Quem não experimentou já as sombrias horas de tribulação e de
angústia?! Quem não sentiu já o seu coração envolto em tristeza e ansiedade?
É esta a nossa condição humana, pois, se vivemos momentos serenos
de tranquilidade, é necessário recordar que “nem sempre assim estivemos e bem
sabemos que uma cortina negra como breu pode cair, repentina, sobre a nossa vida
e de quantos nos são próximos.
As “horas sombrias” passam por todas as pessoas e, muitas
vezes, é nesses momentos que “talvez nos tenhamos aproximado de Deus, entrado
em alguma igreja, visitado um santuário, procurado o conselho de um sacerdote”.
Ou então, o próprio
Deus veio ao nosso encontro, na presença consoladora do Espírito Santo que nos
serenou ou na pessoa de um irmão que foi para nós instrumento da Sua presença
reconfortante, consoladora e inefável, que nos fez sentir como uma ‘criança ao
colo da mãe.
Deus é “Pai de Misericórdia e Deus de toda a consolação”, um
“Deus clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade”, que se compadece dos
seus filhos e que tem por eles “entranhas de misericórdia”, um Deus que “vê a
aflição” dos seus filhos, se “reclina” sobre “o seu sofrimento e desce para o
libertar”, para apresentar Jesus Cristo, “na Sua aparente fragilidade”, como a manifestação
“em plenitude da Sua bondade e ternura”.
São Francisco Marto é o santo da contemplação e da
consolação, como “admirável exemplo” de alguém que procurou consolar o próprio
Deus – “Que pena Ele estar tão triste. Se eu O pudesse consolar!”. E, para isso
“gostava de se retirar” para, em silêncio, “rezar e pensar em Nosso Senhor,
triste por causa de tantos pecados”. E quando Lúcia lhe perguntou se estava
melhor, respondeu: “Não. Sinto-me muito pior. Já me falta pouco para ir para o
Céu. Lá vou consolar muito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora”.
O Espírito Santo é “o consolador”, que conduz os fiéis, os
ilumina interiormente e os conforta em todas as tribulações. Através dele,
experimentamos a nossa vida envolvida pelas consolações de Deus e quem experimenta
as consolações de Deus, não pode deixar de se tornar, ele mesmo, fonte de
consolação”, pois “as consolações de Deus não se esgotam em nós próprios.
Este atributo de Deus
faz-se sentir em nós e reflecte-se através de nós. Não há duas modalidades de
consolação: a de Deus, que se exerce sobre nós e a nossa, que fazemos uns sobre
os outros. É a própria consolação de Deus que, através de nós, deve iluminar e
confortar o coração de quantos se encontram atribulados.
Maria espelha a consolação de Deus
Contemplemos “o coração e a vida da Mãe do Céu” e
reconheçamos nela o espelho puríssimo
onde se reflecte a ternura e a consolação de Deus.
Como nos consola
Maria? Certamente naquela palavra, naquele olhar de ternura, naquele afago
espiritual, naquela palavra luminosa. Mas o seu principal consolo é mostrar-nos
o seu Filho Jesus.
Tornemo-nos, também nós, consoladores, em palavras e gestos
concretos carregados de ternura e compaixão.