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A mentira que acreditas ser verdade
- 12-06-2023
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O erro é achar que o demónio é o pai da mentira e ficar somente nessa percepção básica
C.S Lewis, no seu livro Cartas de um Diabo ao seu Aprendiz, traz algumas reflexões acerca da actuação do inimigo na vida do ser humano e, ainda mais veementemente, na vida do cristão. É possível afirmar que esta obra foi a primeira a obter grande sucesso e tornou o autor conhecido mundialmente. Lewis, que se converteu ao cristianismo após passar anos da sua vida dizendo-se ateu, é autor de uma excelente bibliografia habilitada a aconselhar e orientar o leigo que iniciou há pouco tempo na caminhada cristão ou até mesmo aquele que já se encontra na busca pela santidade há muito tempo. O título original é Cartas de Screwtape – nome dado, por Lewis, ao demónio mais experiente. A obra resume-se em diversas cartas do “mestre” ao seu aprendiz, com lições para mostrar ao novato como levar almas para o inferno.
Talvez seja possível inferir que muito do que é colocado no livro seja baseado no próprio caminho de conversão de C.S Lewis. A primeira carta fora publicada em Maio de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, e o eixo central pode ser resumido com a seguinte frase encontrada na Bíblia (cf Jo 8:44):
Vós pertenceis ao vosso pai, o Diabo, e quereis realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira.
A mentira aprisiona
A mentira aprisiona o ser humano, e conhecer as grades que nos aprisionam é o primeiro passo para sair das amarras do inimigo; e o único meio para obter o sucesso pretendido é através da verdade. O verdadeiro conhecimento é conseguido pelo meio de estudos, argumentações, debates, leituras e escutas desde pensadores materialistas aos santos da Igreja. O personagem diabólico, Screwtape, chega a afirmar que “o problema da argumentação é que ela transporta toda a batalha para o território do Inimigo”, pois Deus é a Verdade. E o demónio mais ajuizado e cauteloso não deve nunca sair da sua esfera de actuação, que se configura, portanto, no oposto da veracidade. e, na carta, é o âmbito da propaganda.
E a mentira encontra-se, em muitas casos, mascarada pela honestidade e mantendo-se no âmbito da propaganda, meio com o qual não há em si a busca da verdade como fim, mas manipula todos os recursos para o convencimento de uma ideia. Actualmente, por mais doloroso e cruel que possa ser, a busca pela verdade tornou-se obsoleta e passou-se a buscar representações que possam ser fáceis de aceitar e agradar, desviando, assim, o indivíduo daquele caminho estreito de que Jesus falava. Um caminho pelo qual é indispensável ter a ciência, a verdadeira ciência, como auxiliadora, porque é através de investigações profundas que a verdade pura e simples se vai revelar. Entretanto, o que se tem visto actualmente é a busca por respostas com pinceladas de verniz científico, ou seja, uma falsa ideia de estar totalmente actualizado. Como acrescenta o Padre Paulo Ricardo no seu curso acerca deste livro: “O importante, numa palavra, é que não seja verdadeira ciência, mas propaganda com ares de consenso científico”.
Distracções
Quem busca caminhar na estrada de Jesus sabe das dificuldades encontradas, e Lewis atenta para as distracções que vão surgindo ao longo do caminho; e as pseudoverdades fazem parte desses inúmeros espinhos que aparecem no decorrer dessa estrada. Mas não cabe apenas ignorá-los, afinal, para os combater é necessário, antes de tudo, entendê-los. E tal compreensão perpassa por algumas veredas, dentre as quais as escolhas que fazemos todos os dias ao acordar.
Relembrando a passagem de Marta e Maria, é possível extrair muitos ensinamentos deste trecho bíblico. Sim, é facto que analisar a postura de Marta em buscar realizar as tarefas mais domésticas para agradar ao Senhor depreende o entendimento da importância fundamental do labutar diário. Mas é importante também ir um pouco além e reflectir sobre as distracções do quotidiano que impedem o ser humano de se dedicarem com mais zelo ao que realmente importa.
Artimanhas
O erro é achar que o demónio é o pai da mentira e ficar somente nesta percepção básica. Facto, todavia, é que o inimigo, com o intuito de tirar o cristão do caminho da verdade, usa de mil artimanhas para que o indivíduo se distraia com o frívolo e se contente em mergulhar em águas rasas, agindo tais como bichos que se preocupam unicamente com o que comer, o que beber e onde dormir. Não é que tais preocupações sejam em si mesmas ruins, mas não são elas que devem nortear a nossa vida. Se nos deixamos levar por elas, terminamos como folhas secas, que seguem sempre a direcção do vento.
Uma série de preocupações e distracções tiram o foco principal do ser humano, tiram a primordial busca que deveríamos almejar: as coisas do céu. E se o mal nos quer afastar da verdade usando, para isso, todos os meios de distracção que o mundo de hoje proporciona, é dever de cada um mostrar, de antemão, a arma mais poderosa que o cristão tem: a oração, porque é somente de joelhos que venceremos esta guerra!