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Ciúme ou inveja: qual é o mais nocivo?
- 27-08-2020
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São Tomás de Aquino define a inveja como tristeza pelo bem alheio, o que a diferencia da cobiça ou voracidade, que é querer o que o outro é ou tem; na inveja há lamento e dor pela felicidade do outro e exultação pela sua desgraça.
A inveja está relacionada, basicamente, àquela situação ou coisa que desejamos, que cobiçamos que nos faz até mesmo destruir o outro com palavras ou comportamentos para obter. Ela funciona tal como uma certa dor, um desconforto que temos quando nos damos conta do sucesso alheio, suas conquistas, suas felicidades, comparando-as com a nossa vida. Quando isso acontece, aplicamos um veneno em nós mesmos. Contaminados pela inveja iniciamos um movimento autodestrutivo, duvidando das nossas capacidades.
O ciúme traz consigo o sentido de ter a posse especialmente relacionada a uma pessoa, ou seja, desejo alguém e quero aquela pessoa exclusivamente para mim. Seja nas amizades ou relacionamentos de namoro ou casamento, temos de, a partir deste sentimento de posse eu quero que o outro seja aquilo que eu queira. Aí começam alguns aspectos complicados e doentios nos relacionamentos.
Mas qual é pior: ciúme ou inveja?
Mas voltando à pergunta do título: “Qual é o mais nocivo: ciúme ou inveja?”. A que conclusões chegarás no fim do texto. Já lá chegaremos.
“De todas as emoções que experimentamos, o ciúme é talvez a mais difícil de controlar – e a mais perigosa. Ciúme é a paixão direccionada contra a ameaça de traição ou de abandono. É raiva direccionada a alguém que vemos como um intruso ou competidor. É ressentimento pela pessoa que tememos que abuse da nossa confiança. É visceral, fundamental e, algumas vezes, violento. Podemo-nos sentir sobrecarregados, sem controle e tomados por ele. O nosso coração e a nossa mente são dominados. E sentimo-nos perdidos na ansiedade e na impotência” (Leahy, R.).
No ciúme temos uma relação triangular: sim, em 3 pessoas. Sempre haverá, nos pensamentos da pessoa ciumenta, a sensação que uma terceira pessoa ameaça o nosso relacionamento. Não nos sentimos confiantes e seguros a ponto de entender que não existe este risco, ou mesmo que, sempre haverá um risco de uma amizade terminar ou um namoro terminar quando estivermos presos às amarras do ciúme. Há uma sombra constante que bate directamente na nossa autoestima ferida, nossa história de vida passada e naquele sentimento que uma potencial traição ou abandono ocorrerá.
Confusão entre os sentimentos
Neste sentido, há sempre uma confusão entre ciúme e inveja, porém são esferas distintas: Com frequência confundimos ciúme com inveja.
“A inveja acontece quando acreditamos que uma pessoa obteve uma vantagem em relação a nós – algumas vezes injustamente – e nos ressentimos porque achamos que isso reflecte mal na nossa imagem. O sucesso dela é o nosso fracasso. Temos inveja de pessoas que competem numa área que valorizamos: se for empresarial, invejamos alguém que está a ganhar dinheiro ou que é promovido. Se for na área académica, invejamos alguém que ganha uma bolsa de estudos ou que publica um artigo.” (Leahy, R.)
Para que possamos distinguir facilmente um do outro, tenha sempre em mente estas duas situações: viver o ciúme é viver a ameaça a um relacionamento e viver a inveja tem ligação directa com fazer comparações.
Consequências negativas
O que nos traz maior confusão é que o ciúme vem acompanhado de uma série de sentimentos negativos, ansiedade, desesperança, medo, confusão, enfim, uma bela enxurrada de emoções negativas. Porém, como ela vem numa relação de amor e afecto, mas marcada pela posse. É comum até mesmo acharmos “bonito” que o outro tenha ciúme por ser um sinal de amor. No entanto, o desenrolar da relação onde há ciúme não é nada positiva.
Vários autores em psicologia descrevem as relações entre ciúme e inveja. Freud fala em ciúme competitivo, projectado e delirante que são feitos em graus e intensidade maiores, chegando a uma forma patológica, ou seja, doentia. Por isso, muitas vezes há a confusão entre ambos.
“Simplesmente ter um sentimento ou pensamento de ciúme não é o problema principal. Os problemas vêm com todos os comportamentos e estratégias de controle que os acompanham. É a resposta o que nos cria problemas. Uma reacção em cadeia de ansiedade pode revelar-se de forma tão rápida que ficamos completamente surpreendidos com o que estamos a dizer e a fazer” (Leahy, R.).
Portanto, ciúme ou inveja, ambos trazem consequências negativas aos que sofrem com as situações. Se sou ciumento ou invejoso não consigo ter relacionamento saudáveis que tenham liberdade, fonte do verdadeiro amor. Se a todo momento invejo a condição do outro, não consigo fazer o meu caminho, aprender com os meus erros e ser livre na minha história. Em resumo, ambas as situações trazem consigo o sofrimento emocional que se pode espalhar às pessoas com quem estou. Se isto acontece contigo, é tempo de procurar ajuda e reverter a situação que pode, efectivamente, estar a bloquear uma vida saudável e feliz.