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O que todo o católico deve saber antes de comungar
- 28-10-2019
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O que todo ocatólico precisa de saber antes de comungar
As quatro condições necessárias, estabelecidas pelo próprioMagistério da Igreja, para receber com frequência e fruto a Sagrada Comunhão.
Há hoje um grande problema entre os católicos que ainda participamna Missa: a recepção colectiva e indiscriminada da Sagrada Comunhão, mesmo porquem não se encontra bem preparado e disposto para receber com fruto o Corpo doSenhor. Trata-se de um problema grave, denunciado com palavras claras e directaspelo Papa João Paulo II e pelo Papa Bento XVI:
Algumas vezes, ou, melhor dito, em casos bastante numerosos,todos os participantes na assembleia eucarística se apresentam à Comunhão; mas,certas vezes, como confirmam pastores avisados, não houve a devida preocupaçãode se aproximar do sacramento da Penitência para purificar a própriaconsciência. [1]
Este trecho poderia até ganhar o prémio de “melhoreufemismo”, mas o seu sentido, em todo o caso, é indiscutível: purificar aprópria consciência por meio da confissão sacramental frequente — sobretudoquando se cometeu algum pecado mortal — é o único meio de garantir a reverênciadevida a Nosso Senhor Jesus, o Santo de Israel, realmente presente noSantíssimo Sacramento como viático para esta nossa peregrinação rumo ao céu.
Como ensina a Igreja, a Eucaristia não é um remédio para osque estão espiritualmente mortos, mas alimento para os que, já estando vivos,precisam de ser fortalecidos na caridade. Podemos passar um dia inteiro dandode comer a um cadáver, mas esse alimento de nada servirá.
Na vida espiritual, a situação é ainda pior: quando um homemespiritualmente morto come do pão da vida, a sua culpa agrava-se. Entregar tãosagrado alimento a pecadores públicos e impenitentes, é como amontoar brasasvivas sobre a cabeça tanto de quem administra como de quem recebe a Eucaristia(cf. Rm 12, 20). Não há meio termo; este é o ensinamento unânime dos Padres,Doutores e Papas, guardiões da fé católica.
O Papa Bento XVI fez notar numa entrevista quanto oescandalizava ver multidões aproximarem-se para comungar durante grandeseventos no Vaticano, situações em que, obviamente, os participantes são emgrande parte apenas turistas e visitantes, ou católicos sem as disposiçõesrequeridas para comungar (pela falta de jejum eucarístico, por exemplo). Porisso, o Pontífice reintroduziu o costume do genuflexório e da comunhão nalíngua, para que as pessoas assim se lembrassem de que a Comunhão é um ritualsagrado, que envolve ninguém menos do que o Santíssimo:
Justamente nas celebrações de massa, como as na Basílica deSão Pedro ou na Praça, o perigo da banalização é grande. Num contextosemelhante, no qual se pensa que é óbvio receber a Comunhão — da série: todosvão lá à frente, então também faço o mesmo —, queria apresentar um sinal forte,isto deve ficar claro: “É algo particular! Aqui está ele, diante dele é quecaímos de joelhos. Prestem atenção! Não se trata de um rito social qualquer, doqual se pode participar ou não”. [2]
Os motivos desta preocupação são, no fundo, bastante simples.O Concílio de Trento expressa-os com brevidade e clareza incomparável:
Se não convém aproximar-se de nenhuma função sagrada a nãoser santamente, por certo, quanto mais o cristão descobre a santidade e adivindade deste sacramento celeste, tanto mais cuidará diligentemente de seaproximar dele só com grande reverência e santidade, principalmente quandolemos no Apóstolo estas palavras terríveis: “Quem come e bebe indignamente,come e bebe a própria condenação, não distinguindo o corpo do Senhor” (1Cor 11,29). Por isso, a quem quiser comungar se deve lembrar o preceito: “Que o homemse examine a si mesmo” (1Cor 11, 28). [3]
À vista disto, os católicos precisam de saber o que significater o cuidado de não se aproximar do Eucaristia “sem grande reverência esantidade”. Quais são, pois, as condições necessárias à recepção frutuosa efrequente do Santíssimo Sacramento?
A resposta a esta pergunta foi dada de forma autoritária em1905 pelo decreto Sacra Tridentina Synodus, um reflexo da mente e da vontade doPapa S. Pio X. Em resposta a insistentes formas de jansenismo que dissuadiam osfiéis de se aproximar do altar, S. Pio X reduziu a idade mínima da primeiracomunhão e encorajou o costume da comunhão eucarística frequente. As condiçõesrequeridas são as seguintes:
Em primeiro lugar, quem quiser aceder ao sagrado banquetedeve estar em estado de graça, ou seja, não pode estar consciente de nenhumpecado mortal ainda não perdoado no sacramento da Confissão.
Em segundo, deve-se ter “intenção recta e piedosa”. O decretoassim define esta condição: “A recta intenção consiste nisto, que quem acede àsagrada mesa não o faça por costume, vaidade ou por razões humanas, mas queirasatisfazer o desejo de Deus, bem como unir-se mais estreitamente a Ele pelacaridade e socorrer as suas enfermidades e defeitos com o remédio divino”.
Por outras palavras, a comungante deve estar consciente doque está a fazer, de Quem irá receber (logo, sem espírito de rotina) e de que ofaz para satisfazer o desejo de Deus e santificar a própria alma mediante umamais estreita união com Ele, e não pelo que os outros podem pensar (logo, semvaidade e não por razões humanas).
Em terceiro lugar, “embora seja sumamente conveniente que osque comungam todos os dias estejam livres de pecados veniais, ao menos doscompletamente voluntários, nem estejam inclinados a eles, todavia é suficienteque não tenham pecado mortal e o propósito de no futuro não mais pecar”.
É particularmente importante ressaltar este ponto hoje emdia, dada a grande confusão que existe entre os fiéis. Um católico que não tema intenção de abandonar a vida de pecado, cooperando numa ação objectivamentepecaminosa (como, por exemplo, unir-se civilmente a outra pessoa enquanto olegítimo cônjuge ainda vive) talvez nunca possa receber a Santa Comunhão, jáque lhe falta “o propósito de no futuro não mais pecar”.
Por fim, embora não seja absolutamente necessário que ocomungante preceda à santa comunhão com uma longa e cuidadosa preparação nemque reserve depois algum tempo à acção de graças, ambas as coisas — preparaçãoe acção de graças — são vitais para que se colham com abundância os frutos daSagrada Eucaristia, pois, como diz o Decreto, “este Sacramento […] produz tantomais efeito quanto maiores e mais proporcionadas são as disposições de quem orecebe”.
Sem levar em conta os secretos desígnios de Deus, que podeelevar umas almas mais do que outras, é (no que a nós diz respeito) o exercíciode uma fé viva e o ardor da devoção actual com que se aproxima do altar e secomunga o Corpo de Cristo o que diferencia os que, pela comunhão diária, setornam santos daqueles que parecem não sair do lugar mesmo com o toque diáriodo Senhor.
Em resumo, as quatro condições necessárias para aceder comfrequência e fruto à Sagrada Comunhão são: 1) estar em estado de graça; 2) teruma intenção recta e piedosa; 3) não estar apegado ao pecado, no sentido de tero propósito de não mais pecar no futuro; e 4) preparar-se antes e dar graçasdepois.
Que resultado teremos se observarmos os sábios conselhos daSanta Madre Igreja? É o mesmo Decreto que responde: “Por meio da Comunhão frequenteou diária estreita-se a união com Cristo, robustece-se a vida espiritual,enriquece-se a alma com maior tesouro de virtudes e assegura-se melhor a vidaeterna”.
Que grande privilégio! E que grande desafio é viver de talmodo que possamos crescer em graça e pureza, fé e devoção!
Referências
1. Papa S. JoãoPaulo II, Carta Dominicae Cenae (24 de Fevereiro de 1980), n. 11.
2. Papa BentoXVI, Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos (trad. bras. dePaulo F. Valério), São Paulo: Paulinas, 2011, p. 191.
3. Concílio deTrento, Decreto sobre o sacramento da Eucaristia, sessão XIII, c. 7 (DH 1646).