AMOR À SANTA MISSA - A PREPARAÇÃO
"Reconhecemos que os cristãos não podem fazer coisa mais santa e mais divina do que este estupendo mistério, no qual a Vítima vivificadora, que nos reconcilia com Deus Pai, é oferecida, diariamente, pelas mãos do sacerdote sobre o altar" [CONCÍLIO DE TRENTO, SESS. 22]
COMO PARTICIPAR MELHOR DA SANTA MISSA:
Um assunto que tem uma importância fundamental na vida espiritual:
Como amar e viver cada dia melhor a Santa Missa?
Com certeza, tens este desejo: queres participar na Missa com mais fé, com mais amor, com mais fruto. Pois bem, para isso precisamos de nos perguntar muito sinceramente: Como é que eu vejo a Missa? O que a Missa é para mim?
Talvez nos ajude a achar a resposta imaginarmos agora que já foi descoberta a «máquina do tempo», sobre a qual fantasiam tantos romances e filmes. Ajudado pela máquina, tu consegues recuar mais de dois mil anos, e de repente encontras-te em Jerusalém, no ano 33 da nossa era.Com imensa emoção, notas que estás ocupando um lugar à mesa no Cenáculo, na sala onde Jesus, presente, está instituindo a Sagrada Eucaristia, e ouves suas palavras: Isto é o meu corpo, que será entregue por vós; este é o cálice do meu sangue, que será derramado por vós…». Simultaneamente, achas-te no Calvário, com Nossa Senhora e São João, ao pé da Cruz, e escutas como Jesus diz, pouco antes de morrer: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E ainda, sem intervalo de tempo, estás de novo no Cenáculo e vibras com os onze Apóstolos (Judas já se foi), radiantes de alegria porque acaba de se apresentar ali Jesus vivo, ressuscitado, e lhes mostra - a ti também - as chagas das mãos e dos pés, enquanto lhes diz: Não tenham medo, sou eu mesmo! Visto num filme, lido num grande romance, isto seria fantástico. Acontece, porém, que não estou a falar nem de filme de ficção científica nem de romance de fantasia. Falo de uma realidade, de uma tremenda e total realidade, que talvez viveste muitas vezes sem reparar, com os olhos da alma cegos, tapados pelo desconhecimento ou pela fraqueza da fé. Porque isto, tudo isto de que acabo de falar, acontece de fato, de verdade, todas as vezes que tu assistes à Santa Missa.
PARA QUE ME PREPARO?
Sei que agora não é o momento de te dar uma aula sobre a Missa. Mas, uma vez que tratamos da preparação prática para a Missa, é necessário perguntar-nos: para quê me preparo? Como é lógico, tu e eu nos prepararíamos de maneira diferente se fôssemos visitar um simples colega, ou se, por hipótese, fôssemos ter uma entrevista particular com o Papa. Pois bem, a Missa, como diz um grande teólogo (Guardini), «é uma Pessoa». É Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, no ato máximo do seu amor: naqueles momentos em que, como diz São Paulo, se entregou - morreu - pelos nossos pecados, e ressuscitou para a nossa santificação (cf. Rm 4,25 e 1 Cor 11,26). Não achas que será útil rever agora brevemente pontos básicos da nossa fé sobre a Missa, a fim de compreender como devemos prepará-la?
Leio no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica que a Eucaristia «é o próprio sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor Jesus, que ele instituiu para perpetuar pelos séculos o sacrifício da cruz, confiando assim à sua Igreja o memorial da sua morte e ressurreição» (n. 271). «Memorial» não quer dizer «lembrança», mas «presença» atual de factos que aconteceram noutro tempo, e que Deus quer eternizar.
Como ensina a Igreja, «tudo o que Cristo fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente» (Catecismo da Igreja, n. 1085). Por isso, «quando a Igreja celebra a Eucaristia [a Santa Missa], memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente» (João Paulo II, Encíclica sobre a Eucaristia, n. 11). Sendo assim, é natural que a Igreja proclame que a Eucaristia é «fonte e ápice de toda a vida cristã», e que «ela encerra todo o bem espiritual da Igreja: o mesmo Cristo» (Compêndio, n. 274).
Tu vais à Missa? Então vais ter num encontro pessoal com Jesus, no momento - atual! - em que, como diz São João, levou o seu amor por nós até ao fim, até ao extremo (Jo 13,1). Vais à Missa? Então vais ao encontro de Jesus, vivo e real, que te espera, entregando-se agora na cruz por ti, dando-se agora a ti como alimento de Vida, esperando agora por ti com o coração cheio da maior loucura de amor que se possa imaginar.
COMO PREPARA-SE BEM:
Será que todas as vezes que vais à Missa te prepara para «isso»? Não? Então, tira as consequências. A primeira e fundamental, segundo me parece, é a que exprime o ditado «amor com amor se paga». PORTANTO:
a) Seria terrível ir ao encontro de Jesus na Missa e na Comunhão com um coração que carregasse, sem se importar com isso, ofensas graves contra Deus, pecados mortais não perdoados numa boa confissão. Que falta de amor e de respeito! É lógico que a Igreja tenha ensinado sempre, sem mudar jamais, o que hoje ensina o Catecismo da Igreja:
«Quem quer receber a Cristo na comunhão eucarística deve estar em estado de graça. Se alguém tem consciência de ter pecado mortalmente, não deve comungar a Eucaristia sem ter recebido previamente a absolvição no sacramento da penitência» (n. 1415). A Igreja condena o erro dos que dizem que se pode comungar, ainda que se tenha um pecado mortal, desde que a pessoa se arrependa e se proponha confessar-se depois. Não, a confissão - fora dos casos de grave impossibilidade e necessidade de comungar - deve ser feita sempre antes de receber a Eucaristia («necessidade» de comungar é, por exemplo, o caso de perigo de morte; ou a precisão de fazer a comunhão anual, em circunstâncias onde isto só pode ser feito através de um leigo ministro da Comunhão, por falta de padre).
Depois de esclarecer isso, quero que evites uma possível confusão. Quando, infelizmente, uma pessoa não pode comungar por ter algum pecado mortal não confessado, isto não quer dizer que não possa assistir à Missa com muito proveito (pensa na Missa pelas almas, que é de grande proveito para os falecidos, ainda que evidentemente eles não possam comungar). A «necessidade» da confissão prévia é para a Comunhão, não para a Missa. Por isso, se tiver esa desgraça de algum dia não poderes comungar, vai à Missa, não percas este tesouro! Pede perdão a Jesus no coração, e confia em que aquela Missa te dará uma grande ajuda do Céu, forças para melhorar e capacidade de entender melhor o valor da confissão frequente.
b) A Missa é o máximo acto de amor de Cristo, que nela vais ao encontro deste tremendo amante, como diz o poeta Francis Thompson. Se estás convencido disso, sentirás naturalmente o desejo de te preparar fazendo, por dentro, muitos actos de contrição também pelos pecados veniais: «Perdão, Jesus, pelas faltas que não são mortais, mas são indelicadezas!». E farás actos de fé, de esperança e de amor. Antes de ir à Missa, medita bem no que vais fazer, reza algumas preces que os bons livros de orações trazem para «antes da Comunhão». O melhor mesmo seria fazer, antes da Missa, em casa ou na igreja, uns minutos de oração mental. Às vezes isto será difícil (pois outras pessoas da família se atrasam, ou viajaste e chegas em cima da hora, etc.), mas sempre se pode conseguir um pouco de recolhimento interior e dizer breves orações no carro, na condução ou andando pela rua.
c) É diferente a preparação que deveríamos fazer conforme fôssemos simplesmente encontrar um colega, ou fôssemos visitar o Papa. Pois bem, na Missa e na Comunhão espera-nos, acolhe-nos, vem a nós, alguém infinitamente maior que qualquer outro ser humano, por importante que seja: Jesus, Deus e Homem. Achas lógico irmos ao encontro dEle relaxados, usando por comodismo camiseta e chinelos; ou, no caso das mulheres, vestindo um tipo de roupa - ou de escassez de roupa - que em nenhuma hipótese ousariam usar numa visita ao Papa? Então, repito o que antes dizia: tira as consequências.
COMO PARTICIPAR
"A Santa Missa é o sacrifício que detém a justiça Divina, que rege toda a Igreja, que salva o mundo. Uma Missa bem assistida em vida será mais útil à tua salvação do que tantas outras que mandarem celebrar por ti após a tua morte" - SANTO PADRE PIO DE PIETRELCINA
A FAMÍLIA DE DEUS:
A Igreja deseja que todos os fiéis participem na Missa «com conhecimento de causa, ativa e frutuosamente». Esta foi uma das metas que propôs o Concílio Vaticano II (Constituição sobre a Liturgia, n. 11). Pois bem, é sobre isto que agora vamos conversar. Imagina que já estás dentro da igreja ou capela onde vai ser celebrada a Missa. Quem é que lá se reuniu? Um grupo - grande ou pequeno - de fiéis. A Missa não é uma oração individual. É a oração, o culto de uma família reunida, da família de Deus, de que fala São Paulo, referindo-se à Igreja (Ef 2,19). Quer dizer que a Missa é um acto comunitário, mas um acto comunitário especial, porque cada uma das Missas - qualquer Missa - não é apenas o culto de uma comunidade concreta, mas da Igreja inteira.
Na realidade, em cada Missa é sempre a Igreja toda, o Corpo de Cristo (1 Cor 12,12), que, juntamente com Jesus - Cabeça deste Corpo, Sacerdote Eterno, Celebrante principal e Vítima do Sacrifício -, se oferece a Deus Pai, na unidade do Espírito Santo. O sacerdote celebrante é apenas o «instrumento vivo de Cristo Sacerdote». Não te esqueças nunca disto, e pensa que esta realidade grandiosa se dá mesmo numa Missa a que assista uma só pessoa.
Mas voltemos ao que dizíamos no início. Imagine que estás a começar a participar na Santa Missa. Se a Missa é - como de facto é - um acto de Cristo e da Igreja, é natural que o teu coração - com os dos que participam desta Missa - bata bem unido ao coração de Jesus e ao coração da Igreja, seu Corpo inseparável. Esta é a principal participação: a união sincera, íntima, amorosa, com a oração da Igreja, ou seja, com a Liturgia santa da Igreja. Sem ela, qualquer outra participação é superficial ou falha.
PARTICIPAÇÃO EXTERNA E INTEIRA:
Por isso a Igreja insiste em que a principal «participação» é a interior. As orações litúrgicas, que todos devemos recitar em comum, serão «nossas», se realmente são «minhas», isto é, se são preces vividas intimamente por mim, por ti, e não sons externos que se limitam a acompanhar os sons de outras pessoas (falados ou cantados). Penso que isto se pode resumir bem com umas palavras de São Josemaria Escrivá: «Viver a Santa Missa é permanecer em oração contínua» (É Cristo que passa, n. 88).
Como deve ser esta oração? Alguns dos modos (podem ser muitos) de «orar na Missa».
1) Nos ritos iniciais, toda Missa inclui um «acto penitencial». Com a tua oração, unida à do celebrante e à dos outros participantes, realiza neste momento o que o Catecismo da Igreja chama «o primeiro movimento da oração de súplica», o «pedido de perdão» (n. 2631), lembrando a seguir a parábola do fariseu e o publicano: Deus não ouviu, no Templo, a oração vaidosa do fariseu, mas acolheu com carinho a oração humilde do publicano: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador! (Lc 18,13). Por isso, procura rezar ou cantar este acto penitencial fomentando a dor pelos teus pecados e pelas tuas indelicadezas para com Deus.
2) Após a «oração coleta» recitada pelo sacerdote, começa a Liturgia da Palavra. Por meio das leituras bíblicas, Deus nos fala, (Palavra do Senhor! - dizemos). E esta Palavra de Deus é, para cada um de nós, um começo de conversa, um apelo que se dirige à alma e sugere - sob a inspiração do Espírito Santo - uma resposta. Portanto, também esta parte da Missa é oração, diálogo. Escuta as leituras e o seu comentário - a homilia - com atenção. Caso ouças mal (coisa não rara, às vezes) acompanha-as lendo os textos do dia no folheto dominical, no impresso da Liturgia semanal, ou num missal dos fiéis…, mas acompanha. A própria Liturgia, depois, ajuda a responder à Palavra com o Salmo responsorial e a aclamação ao Evangelho. Mas tu, que queres aprofundar na vida espiritual, não te contentes com isto. Vai mais a fundo. Um bom costume é fazer, antes da Missa, um tempo de oração sobre estas leituras.
3) A segunda parte da Missa, riquíssima - centro e cume da Missa -, é a Oração Eucarística, que começa com o Prefácio. Tudo, nesta parte - especialmente no seu ápice, a Consagração, que é a essência da Missa -, eleva e arrasta para uma oração intensa, maravilhosa, que nunca - por longa que seja a nossa vida - nos cansaremos de vivenciar e saborear. Ao contrário, a pessoa que ama a Missa, descobre nela cada dia mais uma «fonte de águas vivas» inesgotável, que sacia sem saciar. Acompanha, pois, atentamente, com sede espiritual, cada palavra, como a abelha que vai libando o mel de cada flor. «Diz» estas palavras a Deus, fazendo-as «tuas». E pede a nosso Senhor que te livre do absurdo de assistir como um espectador, que só fica observando e julgando como é que o padre se mexe, fala ou canta. Nunca esqueças que nós, os padres, não somos nem o centro nem o pivô da Missa. E que, às vezes, tu terás que te esforçar bastante por viver bem o Sacrifício da Missa, «apesar de nós, os padres».
4) Referência aos gestos e posições do corpo previstos na liturgia da Igreja.
Eles também são oração: de pé, de joelhos, fazendo uma inclinação profunda (por ex., ao dizer E se encarnou…, no Credo mais longo), sentados…
Os gestos são «símbolos», como o são as palavras. Tanto valor tem para exprimir o amor entre os esposos uma palavra carinhosa, como o gesto de dar uma flor ou um beijo. Para uma pessoa que ama, seria incompreensível desprezar ou dispensar estes gestos e atitudes. Na Missa, ajudam o espírito a acompanhar melhor a oração, a viver atentamente a escuta orante da Palavra, a expressar a adoração, a união fraterna (rito da paz), a receber com reverência o Corpo de Cristo na Comunhão, etc. E, além disso, são gestos vividos em conjunto, que refletem a união da «família de Deus», que quer viver o máximo momento da vida cristã com as mesmas expressões de fé e oração. Talvez queiras perguntar: Que fazer quando se indicam ou praticam gestos se afastam da liturgia e até a contrariam?
O PAPA BENTO XVI lamenta-os e diz que a liturgia, que é «ação de Deus [...], não está a mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras» (Exortação Sacramentum caritatis, n. 37), frisando ainda que «a simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas» (n. 40).
O que não está de acordo com a Liturgia da Igreja não obriga em consciência. Não temos por que obedecer a uma desobediência. Mas devemos evitar atitudes que manifestem externamente crítica ou falta de caridade.