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Não consigo vencer os meus pecados. O que fazer?
- 05-07-2025
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Há uma passagem muito significativa no Evangelho de São João que coloca cada um de nós diante de uma verdade tão crua e, ao mesmo tempo, tão libertadora, que nenhum de nós deveria ser displicente com relação a ela: “Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a lançar a pedra” (Jo 8,7)).
Oliver Clemente, um teólogo do oriente, certa vez afirmou: “Ávido de infinito, mas não menos ignorante dele, o homem ama-se e odeia-se infinitamente. Ele quer ser soberano e descobre que é escravo”. Por outras palavras, há uma luta incessante no interior do homem que busca o infinito, o céu, a beleza. Mas, este mesmo homem vê-se preso num cativeiro de difícil soltura. Assim, quanto mais ele se debate, tanto mais ele se magoa, sangra e, por fim, desiste, e esta é a realidade de qualquer ser humano.
Colocando a questão de maneira mais directa, todos nós precisamos de travar grandes lutas contra o pecado todos os dias. Cada um tem a sua luta particular. Quem de nós nunca experimentou o cansaço depois de ter lutado tanto e, mesmo assim, perdido a batalha para o pecado? Às vezes, é penoso reconhecer esta realidade, mas aquele que deseja muito a santidade precisará também de experimentar o amargor da derrota, mas, o mais importante vem agora: quem busca a santidade deve aprender a levantar-se, seja qual for o tamanho do tombo.
Tu sabes reconhecer os teus pecados?
Uma vez abatido, duas coisas são fundamentais. A primeira delas é não se comparar, em hipótese alguma, repito, em hipótese alguma, com ninguém. Nem com aqueles que julgamos mais pecadores, porque correríamos o risco de afrouxar a autorreprimenda justa da nossa consciência diante do mal cometido, nem nos comparar com aqueles que julgamos mais santos. Neste segundo caso, poderíamos anular as parcas forças que ainda possuímos. Portanto, este não é o momento de comparações, mas de reconhecimento sincero da fraqueza e do mal cometido.
Então, como vencer os pecados crónicos que, de tão entranhados em nós, julgamos que sejam incorrigíveis? Por mais que possa parecer estranho o que vou dizer agora, creio que a resposta seja: “Deixa de te preocupar com este teu pecado como se ele fosse o teu senhor, o que manda em ti”. Atenção, não se preocupar não significa relaxar a consciência e continuar a pecar indiscriminadamente, isso seria um mal ainda maior, um suicídio espiritual.
Tire o foco do pecado
No século VI, no deserto de Gaza, havia um grande e sábio ancião chamado Barsanulfo, e o seu jovem discípulo Doroteu. Este, por sua vez, era constantemente atormentado por um grave pecado e, mesmo tendo feito tudo o que estava ao seu alcance para o vencer, não tinha êxito. Certa vez, aflito e desanimado com esta situação, Doroteu procura o seu mestre para apresentar o seu caso. Barsanulfo, o mestre, disse-lhe que não mais se preocupasse com isto, e pediu que ele reforçasse a sua relação com Cristo pelo exercício da humildade, da caridade, da oração confiante e do humilde exercício ao próximo.
Então, o discípulo parou de gastar em vão as suas energias com a preocupação do pecado e começou a colocar em prática tudo o que seu mestre lhe tinha indicado. Assim, o coração do discípulo transformou-se, e com ele, pouco a pouco, toda a sua vida. Uma vida de intimidade com Deus faz reavivar, em cada pessoa, o homem interior e, naturalmente, acontece um despertar de consciência. Onde Deus entra, o pecado naturalmente vai embora. À medida que Deus vai entrando na nossa vida e nós vamos experimentando a vida d’Ele, a força do pecado vai se enfraquecendo. Então, retire o foco do pecado e coloque o foco em Deus.
Busque Deus
A primeira etapa da vida espiritual é a prática. O esforço humano, portanto, deve ser empregue neste ponto. Para ficar mais claro, o esforço humano deve ser investido no cultivo de uma vida espiritual que se alcança por meio da vivência diária de tudo o que o mestre Barsanulfo nos ensinou acima. Em matéria de vida espiritual, não há fórmula mágica nem romantismos.
Pensemos muito a sério nisto: quem está apenas a fugir do pecado está a fazer pouco, muito pouco. Quem está a buscar verdadeiramente a Deus, está a fazer muito.