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No Céu, iremos reconhecer os nossos parentes?
- 28-10-2019
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No Céu,iremos reconhecer os nossos parentes?
No Céu, ainda viveremos com os nossos parentes, assim comoNosso Senhor ainda é, e será eternamente, Filho da Virgem Santíssima
Há pessoas que desejariam saber o que acontece à família noCéu; isto é, se Deus ali a recompõe, e se a esperança de possuir os parentes napátria celeste é uma consolação de que se possa gozar sem receio, sem escrúpuloe sem imperfeição.
Deus coroou de glória e honra a família cristã, e faz brilharna sua fronte o reflexo dos três principais mistérios da nossa religião.
Vede por onde ela começa: Por um Sacramento que é o sinalsagrado da união do Verbo de Deus com a natureza humana, da união de JesusCristo com a sua Igreja, e da união do mesmo Deus com a alma justa.
Quem o disse? Um grande Papa, Inocêncio III. Vede por ondecontinua: “Maridos, amai as vossas mulheres como Jesus Cristo amou a sua Igrejae se entregou por ela; mulheres, amai os vossos maridos como a igreja ama aJesus Cristo e se entrega por Ele”.
Quem o disse? O grande apóstolo S. Paulo (Ef., 5, 25).
Vede por onde acaba: Pelas relações de origem que os anjosnos enviam, tanto elas nos recordam as da Trindade e nos procuram alegrias;porque o homem é do homem, como Deus é de Deus. Assim o disse um grande doutor,S. Tomás de Aquino.
Mas teria mais poder o sopro da morte para destruir esta obraprima, do que a virtude força para lhe conservar o esplendor?
E visto que o amor é forte como a morte (Cant., 8, 6),dar-se-á que a caridade de Deus, que criou a família; que a caridade do homemque lhe santifica o uso, não queira ou não possa refazer eternamente no Céu oque a morte desfez temporariamente na terra?
Tertuliano dizia: “Na vida eterna, Deus não separará aquelesque uniu na terra, cuja separação também não permite nesta vida inferior.
A mulher pertencerá ao seu marido, e este possuirá o que háde principal no matrimónio o coração. A abstenção e ausência de toda acomunicação carnal, nada lhe fará perder.
Não será tanto mais honrado um marido quanto mais puro for?”
Aquele que nos deu este preceito: Não separe o homem o queDeus uniu (Mat., 19, 6), deu-nos também o exemplo.
O Verbo contratou com a humanidade um divino desponsório:repudiou ele porventura a sua esposa subindo ao Céu? Pelo contrário, fê-laassentar consigo à direita do seu Eterno Pai.
O Homem Deus tem uma Mãe que é bendita entre todas asmulheres: dedignou-se Ele fazê-la participante da sua glória?
Depois de a associar à sua Paixão na terra, fê-la gozar dasalegrias da sua Ressurreição e dos esplendores do seu triunfo, atraindo ao Céu,após si, o seu corpo e a sua alma.
Jesus Cristo tinha dado a alguns homens o nome de irmãos:desconhecê-los-ia mais tarde? Não. Reconheceu os seus Apóstolos no martírio quesofreram por Ele, e fez-se reconhecer por eles no esplendor de que os cerca naCorte Celeste.
Mas o Filho de Deus que assim se dignou recompor, em redor desi, a sua família por natureza e por adopção; não quereria recompor da mesmaforma, no Paraíso, esta cristã e religiosa família, que é a vossa e também asua? Quer, sim, e o Céu oferecerá um espetáculo não menos tocante do queadmirável.
Assim como a primeira pessoa da Augustíssima Trindade,dirigindo-se à segunda, lhe diz: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Act., 13,33); e a segunda diz à primeira, com o acento da piedade filial: Meu Pai, Paijusto, Pai santo, guarda aqueles que me foram dados em teu nome para que sejamum, como nós somos um, vós em mim e eu neles (Jo., 17, 11, 22-25):
Assim também uma criatura humana se voltará para outra e lhedirá com ternura: Meu filho, minha filha! E do coração desta subirá paraaquela, esta exclamação de amor: Meu Pai!
Assim como o único Filho de Deus se regozija de poder dizer auma mulher: Vós sois minha Mãe; também inumeráveis escolhidos exultarão dealegria dizendo igualmente a uma mulher: Minha mãe!
Ora, se fosse verdade… que os membros da mesma família se nãoreconhecessem no Céu, Jesus não reconheceria já a sua Mãe nem seria reconhecidopor ela.
Um piedoso autor escrevia: “A Santíssima Virgem conservaintacta a sua autoridade maternal sobre o corpo do seu Filho, Nosso Senhor;mesmo depois da Ressurreição e Ascensão; porque o seu direito é perpétuo einalienável.
Depois de se ter deleitado, durante a sua vida mortal, nasubmissão a Maria; Jesus compraz-se ainda em mostrar-se seu filho nabem-aventurada imortalidade, e em reconhecê-la por sua Mãe.
Temos a prova disto nas numerosas aparições, em que ele setem feito ver sob a forma de um menino nos braços de sua Mãe; e se tem mesmodado a alguns Santos pelas suas virginais mãos.
Na glória, os parentes conservam um contínuo cuidado dos seuspróximos, e particularmente dos filhos, que são uma parte deles mesmos, e porassim dizer, outros eles.
É, pois, indubitável que a Mãe de Jesus tem sempre opensamento unido a tudo o que toca ao corpo do seu querido Filho; tanto naobscuridade do Sacramento como nos esplendores da glória.
Segue-o, do alto do Céu, com a vista e com o coração em todosos lugares em que se encontra presente na terra, pela consagração eucarística”.
A eterna duração desta maternal ternura e desta filialpiedade, explica e justifica o belo titulo de Nossa Senhora do Sagrado Coração,dado a Maria.
Nosso Senhor possui no mais alto grau o sentimento do amorfilial, um dos mais nobres do coração humano, e longe de se despojar deledepois da ressurreição e da sua gloriosa ascensão; tê-lo-ia dilatado,fortificado e elevado no seu mais sublime poder; se fosse permitido dizê-lo, noseu estado de bem-aventurada transfiguração, em que está assentado à direita deseu Pai. Assim, é fácil concluir que a augusta Virgem Maria possui sobre o seudivino Coração um soberano poder, de que ela é verdadeiramente a Senhora ou aRainha”.