A língua tem poder!Como usá-la para o bem
A língua é um meiopelo qual se liga uma alma a outra alma; por isso precisamos de ter cuidado como que a língua produz!
A alma exprime-sepelo corpo, e especialmente pela língua.
“Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporale espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de sinais ede símbolos materiais.
Como ser social, ohomem precisa de sinais e de símbolos para comunicar com os outros, através dalinguagem, de gestos, de ações” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1146).
Nós falamos,comunicamos uns com os outros de inúmeras maneiras.
Quanto não diz comfrequência um simples olhar, um sorriso levemente esboçado, um silênciosignificativo, um gesto de paixão ou um aceno impregnado de afeto…
Muitos são oscaminhos da linguagem que interliga em comunhão alma com alma.
Mas a grande ponteque Deus nos deu para nos comunicarmos entre nós – e para comunicarmos com Ele– é a palavra: palavra pensada, interior; palavra pronunciada; palavrapublicada.
É falando,conversando, escrevendo, que estamos a construir constantemente pontes deintercomunicação:
Por elas a nossaalma – a nossa vida! – vai passando, e chega até aos outros, com toda a cargade alegrias e dores, de ódios e amores, de desconcertos e dúvidas, de enganos edesenganos, de perplexidades e certezas, de esperanças e ilusões.
É bom pensar no quesignificam, todos os dias, as nossas palavras.
Constroem oudestroem?
Enriquecem oudesgastam? Que fazemos diariamente com a língua?
Talvez de súbito nãosaibamos responder, mas uma coisa é certa: fazemos muito; de bom ou de mau, masfazemos muito.
Quando as palavrastêm raízes no amor, são sempre fecundas.
Da abundância docoração fala a boca. Muitos corações atenazados pelo erro, pela vergonha oupelo desespero reergueram-se por uma só palavra (Mt 8, 8 ) de Cristo.
Os olhos da mulheradúltera, cerrando-se para não ver as pedras com que os fariseus iam esmagá-la,recuperaram a luz perdida e acenderam-se com claridades inéditas, mal elaescutou as palavras de perdão e alento de Cristo: Vai e não peques mais! (Jo 8,11).
Zaqueu, oarrecadador desonesto, sentiu o coração arrebentar-lhe o peito quando Jesus, aopassar junto dele, em vez de lhe espetar um remoque de desprezo, lhe lançou umapalavra amiga: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje emtua casa (Lc 19, 5).
Pedro viu-se como ummorto-vivo acabado de desenterrar quando Cristo, com a doçura do perdão nalíngua, em vez de recriminá-lo pela sua indigna traição, lhe perguntou: Simão,filho de João, amas-me mais do que estes? (Jo 21, 15).
Palavras de compreensão, de perdão, de afeto, deestímulo;
Palavras que acordam, elevam, iluminam, desvendamerros, apagam dúvidas, apontam rumos; palavras de amor, compaixão e confiança,palavras-dom…
Se quiséssemos, a nossa vida inteira, cada um dosnossos dias, poderia ser uma contínua chuva de palavras fecundas, capazes de suscitarvida, sem provocartristezas, nem ira, nem ódio.
Não há uma única situação, agradável ouconstrangedora, não há uma só pessoa neste mundo que não possa fazer surgir,“do bom tesouro” do coração que verdadeiramente ama, uma palavra construtiva.
Já imaginámos o que seria a nossa vida se em cadainstante fôssemos capazes de proferir a palavra acertada, toda elaimpregnada de sinceridade e amor, sem sombra de malignidade, irritação, rancor,orgulho, rudeza ou desprezo?
Não há dúvida de que, além de nos tornarmos a alegriade Deus, seríamos a felicidade dos homens.
Já pensámos no que seria a “utopia” de um mundo em queas palavras faladas, emitidas ou impressas, fossem apenas veículo da verdadee da caridade?
Se a nossa fantasia tivesse um mínimo de asas,perceberíamos que esse mundo admiravelmente novo seria o próprio céu, pois nãohá um só mal no mundo que, de alguma maneira, não esteja fundido com a maldadedas palavras.
Mas esse “admirável mundo novo” não existe, e toca acada um de nós examinar a parte com que contribuímos para a sinfonia amorosa oupara a dança macabra das palavras.
Vamos mergulhar, por isso, no poço sombrio da má língua,procurando extrair – como Cristo sempre nos ajuda a fazer – luzes de vida dassombras da morte.
Mas, antes, deixemos mais uma vez a palavra –vigorosíssima e realíssima palavra – ao Apóstolo São Tiago:
– Se alguém não cair por palavra, esse é um homemperfeito, capaz de refrear todo o seu corpo.
Quando pomos o freio na boca dos cavalos, para que nosobedeçam, governamos também todo o seu corpo.
Vede também os navios: por grandes que sejam e emboraagitados por ventos impetuosos, são governados com um pequeno leme à vontade dopiloto.
Assim também a língua é um pequeno membro, mas podegloriar-se de grandes coisas.
Considerai como uma pequena chama pode incendiar umagrande floresta! Também a língua éum fogo… (Tg 3, 2-6).