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Como foi a descendência de Adão e Eva?
- 25-07-2019
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Como foi a descendência de Adão e Eva?
Se Adão e Eva foram as primeiras pessoas do mundo, como tiveram netos? Será que os seus filhos se casaram entre si?
A pergunta que não podemos calar: como é que Adão e Eva tiveram descendentes? Foi por meio de relações incestuosas?
A Bíblia não explica como se desenvolveu a descendência de Adão e Eva. Sabemos que Adão e Eva tiveram muitos filhos (Gn 5, 4), dos quais os primeiros foram Caim e Abel (Gn 4, 1-2), e conhecemos também o facto do fratricídio (Gn 4, 3-16) que levou uma descendência de Caim (malvada e irreligiosa – Gn 4, 17-24) separada da descendência de Set (boa e religiosa – Gn 5, 6-32), o filho “escolhido” por Deus (Gn 4, 25-26. 5, 3-4) para substituir Abel, do qual depois se chegará a Noé e ao dilúvio.
Como se gerou esta descendência? Houve muitas hipóteses e todas acabaram por encontrar o problema do incesto (relações sexuais entre parentes próximos), fruto de uma interpretação literal da Bíblia.
Para tentar mitigar o problema, foram procuradas muitas explicações: não havia uma lei contra o incesto; viviam muitos anos e casar-se com sobrinhos parece que era “menos grave”, etc. Mas nenhuma delas deu uma explicação convincente.
Felizmente, os dois últimos séculos de estudos da Bíblia permitem-nos compreender algumas coisas sobre ela que nos ajudam a resolver dificuldades como esta.
Sobre como se deu a descendência de Adão e Eva, é preciso dizer duas coisas:
A primeira refere-se ao género literário dos primeiros capítulos do Génesis. Os estudos deixam claro que Gn 1-11 não pode ser considerado uma narração histórica real. Não podemos achar que estes capítulos sejam a crónica dos primeiros anos da história humana.
Além disso, a sua redacção, procedente de fontes orais, aconteceu na época do exílio e pós-exílio babilónico (aprox. séc. VI-V a.C.). A intenção dos autores não era fazer história, mas contar verdades fundamentais para a relação do homem com Deus.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter claro que nem se trata de mitologia, ainda que o texto utilize uma linguagem mítica. João Paulo II explicou isto: “O termo ‘mito’ não designa um conteúdo fabuloso, mas simplesmente um modo arcaico de expressar um conteúdo mais profundo” (Catequese de 7/11/1979).
Para compreender isto, podemos comparar o texto com as parábolas de Jesus. É claro que tais parábolas têm uma linguagem de “conto” e que não são relatos históricos. No entanto, expressam, muito melhor que uma crónica, qual é a verdade das coisas, e assim “contam” a “verdadeira” história da humanidade (por exemplo, o filho pródigo).
Acontece o mesmo com os primeiros capítulos do Génesis: “Estes textos não devem ser interpretados como história nem como mito (…), senão que o texto proclama a relação particular que Deus mantém com a sua criação” (W. Brueggemann, Genesi, Claudiana, Turim 2002, p. 34).
A segunda reflexão é mais simples e deriva da primeira: quando a Bíblia não especifica e não dá detalhes, isso não é necessariamente um erro, também porque não dizer tudo, faz parte do estilo narrativo que estes relatos utilizam.
Quem não gostaria de saber em que idade Maria teve Jesus ou o que Ele fez nos primeiros 30 anos da sua vida? Quantas curiosidades temos sobre a Bíblia! Mas as Escrituras não foram redigidas sob a inspiração de Deus para satisfazer a nossa curiosidade, mas para nos fazer crescer e agir segundo a vontade de Deus.
Ainda que soubéssemos como Caim e Set tiveram filhos, isso não seria de muita utilidade. Os textos como Gn 1-11 contêm a verdade sobre o projecto de Deus com relação à criação do homem, sobre a Queda e as suas consequências, e esta é a verdade que precisamos de procurar.