LIÇÕES DA NATUREZA
Uma bela página, anónima, inspirada nas lições que a natureza nos dá, diz assim: “Vamos ser como o sol, que não possui nenhuma lista de endereços para enviar seus raios luminosos, ilumina e aquece o bom e o mau.
Há muita noite triste por aí pedindo quem lhe leve o sol da alegria. Vamos ser como a chuva que não tem mapas, com limites e fronteiras, para delimitar o campo a ser regado. Há tanta vida seca por aí esperando uma gota de ternura. Vamos ser como a fonte sempre ao alcance de qualquer um que estenda a mão, a mão ansiosa, em concha, preta ou branca, velha ou jovem, pouco importa.
A fonte é uma perene oferta borbulhante. Há tanta gente sequiosa por aí, pedindo quem lhes leve às águas da verdade. Vamos ser como a árvore, que não recolhe os galhos com os seus frutos, quando chega algum pobre e os seus ramos oferece a qualquer ave que queira fazer neles o seu ninho, quer seja canário de bom canto ou, talvez, um pardal barulhento. Há tanto sofrimento por aí, à procura de um terno abraço no qual possa aninhar a sua dor.
Vamos ser como a irmã terra, que não vê caras ou nomes, conta bancária ou posição social: acolhe em si, em si abraça e em si fecunda a semente que cai, sem nunca ver a cor da mão que a lança. Há tanta terra boa por aí, que espera quem lhe leve uma semente, semente de palavra e de boa acção. Vamos ser como as aves e as cigarras, que dão concertos grátis para todos, sem reclamar direitos de autor.
Há tanto desespero por aí, na espera ansiosa de quem lhes cante um hino de esperança. Vamos ser como a Lua e as estrelas, que ornam o céu e enfeitam a noite. Há tanta noite escura por aí, à espera da luz benfazeja do nosso amor. Então, vamos ser todos, vida fora, assim, gratuitamente, alegremente, eternamente: sol, terra, chuva, árvore, fonte, lua, estrelas e aves. Que alguém possa dizer que foi feliz, ao menos um segundo na sua vida, porque passamos pelo seu caminho.”
Sejamos puros e generosos como a natureza que saiu das mãos d’Aquele que é o Amor (1 Jo 4,8). Só seremos bons, de verdade, quando soubermos fazer o bem a todos, bons e maus; aos amigos e inimigos; aos pobres e aos ricos. E todos precisamos uns dos outros, continuamente. Certa vez o Papa Paulo VI disse que “ninguém é tão pobre que não tenha o que dar ou tão rico que não tenha o que receber”.
Quando Jesus nos quis ensinar em que consistia a “perfeição” cristã, disse: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol “igualmente” sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos… Deveis ser “perfeitos” como o vosso Pai celeste é perfeito (Mt 4,48). Jesus deixa claro em que consiste a perfeição: fazer o bem a todos indistintamente, gratuitamente.
Um homem torna-se adulto quando se abre para os outros e para o mundo. A sua grandeza mede-se pela sua capacidade de “comunhão” com os irmãos e com Deus. Somos todos irmãos: bons e maus, ricos e pobres, brancos e negros, judeus e árabes. É por isso que o cristianismo é baseado no “amor” e no “perdão”. É deles que se exaure toda a força da fé para transformar as pessoas e o mundo. O Senhor deixou bem claro esta identidade:
“Este é o meu preceito: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. É por isso que diziam os pagãos: “Vede como eles se amam!“ (Tertuliano, † 220 ).