Temas de Formação
"De repente 30"... e solteiro (a)
- 17-02-2016
- Visualizações: 398
- Imprimir
- Enviar por email
Autoconhecimento é um processo
“Fácil é conviver com os outros; difícil é conviver consigo mesmo”
Uma tarde, na praia, eu admirava o mar. Era tão imenso, profundo e belo! O mar tem o seu próprio temperamento. Às vezes, é tão calmo; outras, tão agitado. Por isso, acredito que ele se parece com as pessoas de alguma forma.
A imensidão azul do ser humano reflete-se num céu bordado pela sua inteligência, por cada átomo que o compõe e pela sua mente repleta de mistérios. A tua profundidade está nos teus sentimentos, na tua história, enfim, na tua essência. A tua beleza são os segredos sobre ti, revelados cada dia, que fazem as pessoas melhores, mais sábias e felizes. Mas, poucos são os que buscam entender cada grão de areia que compõe a tua praia; mal sabem quão importante é entender-se a si mesmo. Hoje, a sociedade é levada pelas ondas do consumismo e do culto ao corpo, que incentivam a viver de fora para dentro.
Por causa deste desconhecimento, os desafios da vida parecem ser mais complicados e, então, a ressaca do mar de emoções surge sem explicação. A frustração, a insatisfação e o desânimo afogam a possibilidade de ver as coisas de outro modo.
Compreender-se a si próprio não se restringe somente a uma qualidade de vida melhor, mas também capacita o indivíduo a interagir melhor com o mundo e a descobrir o sentido da vida. O autoconhecimento é um caminho que nos leva a olhar para dentro de nós mesmos, a reconhecer os nossos dons e talentos [recebidos de Deus] e também os nossos limites, fraquezas e os pontos que precisam de ser melhorados.
“A frustração, a insatisfação e o desânimo afogam a possibilidade de ver as coisas de outro modo”
No entanto, somos incapazes de nos decifrarmos sozinhos. É necessária a ajuda do Criador, pois Ele conhece cada gota que está no mar do nosso ser. Logo, a religiosidade é ótima para auxiliar o autoconhecimento. Orações, visitas constantes (mesmo que breves) à igreja, a busca pela Eucaristia, entre outras ações, permitem o contacto com Deus que, com o Seu amor infindável, mostra os nossos erros e como nos devemos corrigir. Pode-se procurar também a ajuda sacerdotal, por profissionais competentes e especializados no assunto, diretores espirituais e pela própria autorreflexão.
O filósofo Blaise Pascal é sagaz nas suas palavras: “É indispensável conhecermo-nos, mesmo se isso não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos para regularmos a vida, e nada há de mais justo”.
Lembremo-nos de que o autoconhecimento é um processo. Não será de uma hora para outra que aprenderemos a administrar o nosso modo de ser. Um grande exemplo são os idosos. Com certeza, o tempo conferiu-lhes sabedoria e paciência para aprenderem sobre si. Fácil é conviver com os outros; difícil é conviver consigo mesmo. E para os que são aventureiros, aí está um dos maiores desafios da vida.
Gente que erra, mas não é um erro
Somos frutos das nossas escolhas, e como nos diz a Palavra de Deus, “o que alguém tiver semeado, é o que vai colher!” (Gl 6.7) Logo, a única forma de colher um final feliz é semeando boas escolhas. Não há outra forma.
As pessoas podem até achar que não tens mais jeito, que é um caso perdido, um atraso na vida de todos. Porém, cabe a ti acreditar no que dizem a teu respeito ou ter a coragem de te levantar, sacudir a poeira, dar a volta por cima e provar para si mesmo que nasceste para ser feliz, que é muito mais do que os olhos podem ver. Tu podes assumir o papel de ator principal ou de coadjuvante da tua própria história de vida. A escolha é tua!
Somos frutos das nossas escolhas, mas dependemos completamente da graça de Deus. Na verdade, escolher certo é optar por aquilo que Ele escolheria para a nossa vida. Mas, assim, onde entraria aquele famoso “livre-arbítrio” de que tanto falamos se só escolhêssemos as escolhas de Deus?
Primeiro, precisamos de entender o que é liberdade e para que ela existe. Para esclarecer essa dúvida, vamos ao Catecismo Jovem da Igreja Católica, o “YouCat”, um item que não pode faltar na nossa mochila. Vejamos o que ele diz: “A liberdade é a possibilidade, concedida por Deus, de poder agir totalmente por si próprio; quem é livre não age por determinação alheia. Deus criou-nos como pessoas livres e quer a nossa liberdade para podermos optar, de todo o coração, pelo bem, pelo mais alto bem, ou seja, por Deus. Quanto mais praticarmos o bem, mais livres nos tornaremos. [286]
“Uma pessoa é livre quando diz ‘sim’ ao bem, quando nenhum vício, pressão ou hábito a impede de escolher e praticar o que é correto e bom”
Tudo bem! Mas tu podes perguntar: “Liberdade não consiste, precisamente, em poder escolher o mal? O YouCat também nos ajuda nesta dúvida. “O mal só aparentemente é vantajoso, pois optar por ele só nos liberta aparentemente. O mal não dá felicidade; ele furta-nos do verdadeiro bem; liga-nos ao nada e, por fim, destrói toda a nossa felicidade. Conseguimos ver esta realidade no vício: nele o ser humano vende a sua liberdade a algo que lhe parece bom. Na verdade, porém, ele torna-se um escravo. Uma pessoa é livre quando diz ‘sim’ ao bem, quando nenhum vício, pressão ou hábito a impede de escolher e praticar o que é correto e bom. A opção pelo bem é sempre uma opção por Deus”. [287]
Por outras palavras, liberdade não é fazer tudo o que se quer, mas fazer o que convém. Portanto, somos livres para escolher o que quisermos, inclusive, para fazer as escolhas de Deus.
Felicidade é fruto de constantes boas escolhas. Para alcançá-la será preciso muita luta, muito suor e muito trabalho. Como reages às quedas que sofres na vida? Como lidas com os teus fracassos e as tuas frustrações? Sem dúvida, procurar as respostas para essas perguntas tira-nos o sono e a paciência, não é?
Infelizmente, não há uma lâmpada mágica, à qual só é preciso esfregar, fazer um pedido e pronto! Tudo resolvido! É vida real, meu amigo, não há mágica, o que existe é atitude. É preciso tomar a decisão de não parar no erro e mudar a situação.
O ‘X’ da questão está em aprender a administrar bem os problemas, não permitir, em hipótese nenhuma, que o contrário aconteça. Se tu não dominas os teus problemas, eles dominar-te-ão a ti. E nem é preciso dizer onde isso vai parar.
“De repente 30”... e solteiro (a)!
“Entrar na terceira década, frequentar lugares onde está a rapaziada de 22, 23 anos e querer competir com eles chega a ser, em certos casos, ridículo.”
Não é raro, nos dias de hoje, encontrar pessoas que já tenham atingido os 30 anos e ainda estejam solteiras. Há algumas gerações, talvez isso tenha sido um mau sinal, pois a maioria se casava por volta dos 20 ou 25 anos. Provavelmente, com os nossos pais ou na geração deles tenha sido assim. Com os nossos avós o casamento acontecia ainda mais cedo, entre 16 e 19 anos.
Os tempos mudaram, os planos das pessoas e o meio em que elas vivem tornaram-se diferentes. Antigamente, quando alguém se tornava adulto (entenda-se adulto alguém em condições de trabalhar e produzir como “gente grande”), a família já se preocupava com um casamento para ele. Hoje não!
Atualmente, pensa-se que, primeiro, o indivíduo deve cursar uma faculdade ou aprender um ofício; depois, estabilizar-se profissionalmente para adquirir certa estrutura financeira. Só, então, procurar alguém para se casar. Este pensamento nós o incorporamos [com os anos], apesar de ele não ser essencial à felicidade. Basta verificar se aos 25 anos, apesar de te quereres casar, se te preocupavas tanto com isto. Quais eram as tuas prioridades nessa etapa da tua existência?
Quando entramos na terceira década da nossa vida, parece que alguma coisa acontece no nosso interior, uma consciência nova, uma responsabilidade maior, sobretudo, connosco mesmos. Parece “cair a ficha” de que a metade da nossa vida passou, mas ainda nos falta providenciar coisas essenciais como o casamento.
Segundo os entendidos, ao entrar nesta idade, já não somos considerados jovens, pois atravessamos, definitivamente, a fronteira entre a juventude e a idade adulta. Já ouvi dizer que essa consciência se repetirá na barreira dos 40 anos.
Entrar na terceira década, frequentar lugares onde está a rapaziada de 22, 23 anos e querer competir com eles chega a ser, em certos casos, ridículo. Um ambiente de garotada já não é tão acolhedor aos trintões, pois, apesar de existir muita gente bonita e em boa forma, aos 30 anos é certo que a natureza irá lhe impor os seus efeitos comuns. Contudo, nessa altura da vida, a maior crise é ainda estar solteiro. Muitos perguntam: “Por quê ainda estou solteiro? Por que não aparece uma boa pessoa para eu namorar? É algum problema comigo?”
“Abre o teu coração, sai de casa, faz amizades. E verás…
Antes de tentar responder a estas perguntas, vamos refletir amplamente sobre a situação. Como pontos positivos, as pessoas ‘pós-30′ têm a seu favor o facto de que muitos são bem resolvidos profissionalmente. Então, oferecem ao parceiro (a) certa estrutura material, estabilidade financeira e emocional, já que é menos provável uma volta radical na sua situação, ou esta acontecerá de forma gradual. Geralmente, [pessoas nessa idade] já tiveram, pelo menos, um relacionamento de namoro; teoricamente, devem saber lidar melhor com as diferenças. Elas têm bem definida a escolha da sua religião; por isso possibilitam ao pretendente a chance de medir e alinhar melhor os seus ideais aos dele, verificar se cabem ou não na vida dessa pessoa.
Visto isto, podemos perguntar: “Todas as coisas pelas quais lutaste para alcançar não te geraram alguns efeitos colaterais?”
Tu não estás solteiro, porque te envolveste com as tuas prioridades de estruturar a vida e deixaste um pouco de lado o campo afetivo? Será que não trocaste a tua dedicação e o teu tempo de cultivar boas amizades e estar com pessoas parecidas contigo por horas de estudo e trabalho? Sobre o que sabes conversar? Assuntos relacionados com a tua profissão?
A idade, as coisas que aprendeste e até as pedras do caminho, que te trouxeram até aqui, não te fizeram ter manias demais? É natural o tempo passar e tu ficares mais exigente para te envolveres. O exigente busca qualidades que antes criou para si, ou seja, oferece algo muito bom ao parceiro. Mas aquele que cria manias fica cada vez mais chato, quer impor ‘regrinhas’ de comportamento ao outro ou cobra valores que ele mesmo não oferece.
O facto de ter que planear, desenvolver metas e meios para alcançar os teus objetivos não te fez pensar na tua vida afetiva como algo calculado, planeado? Num protótipo de mulher ou homem ideal, perfeito? É bom deixarmos claro que tal pessoa não existe.
Deixa-te surpreender pelas pessoas com aquilo que elas têm dentro de si. Não tentes fabricar o outro. As maiores riquezas e os maiores dons que uma pessoa tem fluirão naturalmente nela. Ela os manifestará espontaneamente. Abre o teu coração, sai de casa, faz amizades. E verás…
Tu fizeste a tua parte? Investes em ti mesmo? Lês bons livros e enriqueces-te de conteúdo? Deixas as tuas chatices de lado e tentas ser mais simpático, sorrir mais aonde tu chegas?
Reconciliaste-te com a tua história passada, com os teus medos e traumas? Perdoas às pessoas? Procuras entender-te a ti mesmo e aos teus processos interiores? Tudo isto, antes de te fazer uma pessoa mais sociável e interessante para os outros, fará bem a ti mesmo.
Digamos que, após uma análise pessoal, tu percebas que tem tudo isto ou, pelo menos, está bem encaminhado. Ainda, assim, dentro de ti, há uma pergunta: “Por que é que ainda estou sozinho (a)?”. Faz esta pergunta a Deus. Somente Ele pode te revelar o propósito de teres a vocação ao matrimónio, mas ainda estar só.
Às vezes, a resposta d’Ele pode não vir na hora, mas, com certeza, Deus falará contigo. Muitas vezes, perguntamos-Lhe algo, na igreja, mas colhemos o silêncio. No entanto, depois de sair de lá, nalgumas horas ou noutro dia, temos a resposta pela qual esperávamos.
Eu estive cerca de seis anos sem namorar. Foi nítido para mim que, nesse tempo, Deus trabalhou a minha visão e o modo de eu me relacionar com o ser feminino. Por meio de amizades puras, o Senhor pôde transformar o meu interior, o meu conceito em relação às mulheres. Todos precisamos de ser olhados com pureza. Talvez Deus ainda esteja a lapidar-te.
O importante é não perder a esperança, pois ela é a certeza de que Deus tem sempre o melhor para nós. Quem não tem esperança não tem motivação para viver.
A esperança faz com que aquilo que parece ser o fim tome as cores de uma nova possibilidade. Então, chegar aos 30 anos não é o fim, mas o começo de uma nova etapa.
Não desesperes, não mantenhas o teu foco na ausência, mas nas promessas de Deus. Talvez estejas mais perto do que nunca da pessoa que te fará feliz.
Há pessoas, por exemplo, que preferem o ‘estar’ solteiro à faculdade, à carreira profissional, aos amigos, à família, porque estes são os focos do momento. Por outro lado, há pessoas que estão solteiras, porque, de facto, não lhes apareceu alguém. Aí… paciência! Não é o fim do mundo. Mas nem todos encaram isto com tranquilidade e maturidade, pois para alguns a idade vai passando, os amigos vão se resolvendo e aquela história de “ficar pra tia (ou tio)”, somada à pressão social de “ter alguém”, emerge como um tipo de fracasso na vida.
Para o Cristianismo, nem todas as pessoas são chamadas ao matrimónio, mas isto não quer dizer que exista uma vocação à “solteirice” – como que equiparado ao matrimónio -, muito menos pode existir, na condição de solteiro, um desprezo ao casamento ou à sexualidade.
Assim nos diz o Youcat (265) [Catecismo Jovem da Igreja Católica]:
Também as pessoas que vivem sós podem ter uma vida plena. Talvez seja da vontade de Deus que ela se preocupe com pessoas que não contam com o apoio de ninguém. Não raramente até, Deus chama tal pessoa a uma proximidade de Si; é o caso de renunciar a um parceiro, ‘por causa do Reino de Deus’ (Mat 19, 12).
Para os que estão abertos e querem encontrar a sua “cara metade”, vale lembrar que, na visão cristã, não se busca alguém para ser feliz, mas para fazer o outro feliz. Desta forma, um namoro segundo a vontade de Deus nasce a partir do amor que tenho por mim e que transborda para um outro.
Não há a história de procurar alguém para preencher o meu “vazio existencial”, pois o encontro entre dois vazios certamente acabará num grande nada. Lembra-te de que, por mais que tu encontres a pessoa da tua vida, há em ti um espaço que só Deus pode preencher.