Pela Carta Apostólica, sob a forma de Motu proprio, Antiquum
Ministerium (O Ministério Antigo), de 10 de Maio do corrente ano, o Santo Padre
Papa Francisco instituiu o Ministério de Catequista.
1. MINISTÉRIO ANTIGO é o de Catequista na Igreja. Os teólogos
pensam, comumente, que se encontram os primeiros exemplos já nos escritos do
Novo Testamento. A primeira forma, germinal, deste serviço do ensinamento
achar-se-ia nos «mestres» mencionados pelo apóstolo Paulo ao escrever à
comunidade de Corinto: «E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em
primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, mestres; em
seguida, há o dom dos milagres, depois o das curas, o das obras de assistência,
o de governo e o das diversas línguas. Porventura são todos apóstolos? São
todos profetas? São todos mestres? Fazem todos milagres? Possuem todos o dom
das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? Aspirai, porém, aos
melhores dons. Aliás vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros»
(1 Cor 12, 28-31).
O próprio Lucas afirma, na abertura do seu Evangelho:
«Resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a
origem, expô-los [os factos que entre nós se consumaram] a ti por escrito e
pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina
em que foste instruído» (Lc 1, 3-4). O evangelista parece bem ciente de estar a
fornecer, com os seus escritos, uma forma específica de ensinamento que permite
dar solidez e vigor a quantos já receberam o Batismo. E voltando ao mesmo tema,
o apóstolo Paulo recomenda aos Gálatas: «Mas quem está a ser instruído na
Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens» (Gal 6,
6). Como se vê, o texto acrescenta uma peculiaridade fundamental: a comunhão de
vida como caraterística da fecundidade da verdadeira catequese recebida.
2. Desde os seus primórdios, a comunidade cristã conheceu uma
forma difusa de ministerialidade, concretizada no serviço de homens e mulheres
que, obedientes à ação do Espírito Santo, dedicaram a sua vida à edificação da
Igreja. Os carismas, que o Espírito nunca deixou de infundir nos batizados,
tomaram em certos momentos uma forma visível e palpável de serviço à comunidade
cristã nas suas múltiplas expressões, chegando ao ponto de ser reconhecido como
uma diaconia indispensável para a comunidade. E assim o interpreta o apóstolo
Paulo, com a sua autoridade, quando afirma: «Há diversidade de dons, mas o
Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há
diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um
é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. A um é dada, pela ação
do Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo
o mesmo Espírito; a outro, a fé, no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas,
no único Espírito; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a
outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro,
por fim, a interpretação das línguas. Tudo isto, porém, o realiza o único e o
mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz» (1 Cor 12, 4-11).
Por conseguinte é possível reconhecer, dentro da grande
tradição carismática do Novo Testamento, a presença concreta de batizados que
exerceram o ministério de transmitir, de forma mais orgânica, permanente e
associada com as várias circunstâncias da vida, o ensinamento dos apóstolos e
dos evangelistas (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 8). A
Igreja quis reconhecer este serviço como expressão concreta do carisma pessoal,
que tanto favoreceu o exercício da sua missão evangelizadora. Olhar para a vida
das primeiras comunidades cristãs, que se empenharam na difusão e progresso do
Evangelho, estimula também hoje a Igreja a perceber quais possam ser as novas
expressões para continuarmos a permanecer fiéis à Palavra do Senhor, a fim de
fazer chegar o seu Evangelho a toda a criatura.
3. Toda a história da evangelização destes dois milénios
manifesta, com grande evidência, como foi eficaz a missão dos catequistas.
Bispos, sacerdotes e diáconos, juntamente com muitos homens e mulheres de vida
consagrada, dedicaram a sua vida à instrução catequética, para que a fé fosse
um válido sustentáculo para a existência pessoal de cada ser humano. Além
disso, alguns reuniram à sua volta outros irmãos e irmãs, que, partilhando o
mesmo carisma, constituíram Ordens religiosas totalmente dedicadas ao serviço
da catequese.
Não se pode esquecer a multidão incontável de leigos e leigas
que tomaram parte, diretamente, na difusão do Evangelho através do ensino
catequístico. Homens e mulheres, animados por uma grande fé e verdadeiras
testemunhas de santidade, que, em alguns casos, foram mesmo fundadores de Igrejas,
chegando até a dar a sua vida. Também nos nossos dias, há muitos catequistas
competentes e perseverantes que estão à frente de comunidades em diferentes
regiões, realizando uma missão insubstituível na transmissão e aprofundamento
da fé. A longa série de Beatos, Santos e Mártires catequistas que marcou a
missão da Igreja, merece ser conhecida, pois constitui uma fonte fecunda não só
para a catequese, mas também para toda a história da espiritualidade cristã.
4. A partir do Concílio Ecuménico Vaticano II, a Igreja
apercebeu-se, com renovada consciência, da importância do compromisso do
laicado na obra de evangelização. Os Padres conciliares reafirmaram várias
vezes a grande necessidade que há, tanto para a implantação da Igreja como para
o crescimento da comunidade cristã, do envolvimento direto dos fiéis leigos nas
várias formas em que se pode exprimir o seu carisma. «É digno de elogio aquele
exército com tantos méritos na obra das missões entre pagãos, o exército dos
catequistas, homens e mulheres, que, cheios do espírito apostólico, prestam com
grandes trabalhos uma ajuda singular e absolutamente necessária à expansão da
fé e da Igreja. Hoje em dia, em razão da escassez de clero para evangelizar tão
grandes multidões e exercer o ministério pastoral, o ofício dos catequistas tem
muitíssima importância» (Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Ad gentes, 17).
A par do rico ensinamento conciliar, é preciso referir o
interesse constante dos Sumos Pontífices, do Sínodo dos Bispos, das
Conferências Episcopais e dos vários Pastores, que, no decorrer destas décadas,
imprimiram uma notável renovação à catequese. O Catecismo da Igreja Católica, a
Exortação apostólica Catechesi tradendae, o Diretório Catequístico Geral, o
Diretório Geral da Catequese, o recente Diretório da Catequese, juntamente com
inúmeros Catecismos nacionais, regionais e diocesanos são expressão do valor
central da obra catequística, que coloca em primeiro plano a instrução e a formação
permanente dos crentes.
5. Sem diminuir em nada a missão própria do Bispo – de ser o
primeiro Catequista na sua diocese, juntamente com o presbitério que partilha
com ele a mesma solicitude pastoral – nem a responsabilidade peculiar dos pais
relativamente à formação cristã dos seus filhos (cf. CIC cân. 774 §2; CCEO cân.
618), é necessário reconhecer a presença de leigos e leigas que, em virtude do
seu Batismo, se sentem chamados a colaborar no serviço da catequese (cf. CIC
cân. 225; CCEO câns. 401 e 406). Esta presença torna-se ainda mais urgente nos
nossos dias, devido à renovada consciência da evangelização no mundo
contemporâneo (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 163-168) e à
imposição duma cultura globalizada (cf. Francisco, Carta enc. Fratelli tutti,
100.138), que requer um encontro autêntico com as jovens gerações, sem esquecer
a exigência de metodologias e instrumentos criativos que tornem o anúncio do
Evangelho coerente com a transformação missionária que a Igreja abraçou.
Fidelidade ao passado e responsabilidade pelo presente são as condições
indispensáveis para que a Igreja possa desempenhar a sua missão no mundo.
Despertar o entusiasmo pessoal de cada batizado e reavivar a
consciência de ser chamado a desempenhar a sua missão na comunidade requer a
escuta da voz do Espírito que nunca deixa faltar a sua presença fecunda (cf.
CIC cân. 774 §1; CCEO cân. 617). O Espírito chama, também hoje, homens e
mulheres para irem ao encontro de tantas pessoas que esperam conhecer a beleza,
a bondade e a verdade da fé cristã. É tarefa dos Pastores sustentar este
percurso e enriquecer a vida da comunidade cristã com o reconhecimento de
ministérios laicais capazes de contribuir para a transformação da sociedade
através da «penetração dos valores cristãos no mundo social, político e
económico» (Evangelii gaudium, 102).
6. O apostolado laical possui, indiscutivelmente, uma
valência secular. Esta exige «procurar o Reino de Deus, tratando das realidades
temporais e ordenando-as segundo Deus» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen
gentium, 31). A sua vida diária é tecida de encontros e relações familiares e
sociais, o que permite verificar como «são especialmente chamados a tornarem a
Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias em que, só por meio
deles, ela pode ser o sal da terra» (Lumen gentium, 33). Entretanto é bom recordar
que, além deste apostolado, «os leigos podem ainda ser chamados, por diversos
modos, a uma colaboração mais imediata no apostolado da Hierarquia, à
semelhança daqueles homens e mulheres que ajudavam o apóstolo Paulo no
Evangelho, trabalhando muito no Senhor» (Lumen gentium, 33).
No entanto, a função peculiar desempenhada pelo Catequista
especifica-se dentro doutros serviços presentes na comunidade cristã. Com
efeito, o Catequista é chamado, antes de mais nada, a exprimir a sua
competência no serviço pastoral da transmissão da fé que se desenvolve nas suas
diferentes etapas: desde o primeiro anúncio que introduz no querigma, passando
pela instrução que torna conscientes da vida nova em Cristo e prepara de modo
particular para os sacramentos da iniciação cristã, até à formação permanente
que consente que cada batizado esteja sempre pronto «a dar a razão da sua
esperança a todo aquele que lha peça» (cf. 1 Ped 3, 15). O Catequista é
simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo
que instrui em nome da Igreja. Uma identidade que só mediante a oração, o
estudo e a participação direta na vida da comunidade é que se pode desenvolver
com coerência e responsabilidade (cf. Cons. Pont. para a Promoção da Nova
Evangelização, Diretório da Catequese,113).
7. Com grande clarividência, São Paulo VI emanou a Carta
apostólica Ministeria quaedam tendo em vista não só adaptar ao novo momento
histórico os ministérios de Leitor e Acólito (cf. Carta ap. Spiritus Domini),
mas também pedir às Conferências Episcopais para promoverem outros ministérios,
entre os quais o de Catequista: «Além destes ministérios comuns a toda a Igreja
Latina, nada impede que as Conferências Episcopais peçam outros à Sé
Apostólica, se, por motivos particulares, julgarem a sua instituição necessária
ou muito útil na sua região. Tais são, por exemplo, as funções de Ostiário, de
Exorcista e de Catequista». O mesmo instante convite voltava na Exortação
apostólica Evangelii nuntiandi, quando, ao pedir para saber ler as exigências
atuais da comunidade cristã numa continuidade fiel com as origens, exortava a
encontrar novas formas ministeriais para uma pastoral renovada: «Tais
ministérios, novos na aparência mas muito ligados a experiências vividas pela
Igreja ao longo da sua existência – por exemplo, o de Catequista (…) – , são
preciosos para a implantação, a vida e o crescimento da Igreja e para a sua
capacidade de irradiar a própria mensagem à sua volta e para aqueles que estão
distantes» (São Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 73).
Com efeito, não se pode negar que «cresceu a consciência da
identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se
contar com um numeroso laicado, dotado de um arreigado sentido de comunidade e
uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração
da fé» (Evangelii gaudium, 102). Por conseguinte, receber um ministério laical
como o de Catequista imprime uma acentuação maior ao empenho missionário típico
de cada um dos batizados que, no entanto, deve ser desempenhado de forma
plenamente secular, sem cair em qualquer tentativa de clericalização.
8. Este ministério possui uma forte valência vocacional, que
requer o devido discernimento por parte do Bispo e se evidencia com o Rito de
instituição. De facto, é um serviço estável prestado à Igreja local de acordo
com as exigências pastorais identificadas pelo Ordinário do lugar, mas
desempenhado de maneira laical como exige a própria natureza do ministério.
Convém que, ao ministério instituído de Catequista, sejam chamados homens e
mulheres de fé profunda e maturidade humana, que tenham uma participação ativa
na vida da comunidade cristã, sejam capazes de acolhimento, generosidade e vida
de comunhão fraterna, recebam a devida formação bíblica, teológica, pastoral e
pedagógica, para ser solícitos comunicadores da verdade da fé, e tenham já
maturado uma prévia experiência de catequese (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr.
Christus Dominus, 14; CIC cân. 231 §1; CCEO cân. 409 §1). Requer-se que sejam
colaboradores fiéis dos presbíteros e diáconos, disponíveis para exercer o
ministério onde for necessário e animados por verdadeiro entusiasmo apostólico.
Assim, depois de ter ponderado todos os aspetos, em virtude
da autoridade apostólica,
Instituo o ministério laical de Catequista.
Dado em Roma, junto de São João de Latrão, na Memória
litúrgica de São João de Ávila, Presbítero e Doutor da Igreja, dia 10 de Maio
do ano de 2021, nono do meu pontificado.
Francisco