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O que fazer para curar os afectos e as emoções?

O que fazer para curar os afetos e as emoções?  

A restauração dos nossos afetos e das nossas emoções só se tornará possível quando nos abrirmos ao amor divino e ao amor humano

Muitos de nós precisamos de conquistar cura e equilíbrio nos nossos afetos, visto que somos seres profundamente relacionais e, justamente por isso, colecionamos feridas que nasceram dos relacionamentos que experienciamos na vida. Nascemos e vivemos num contexto profundamente relacional, pois, desde a mais tenra idade, encontramo-nos ligados a outras pessoas na família, na escola e, posteriormente, no trabalho.

Ninguém nasce para viver sozinho. Todos precisam de amigos, de relações calorosas e afetuosas, de uma família, etc. É natural do ser humano o desejo de estar emocionalmente conectado e, quando esta necessidade não é satisfeita ou quando é vivida de maneira desequilibrada, acontece um intenso sofrimento psicológico/emocional que acaba por nos marcar com profundas feridas.

A causa das nossas feridas afetivo/emocionais estará sempre ligada à experiência do amor, a sua ausência ou a sua incorreta expressão e vivência. Apenas o amor poderá curar as feridas por ele ocasionadas. Não, obviamente, a experiência de “qualquer amor”, mas de um amor que seja verdadeiro e que realmente nos devolva à vida.

Para um autêntico processo de cura, é necessário, inicialmente, abrir-se inteiramente à experiência do amor de Deus, que é infinito e incondicional, acolhe-nos como somos e nos abarca nas nossas afetivas necessidades. Por consequência, abrir-se à experiência do amor humano, visto que todos temos a necessidade de amar e sermos amados para alcançarmos a cura e o equilíbrio interior.

A derradeira restauração nos nossos afetos só se tornará possível, como bem expressou a Encíclica Deus Caritas Est, com a união de dois amores no nosso coração: o humano e o divino, o Eros e o Ágape. Serão estas, pois, as duas realidades que transformarão as nossas emoções: o amar e ser amado, na dimensão humana, e o permitir-se ser amado por Deus, também amando-O. Será este o amor que nos curará e nos devolverá à vida, visto que ele traz em si a perene possibilidade de nos ressuscitar, transformando os nossos emocionais invernos em belíssimas primaveras.

Lamentavelmente, muitos são os corações que colecionam profundas feridas emocionais em virtude de, na vida, só terem experienciado “relacionamentos de troca”. Em tais relacionamentos, o afeto é ausente e imperam unicamente a cobrança e os pessoais interesses. Em virtude desta realidade, tais corações não se sentiram amados e “aprovados” por aquilo que verdadeiramente são, sendo sempre acostumados a “pagar” para receberem o afeto e a alheia aprovação.

Estas pessoas só eram amadas e valorizadas quando davam algo em troca, correspondendo aos interesses egoístas de alguém. Este imperfeito modelo de relacionalidade, acrescenta, ainda que de forma velada pelo inconsciente, agudas marcas e feridas no coração. Essa prática é, infelizmente, muito comum e, ao mesmo tempo, extremamente prejudicial, visto que gera uma concepção utilitarista do amor por meio do qual o afeto será falsamente ofertado no “mercado” dos interesses pessoais, na maioria das vezes, acentuadamente egoístas. Assim, o coração humano sente-se constantemente usado e abusado e, por consequência, vazio de amor e afeto num verdadeiro raquitismo emocional, o qual se fará ausentar da sua compreensão a crença no imenso valor presente na sua vida e na sua história. Tal concepção e comportamento é, sem dúvida alguma, a génese de muitas feridas e deformidades emocionais contemporâneas.

Para dar concretos passos neste processo de cura, precisamos de nos empenhar para construir relacionamentos de comunhão; não de troca. Na comunhão, as iniciativas de amor são livres e realizam o ofício de vivificar a essência do bem no coração. Estes relacionamentos não exigem nada (nenhuma paga) em troca do amor. É claro que eles não são mágicos nem caem do céu, mas precisam, obviamente, de ser construídos com paciência e, sobretudo, com constantes iniciativas de amor.

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