Temas de Formação
João Paulo II: O desafio da depressão
- 30-01-2011
- Visualizações: 276
- Imprimir
- Enviar por email
João Paulo II: O desafio da depressão
João Paulo II aos participantes na Conferência Internacional sobre A depressão
1. “Manifesto o meu reconhecimento a quem se dedica ao serviço dos enfermos de depressão, ajudando-os a conservar a confiança na vida. Este reconhecimento estende-se também às famílias que acompanham com carinho e delicadeza o seu familiar querido.
2. As vossas sessões de trabalho mostraram os diferentes aspectos da depressão na sua complexidade: vão desde a enfermidade profunda, mais ou menos duradoura, até ao estado passageiro, ligado a acontecimentos dificeis - conflitos conjugais e familiares, graves problemas no trabalho, estados de solidão... -, que comportam uma fissura ou uma ruptura nas relações sociais, profissionais, familiares. A enfermidade é acompanhada com frequência por uma crise existencial e espiritual, que leva a deixar de perceber o sentido da vida.
A difusão dos estados depressivos é preocupante. Manifestam-se fragilidades humanas, psicológicas e espirituais, que ao menos em parte são induzidas pela sociedade. É importante ser conscientes das repercussões que têm as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação sobre as pessoas, ao exaltar o consumismo, a satisfação imediata dos desejos, a corrida a um bem-estar material cada vez maior. É necessário propor novos caminhos para que cada um possa construir a própria personalidade, cultivando a vida espiritual, fundamento de uma existência madura. A participação entusiasta nas Jornadas Mundiais da Juventude demonstra que as novas gerações buscam Alguém que possa iluminar o seu caminho quotidiano, dando-lhes razões de vida e ajudando-os a enfrentar as dificuldades.
3. Vós sublinhastes: a depressão é sempre uma prova espiritual. O papel de quem atende uma pessoa deprimida sem uma função especificamente terapêutica consiste sobretudo em ajudá-la a recuperar a auto-estima, a confiança nas suas capacidades, o interesse pelo futuro, a alegria de viver. Por isso, é importante cuidar dos enfermos, fazer-lhes perceber a ternura de Deus, integrá-los numa comunidade de fé e de vida na qual se sintam acolhidos, compreendidos, sustentados, dignos, numa palavra, de amar e de ser amados. Para eles, como para qualquer pessoa, contemplar Cristo e deixar-se «guiar» por Ele é a experiência que os abre à esperança e os leva a optar pela vida. No caminho espiritual, a leitura e a meditação dos Salmos, nos quais o autor sagrado expressa em oração a sua alegria e angústia, pode ser de grande ajuda. A oração do Rosário permite encontrar em Maria uma mãe carinhosa que ensina a viver em Cristo. A participação na Eucaristia é manancial de paz interior, seja pela eficácia da Palavra e do Pão da Vida, seja para a integração na comunidade eclesial. Se à pessoa deprimida custa um grande esforço a1go que aos demais parece ser algo simples e espontâneo, é necessário ajudá-la com paciência e delicadeza, recordando a advertência de S. Teresa do Menino Jesus: «Os pequenos dão passos pequenos». No seu amor infinito, Deus está sempre próximo dos que sofrem. A enfermidade depressiva pode ser um caminho para descobrir outros aspectos de um mesmo e novas formas de encontro com Deus. Cristo escuta o grito de quem se encontra numa barca à mercê da tempestade (Mc 4,35-41). Está presente junto deles para os ajudar na travessia e para os guiar para o porto da serenidade recuperada.
4. O fenómeno da depressão recorda à Igreja e a toda a sociedade a importância de propor às pessoas, especialmente aos jovens, figuras e experiências que os ajudem a crescer humana, psicológica, moral e espiritualmente. A ausência de pontos de referência contribui para criar persona1idades mais frágeis, levando a pensar que todos os comportamentos são iguais. Deste ponto de vista, o papel da família, da escola, dos movimentos juvenis, das associações paroquiais é muito importante por causa da repercussão que tem na formação da pessoa. São necessárias as políticas para a juventude, que oferecem às novas gerações motivos de esperança, preservando-as do vazio ou de outros perigos.
5. Alentando-vos para renovar o vosso compromisso num trabalho tão importante junto dos irmãos e irmãs afectados pela depressão, confio-vos à intercessão de Maria Santíssima «Salus Infirmorum” (Saúde do Enfermos). Que cada pessoa e cada família possa sentir a Sua maternal ajuda nos momentos de dificuldade.”