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A diferença entre Jesus de Nazaré e Jesus Cristo

 Não é comum fazermos distinções entre “Jesus de Nazaré” e “Jesus Cristo”. Ora optamos pela primeira forma, ora pela segunda. A rigor, estas são duas formas distintas entre si, entretanto, indicam a mesma pessoa. Fazer esta distinção, em muitos momentos, não representa exageros conceituais ou rigorismos linguísticos, mas torna mais clara e precisa a nossa comunicação. Por outras palavras, a pessoa de Jesus pode ser vista tanto pelo prisma histórico – tem-se, então, o Jesus de Nazaré – como pelo prisma da fé – neste caso, tem-se Jesus Cristo. Em se tratando de Jesus, tanto o homem histórico como o homem da fé unem-se e complementam-se, tendo em vista a sua missão e a sua existência espaço-temporal.

O Evangelho de Mateus (1,1-16) discrimina a genealogia de Jesus de Nazaré. Analisando-a com mais cuidado, percebe-se a confluência de dois aspectos da sua existência: Jesus enquanto cumprimento de uma profecia que se realizou num determinado momento do tempo e do espaço e a sua presença enquanto ser vivente no mundo no meio dos outros homens e imerso numa cultura específica.

Quem foi Jesus de Nazaré?

Resumidamente, Jesus nasceu judeu de uma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes Magno e do imperador César Augusto. A Sua cidade de origem é Nazaré, no território da Galileia, região semipagã e, por isso, desprezada pelos israelitas puros. A Sua família era hebreia, e a língua falada era o aramaico galileu. Jesus, certamente, conhecia também o antigo hebraico, uma vez que este idioma era necessário para a leitura das Sagradas Escrituras (FORTE, 1985, p. 207).

Fazendo um pequeno aceno para o Jesus da fé, Ele não nasceu em Belém por uma coincidência da história. Tomás de Aquino explicita dois motivos. O primeiro deles devia-se ao facto de existir uma promessa feita a David segundo a qual Cristo pertenceria à sua descendência. Jesus nasceu em Belém, mesmo local de nascimento de David. O segundo motivo está relacionado ao nome da localidade. “Belém, quer dizer ‘casa do pão’. E o próprio Cristo afirma: ‘Eu sou o pão da Vivo que desceu do céu’” (AQUINO, 2002, p. 519).

Jesus foi um homem como os outros homens da sua época

A Sua mãe, Maria, era esposa de um carpinteiro, de nome José. De acordo com o costume da época, no qual o filho seguia a mesma profissão do pai, Jesus, provavelmente, foi carpinteiro como seu pai José. Mais tarde, foi crucificado em Jerusalém, sob o prefeito (praefectus) Pôncio Pilatos, durante o reinado do imperador Tibério.

O Filho de Deus não se fez homem apenas num sentido geral, mas no particular. Assim, “como homem, foi, portanto, marcado pela geografia e pela história do seu país, pela sua cultura; esteve sujeito às leis económicas, entrou nos conflitos políticos, partilhou das esperanças do seu povo.” (SAULNIER, C.; ROLLAND, B, 1983, p.5).

O homem Jesus e o Jesus Deus

Convém reforçar a ideia de que Jesus era absolutamente semelhante a qualquer outro homem da sua época, sem, com isto, O empobrecer ou O desmerecer humanamente. Pelo contrário, Deus, ao se fazer homem, elevou a nossa humanidade. O Papa São Leão Magno afirma que Jesus, ainda recém-nascido, não se diferenciava em nada do comum das outras crianças (AQUINO, 2002, p. 530).

Se Jesus encarnou para que todos os homens entrassem na posse de Deus, portanto, Ele viveu na familiaridade dos homens, para lhes inspirar confiança de se chegarem a Deus. Jesus comeu com os publicamos, falou-lhes, esteve no meio deles, para que os pecadores, ao verem os publicanos, se convertessem dos seus pecados, eles também se pudessem converter.

Jesus de Nazaré experimentou a fome e a fadiga do corpo, mas, depois de adquirir consciência, “pronunciou as palavras mais surpreendentes que nunca se ouviram: que era o Messias, o testemunho providencial por quem o povo eleito deveria atingir a glória e a suprema perfeição”; e o mais espantoso, “afirmou ser o Filho de Deus.” (ROPS, 1950, p. 9). Neste momento, entra em destaque Jesus Cristo, o homem da fé, o Messias tão esperado.

Jesus Cristo: o homem da fé

Há diferença entre o Jesus de Nazaré e o Jesus Cristo? A rigor, sim. Embora sejam duas maneiras diferentes de classificação, a pessoa é a mesma: Jesus. Contudo, esta diferenciação torna-se importante e, até necessária, quando se quer indicar as características mais específicas da vida de Jesus.

Jesus de Nazaré é o homem histórico que nasceu de uma mãe, cresceu e se desenvolveu, neste mundo, numa cultura específica, esteve sujeito às leis, entrou nos conflitos políticos, partilhou das esperanças do Seu povo, sorriu, chorou e morreu como qualquer outro homem.

Jesus tinha consciência de quem ele era?

Sim. Embora esta consciência se tenha formado gradativamente como todos os outros homens, o Evangelho mostra que Jesus tinha consciência de quem ele era: o Messias, o Filho de Deus feito Homem. Não obstante, o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 124, afirma que ele aceitou o título de Messias (ao qual tinha direito) com certa reserva. Isto deu-se pelo facto de o termo “Messias” ser entendido por uma parte dos seus contemporâneos segundo uma concepção demasiadamente humana, ou seja, essencialmente política.

De qualquer forma, no momento supremo, quando Jesus se encontrava diante do grande sacerdote que o interrogava, se Ele era realmente Cristo (Messias), o filho de Deus Bendito, Ele não titubeou e disse: “Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso e vindo com as nuvens do céu” (cf. Mc 14,61-63). Quando Jesus se reconheceu “Filho do Homem”, Ele estava reconhecendo esta condição num duplo sentido: o glorioso e doloroso da palavra. Doloroso, porque, ao responder “Eu sou”, estava-se a constituir, ali, Seu veredito mortal.

Ao reconhecer-se filho de Deus por natureza, Jesus estava a dar a cada homem a possibilidade de, por meio da Sua filiação, ser também reconhecido como filho de Deus, por adopção. Neste sentido, “ao Pai é atribuída a autoridade sobre a pessoa do Filho” e, por conseguinte, sobre toda a humanidade (AQUINO, 2002, p. 480).

Convergência entre o rei David e Jesus

David nasceu em Belém e escolheu Jerusalém para nela constituir a sede do seu reino e edificar o templo de Deus. Ora, Jesus também nasceu em Belém e escolheu Jerusalém como local da Sua Paixão. Deste modo, Jesus estava a desprezar a glória humana, pois, como diz Tomás de Aquino, os homens gloriam-se de ter nascido em cidades famosas, nas quais querem, principalmente, ser honrados. “Cristo, pelo contrário, quis nascer numa cidade sem nome e padecer opróbrios numa cidade famosa.” (AQUINO, 2002, p. 520).

Assim, Cristo quis fazer-se conhecido pela Sua vida virtuosa, e não pelo nascimento segundo a carne. Por isso, quis ser educado e criado em Nazaré; “e em Belém quis nascer como estrangeiro. Pois, como diz Gregório: Pela humanidade que tinha assumido, nasceu como em terra estranha; não segundo o poder, mas segundo a natureza. E Beda acrescenta: Por estar necessitado de um lugar na hospedaria, estava a preparar-nos muitas moradas na casa de seu Pai.” (AQUINO, 2002, p.520).

Um olhar teológico do nascimento de Jesus – cumprimento de uma profecia

A grande maioria dos habitantes de Jerusalém conhecia muito bem uma profecia em torno de um misterioso homem da Judeia, que um dia seria Senhor do mundo inteiro. Alguns forasteiros vindos do Oriente e guiados por uma estrela que lhes tinha aparecido no céu, chegaram a Jerusalém. Os referidos forasteiros seguiam a tradição de Balaão, que disse: “A estrela nascerá de Jacob”. Por isso, vendo eles uma estrela extraordinária, entenderam ser esta a que Balaão profetizara e que haveria de anunciar a vinda do Rei dos Judeus.

Os forasteiros prestaram-se a fazer uma longa viagem em busca daquele Rei Todo-poderoso, e encontram-no numa gruta paupérrima. Como diz Crisóstomo, se os Magos tivessem saído à procura de um rei terreno, ao ver o lugar do nascimento do Menino Rei, ficariam confusos. “Mas, porque procuravam o rei do céu, mesmo não vendo nele nada da majestade real, o adoram satisfeitos unicamente com o testemunho da estrela” (AQUINO, 2002, p. 541).

Os sábios que reconheceram Deus

O cardeal Ratzinger faz uma leitura muito interessante deste facto ao afirmar que, neste acontecimento, deu-se um entrelaçamento entre o saber e a ignorância, uma vez que os chefes dos sacerdotes e os escribas sabiam precisamente onde deveria nascer o Messias, mas não O reconheceram. Sábios que permaneceram cegos (RATZINGER, 2011, p. 189).

Deus, portanto, não se revelou aos escribas nem aos fariseus, pelo contrário, revelou-se aos pobres pastores. Tomás de Aquino acrescenta ainda que os pastores significavam os Doutores da Igreja, a quem Cristo revelou os seus mistérios, os quais permaneceram ocultos aos Judeus (AQUINO, 2002, p. 529).

Assim, por intermédio de Jesus Cristo, inteiramente homem e Deus, o ser humano pode, juntamente com Ele, falar, verdadeiramente, com Deus. Ele é, portanto, o Sumo Pontífice, aquele que liga.

 

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