar a religião. Se a liberdade é
absoluta para pensar no que eu quero, então, todas as afirmações são igualmente
aceitas, e tu metes tudo no mesmo saco, mentiras e verdades.
A incoerência nota-se quando se percebe que os defensores da
verdade absoluta são perseguidos e caluniados; ora, então “a liberdade não é
tão absoluta nem a verdade tão relativa”, como disse o advogado Rafael Vitola.
Ele afirma, com razão, que “o que está por detrás disto não é o amor à
liberdade, mas o ódio à verdade. Sob a capa de uma liberdade absoluta – que,
aliás, seria imoral –, esconde-se a mais terrível das tiranias. Na realidade,
nem os que propugnam a verdade relativa nela acreditam. Pensam, no fundo, que
ela é absoluta – pois negam a liberdade aos seus opositores. A sua agravante é
a hipocrisia. E a hipocrisia – atroz e autoritária – é a sua arma principal”.
O relativismo está na moda?
É a luta do bem contra o mal; a luta da verdade contra a
mentira, da luz contra as trevas. Na homilia que o então Cardeal Joseph
Ratzinger, hoje Papa emérito Bento XVI, pronunciou na Missa “Pro Eligendo
Pontífice”, celebrada no dia 18 de Abril de 2005, nas vésperas da sua eleição
como Papa, disse:
“Quantos ventos de
doutrina conhecemos nestas últimas décadas”, quantas correntes ideológicas,
quantas modas do pensamento. A pequena barca do pensamento de muitos cristãos,
com frequência, fica agitada pelas ondas, levadas de um extremo a outro: do
marxismo ao liberalismo, até ao libertinismo; do colectivismo ao individualismo
radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao
sincretismo, etc. Em cada dia, nascem novas seitas e realiza-se o que diz São
Paulo sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir no erro
(cf. Efésios 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é etiquetado
com frequência como fundamentalismo.
Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar «guiados
por qualquer vento de doutrina», parece ser a única atitude que está na moda.
Vai-se construindo uma “ditadura do relativismo”, que não reconhece nada como
definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e as suas vontades”.
“Nós temos outra
medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro
humanismo. «Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e da última
novidade; adulta e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com
Cristo. Esta amizade abre-nos a tudo o que é bom e dá-nos a medida para
discernir entre o verdadeiro e o falso, entre o engano e a verdade”.
Bento XVI e São João Paulo II
Noutra ocasião, na visita à Polónia, na Praça da Vitória
(Pilsudski) de Varsóvia, o Papa emérito Bento XVI convidou os 300 mil fiéis que
participaram na Eucaristia, a “não cair na tentação do relativismo ou da
interpretação subjectiva e selectiva da Sagrada Escritura”, denunciando a
tentativa da parte de “pessoas ou ambientes falsificarem a Palavra de Deus e
retirar do Evangelho as verdades” segundo eles, “demasiado incómodas para o
homem moderno”.
O Papa anterior, São João Paulo II, foi à Polónia para
combater o comunismo. Bento XVI voltou lá para combater o “relativismo
religioso” e a “ditadura do relativismo”, as novas bases do secularismo. Para
este relativismo, que nega que possa haver uma verdade absoluta e permanente,
ficando por conta de cada um definir a “sua” verdade e aquilo que lhe parece
ser o seu bem, “a pessoa torna-se a medida de todas as coisas”, como dizia o
filósofo grego Protágoras.
Evidentemente, a Igreja rejeita isto, porque há verdades que
são permanentes. As verdades da fé e da moral cristã são perenes, porque foram
dadas por Deus. Cristo afirmou solenemente: “Eu sou a Verdade” (Jo 14,6); “a
verdade vos libertará” (Jo 8,32); e Ele disse a Pilatos que veio ao mundo exactamente
“para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37). São Paulo disse que Deus quer que
todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), e que “a
Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3,15).
O dicionário da Verdade
Ora, se negarmos que existe a verdade objectiva e perene, o
Cristianismo fica destruído desde a sua raiz. O Evangelho é o dicionário da
Verdade. Segundo o relativismo, no campo moral não existe “o bem a fazer e o
mal a evitar”, pois o bem e o mal, são relativos. Isto destrói completamente a
moral católica que moldou o Ocidente e a nossa civilização. Ele ignora a lei
natural, que é a lei de Deus colocada na consciência de todo o ser humano,
desde que ele dispõe do uso da razão.
Por causa do relativismo moral, os governantes propõem leis
contra a Lei Natural que Deus colocou no coração de todos os homens. Assim, a
palavra do legislador humano vai superando a do Legislador Divino, que é a
mesma para todos os homens. Quem não estiver dentro do “politicamente correcto”
é anulado, desprezado, zombado com cinismo e perseguido.
O relativismo derruba as normas morais válidas para todos os
homens. Ele é ateu, ele vê, na religião e na moral católicas, um obstáculo e um
adversário, pois Deus é visto como um escravizador do homem e a moral católica
destinada a tornar o homem infeliz. O relativismo actual coloca a ciência como
uma deusa que vai resolver todos os problemas do homem; e que está acima da
moral e da religião, mas esquece-se de dizer que o homem nunca foi tão infeliz
como hoje; nunca houve tantos suicídios, nunca se usou tanto antidepressivo e
remédio para os nervos; nunca se viu tanta decadência moral, destruição da
família e da sociedade.
Uma nova “teologia liberal”
O relativismo é embalado também pelo ceticismo e
utilitarismo, que só aceita o que pode ajudar a viver num bem-estar hedonista
aqui e agora. Há uma aversão ao sacrifício e à renúncia. Infelizmente, este
perigoso relativismo religioso, que tudo destrói, penetrou sorrateiramente
também na Igreja, especialmente nos seminários e na teologia. Isto levou São
João Paulo II a alertar os bispos na Encíclica Veritatis Spendor, de 1992,
sobre o perigo deste relativismo que anula a moral católica. No centro da
“crise”, o Papa viu uma grave “contestação ao património moral da Igreja”.
Dizia São João Paulo II: “Não se trata de contestações
parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do património
moral. Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a
universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se
simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja” (n. 4).
E chamava a atenção para o facto grave de que “a discordância
entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas está a
acontecer mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas”. (idem) No centro da
“crise moral” enfatizada pelo Pontífice, ele revela qual é a sua causa – o
homem quer ocupar o lugar de Deus: “A Revelação ensina que não pertence ao
homem o poder de decidir o bem e o mal, mas somente a Deus” (Gen 2,16-17). Não
é lícito que cada cristão queira fazer a fé e a moral segundo o “seu” próprio
juízo do bem e do mal.
É por causa deste relativismo moral que encontramos, uma vez
ou outra, religiosos e sacerdotes que aceitam o divórcio, o aborto, a pílula do
dia seguinte, o casamento de homossexuais, a ordenação de mulheres, a
eutanásia, a inseminação artificial, a manipulação de embriões, o feminismo e outros
erros que o Magistério da Igreja condena explicitamente.