Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico,
mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores à
conversão”. (Lc 5,31-32)
Quem escuta Jesus, quem é a alma que se abre,
verdadeiramente, para Ele? Não são os justos, os justificados nem os piedosos
que se colocam santos acima de todos. Estes, que já se sentem santos, justificados,
convertidos, estão a criar confusões, semeando discórdias, colocando-se acima
dos outros, criando sistemas de piedades para chamar à atenção. Estes são
comportamentos próprios dos fariseus, dos hipócritas da época de Jesus, que
usavam roupas maiores, vestes para chamar a atenção sobre si.
Não! Jesus não veio para estes, porque estes já se
justificam, já se elevam, já se colocam acima dos outros. Jesus veio para as
almas humilhadas, pelo odor do pecado, pela luta da conversão diária. Jesus
veio para as almas desprezadas até pelos sentimentos religiosos dos tempos e de
hoje também, para dizer: “Eu sou a luz da tua vida”. Ele veio para se sentar
com os pecadores, como, hoje, Ele veio ao banquete com Mateus; assim como Ele
se sentou com inúmeros cobradores de impostos desprezados. Aí, talvez, tu
queiras dizer: “Não, mas eles converteram-se!” Nem todos se converteram nem se
tornaram menos amados por isso, porque Jesus ama o pecador e quer que ele se
converta.
Jesus é quem está a chamar os pecadores à conversão, foi para
estes que Ele veio
Já viste há quanto tempo seguimos Jesus, mas ainda não nos
convertemos de verdade? Já viste que nos achamos melhores do que os outros,
porque temos este comportamento moral, mas os outros pecados nós colocamo-los
debaixo do tapete como a poeira escondida, e não trabalhamos a nossa conversão
interior, não trabalhamos o nosso temperamento difícil, o nosso modo grosseiro,
egoísta, soberbo de ser?
Nós achamos que a nossa condição moral nos faz mais santos
que os outros. Não! “Eu vim para os doentes”, disse Jesus. Por isso, quando
assumimos as nossas doenças, as nossas enfermidades, as nossas fraquezas,
inclusive emocionais, espirituais e morais, é para nós que o Senhor veio.
Deixemos que Ele cuide de nós; e, quando, realmente, Ele cuida de nós, quando
realmente deixamos Ele cuidar das nossas fraquezas, doenças e enfermidades, nós
podemos cuidar dos outros, sem julgar, sem condenar, sem levantar a bandeira do
moralismo, mas levantarmos a bandeira da misericórdia, do amor, da bondade, do
cuidado que devemos ter de uns para com os outros.
Jesus é quem chama os pecadores à conversão, foi para eles que
Ele veio, foi para nós que somos pecadores que o Senhor veio. Assumamos a nossa
condição, não deixemos que o orgulho, sobretudo o orgulho e a soberba
espiritual encubram aquilo que, de facto, somos, para que possamos alcançar o
bálsamo da misericórdia, o remédio da cura divina, a acção salvadora de Jesus
em nós, para sermos também bálsamo e misericórdia de Deus para tantos corações
feridos e magoados. Não sei se mais ou menos feridos que nós, mas o facto é que
fazemos parte de uma humanidade doente, ferida, que precisa do Mestre Jesus
para ser curada.