“Hoje,
educação é, mais do que nunca, o único sinónimo tangível para definir um
futuro mais humano para as próximas gerações”.
Felizes os tempos em que as portas não tinham chaves, as casas não tinham
muros e os muros não tinham alarmes e nem cercas eléctricas! E o homem sabia
ser irmão e nele confiava ...
Quão espantoso é olhar, hoje, para as casas dos humanos, e vê-las cercadas
dos mais sofisticados meios chamados de “protecção e segurança”. Porque o
outro não é meu irmão. A paz e a segurança não nascem e nem acontecem pela
existência destes meios. Nascem do coração do homem. Tudo o que move e leva o
homem a agir nasce de dentro dele mesmo. “Não é o que entra no coração do
homem que é mau, mas sim, o que dele sai”.
Os olhares, as palavras, os gestos são canais de expressão da paz que existe
ou não no interior de cada pessoa. Como a paz não nasce e nem é garantida por
sistemas de segurança electrónicos, a escolaridade não garante a educação,
isto é, a cidadania. Educação não deve ser entendida como escolaridade,
porque não é simples conhecimento disto ou daquilo. Assim diria Exupèry
(1917): “O mais importante, na construção do homem, não é instruí-lo – haverá
algum interesse em fazer dele um livro que caminha? -, mas educá-lo é levá-lo
até aos patamares onde o que liga as coisas já não são as coisas, mas os
rostos nascidos dos laços divinos.”
Educação é o que eu faço com os conhecimentos e em que estes conhecimentos
modificam o meu modo de ser, de fazer e de me relacionar comigo mesmo, com os
outros e com as coisas e com o Transcendente.
Educar é tornar a escolaridade um tempo rico de aprendizagem, para uma
convivência pacífica, respeito às diferenças, o diálogo inter-religioso com
as culturas e construir uma solidariedade universal na compaixão para com os
homens e mulheres, meus irmãos. Educar-se, é buscar dentro de si mesmo o
potencial para ser mais humano.
Portanto, educar não é o mesmo que escolarizar. Há diferenças significativas
entre um e outro. Educar-se é tornar-se cada dia mais aquilo a que fomos
chamados desde o nascimento: filhos de Deus e irmãos uns dos outros. É ser
aberto ao crescimento, reconhecendo os dons recebidos de Deus, da natureza,
da família, da sociedade... Educar-se é compreender que todos têm direitos e
deveres, que todos têm uma parcela de responsabilidade pela convivência
humana, pelo bem comum, pela melhoria das relações humanas.
Há muitos inteligentes e conhecedores de ciências, de tecnologias, que são
super-escolarizados, mas, que têm dificuldades de uma relação mais fraterna,
principalmente para com quem é mais simples; não conseguem ver um irmão nos
rostos necessitados, humildes, sofredores; por isso queimam um “índio
pensando ser um mendigo”...
Ser educado, não depende de riqueza de bens de consumo, mas de bens
humanizantes. Como alguém disse: “Todos os seres humanos são educáveis, desde
que se criem condições pedagógicas adequadas, (...). Tal postulado continua a
ser fundamental na chamada ‘sociedade do conhecimento’, evocada por Berhens.”
Ser educado é não lançar papel pela janela do carro, é diminuir o o ruído do
carro e da voz nas áreas hospitalares e no próprio ambiente hospitalar; é
ajudar uma pessoa em necessidade por impossibilidades físicas.
Há muito recolhedor de papel que, na humildade, simplicidade e pobreza da sua
vida e do seu carrinho, mas que na dignidade de ser pessoa, cuida para que
nada prejudique os outros e divide o que recebe com os mais pobres que ele.
Ser educado é não dar apelido que constrange, que fere, que diminui a dignidade
de colegas, amigos. Educar-se não depende de recursos financeiros,
exclusivamente, mas é ser realmente pessoa aberta ao crescimento, é um ato
pessoal que depende dos valores, das atitudes e das opções que faz.
A educação deve passar pelo coração. É que o amor educa, tece as fibras do
coração humano, orienta as relações, enternece os sentimentos, desperta o
coração para a ternura e compaixão para com o outro. Então, sim, todo o conhecimento
que passa pelo coração pode transformar-se em atitude de vida e em santidade.
Não há santos deseducados, mas há santos que morreram analfabetos das
“letras” do mundo, mas doutores nas “letras do amor”.
|