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A cremação dos corpos

A CREMAÇÃO DOS CORPOS

Nota Pastoral
 
 
D. GILBERTO REIS - Bispo de Setúbal

A Igreja professa, iluminada pela morte e ressurreição de Jesus Cristo, a fé na ressurreição do corpo humano: «O corpo é semeado corruptível, mas ressuscita incorruptível» (1Cor.15,42). Os ritos fúnebres são inspirados no mistério pascal e ajudam-nos a ver a nossa morte e em tudo o que a envolve a participação na morte e ressurreição do Senhor. Sendo a sepultura do cadáver imagem da sepultura do corpo do Senhor, retirado da cruz, a Igreja recomenda aos fiéis o costume tradicional da sepultura (veja-se o Ritual das Exéquias, nº. 149).
Alguns cristãos, perante a opção pela cremação, perguntam se um católico que pediu a cremação do seu corpo pode ter exéquias cristãs. A Igreja, embora recomende a prática da sepultura, aceita a possibilidade da cremação e o actual ritual das exéquias contém os ritos adequados a este procedimento. Apenas nos casos em que a cremação fosse pedida por alguma razão contrária à fé, a Igreja recusaria a celebração das exéquias, incluindo a Missa exequial (veja-se o Código de Direito Canónico, cânones 1184, 1 e 2 e 1185).
No caso de cremação, é desejável que os ritos exequiais se celebrem do mesmo modo como se celebram para os que são sepultados, isto é, tenham lugar numa igreja ou capela e incluam a encomendação e a despedida, antes da deslocação do corpo para o lugar da cremação. Neste lugar poderão ter lugar os ritos previstos para o cemitério, segundo as indicações do Ritual. Diferentes procedimentos carecem de autorização do Ordinário do lugar.
Revela-se, neste contexto, oportuna uma catequese esclarecedora e progressiva, feita por todos os que têm responsabilidades na educação da fé, especialmente os sacerdotes, sobre o sentido cristão da morte e dos ritos litúrgicos com que a Igreja exprime e ensina a fé e a esperança na ressurreição.
Nas exéquias daqueles que pediram a cremação, os que presidirem, incluindo os fiéis leigos devidamente autorizados, hão-de preparar e conduzir cuidadosamente a celebração de modo a evitar o escândalo ou o indiferentismo religioso dos que sejam levados a interpretar a cremação como negação do valor do corpo humano que foi morada do Espírito de Deus ou como descrença na sua futura ressurreição em Cristo.
 
Setúbal, 11 de Junho de 2009, Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

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