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O Demónio existe

Pai dos mentirosos

 PAI DOS MENTIROSOS

“Doutor dos hereges, mestre dos impudicos, Pai dos mentirosos, Príncipe do mal”, é ele o autor do sofrimento… - Mons. de Ségur

O demónio é o autor responsável dos nossos sofrimentos

O homem pecou por instigação do demónio: era justo que fosse punido; e Deus puniu-o abandonando-o, até certo ponto, ao poder do demónio.

Se não fosse com medo de nos alongarmos, caberia aqui explicar com detalhes como todo o mal que existe no mundo, todas as desordens perturbadoras da natureza, todas e quaisquer destruições, resultam da maldita influência deste grande espírito, criado por Deus para ser como que administrador de todo o mundo material.

Tais desordens e destruições não podem provir de Deus, que é a ordem infinita; não provém dos anjos, que são ministros de paz, de ordem e de vida; não procedem dos elementos materiais, de si destituídos de poderes e movimento:

Logo vêm desta força secreta e detestável chamada demónio, que, posto que não possa destruí-la, perturba a bela harmonia da natureza.

Assim é que, por mais de mil maneiras, que os sábios chamam causas secundárias, o autor do mal a espaços conturba a atmosfera e nela produz os temporais, as tempestades, o granizo, o raio e quantas assolações os acompanham.

É assim que, para fazer mal ao homem e às outras criaturas de Deus, ele empeçonha esta e aquela planta, este e aquele suco, e comunica o seu furor a alguns animais.

É também assim que, com permissão divina, ele suscita no ar e na água animais microscópicos, que difundem sobre a terra terríveis epidemias, as tão assoladoras enfermidades contagiosas: a peste, a cólera, a varíola, todas as variedades de febres, etc.

A Medicina e a Ciência reconhecem os efeitos destas enfermidades; combatem e por vezes cerceiam-lhes os estragos, mediante remédios, nos quais é latente o influxo benefício e misericordioso de Deus e dos anjos.

Mas só a fé descortina a causa invisível de todos estes males, disseminados pelo inimigo de Deus e dos homens, o pai do mal, o horrível demónio, que está escondido como malfeitor que é.

É a fonte de que dimanam todos os males que sofremos. É o instigador de todos os crimes

Mais do que ninguém, aquele que deve vergar ao peso da nossa indignação, quando nos vemos a braços com a perversidade e com as ruins paixões dos homens, é ele tão somente, que os incita ao pecado.

A inveja, a cólera, a impiedade que mataram Abel, foi ele que as suscitou no coração de Caim; deste modo fez, primeiro que todos, correr o sangue do homem e espremeu-lhe as primeiras lágrimas.

Foi, é e será até ao fim o instigador de todos os crimes, de todas as rebeldias, de todas as cruezas, de todos os erros, de todas as infâmias do género humano.

Todo o pecado, toda a desordem o tem por fundamento. Por isso a Igreja, na sua linguagem enérgica e profunda, o cognomina doutor dos hereges, mestre dos impudicos, pai dos mentirosos, príncipe do mal.

E a sua astúcia, que poucas vezes falha, consiste em se esconder sempre e em persuadir as suas infelizes vítimas a achar que vêm de Deus os males que sofrem.

Daqui procede a blasfêmia, extraordinário e abominável mistério, pelo qual o homem infiel, quando a si próprio faz mal ou quando lho fazem, clama e se irrita contra Deus, ameaça-o e maldiz o seu santo nome.

O blasfemador que maldiz a Deus assemelha-se ao indivíduo que, ameaçado por um assassino e defendido por um amigo, confunde-se um com o outro, e, deixando intacto o assassino, arremetesse contra o amigo e o matasse.

O demónio é, pois, o autor secreto e universal do mal, e portanto do sofrimento. Todos e quaisquer males, vêm direta ou indiretamente dele; assim como todos e quaisquer bens direta ou indiretamente vêm de Deus.

Nunca imputemos a Deus o que é obra do demónio…

E assim como Deus distribui a vida a todas as criaturas pelo ministério dos seus anjos fiéis, assim também Satanás, o maior dos anjos rebelados, difunde na criação a rebeldia, a desordem e o mal, coadjuvado por todos os outros anjos maus, que o acompanharam na sua rebeldia.

A luta invisível, que em nós tão dolorosamente repercute, só no fim do mundo acabará, porque a fidelidade ou infidelidade dos anjos não lhes pode torcer a vocação, que consiste em administrar ou governar os elementos da matéria.

De facto, não é à míngua de poder ou de bondade que o Senhor tolera o influxo maléfico dos demónios através dos séculos; a sua soberana sabedoria assim o requer, porque não pode a criatura mudar a seu talante os planos do Criador.

Muitos vêem as coisas por um prisma falso só porque ignoram isto.

Uma senhora, bastante piedosa e de muita virtude até então, não tendo podido livrar uma filha de terrível enfermidade, perdeu, pode-se dizer, a fé, convenceu-se que Deus era surdo aos seus rogos, deixou de servi-lo e passou o resto da vida em sombrio desespero. Infeliz! Se ela soubesse, ou antes, se tivesse querido saber!

Um excelente pai de família, da Bretanha, cristão prático, tendo perdido consecutivamente a mulher e um filho, tão cegamente pôs à conta de Deus a sua desgraça, que, há já vinte anos, deixou de rezar e de participar em qualquer acto de piedade; nem mais foi à Igreja.

Durante o cerco de Mans pelos prussianos, declarava uma senhora que, se eles penetrassem na cidade, nunca mais rezaria nem iria à Missa. “Se, dizia a infeliz desvairada, eles entrarem, será sinal evidente de que o Céu nos abandonou. E então para que invocar mais a Deus?”

Estejamos sempre prevenidos contra as ilusões, e nunca imputemos a Deus, extremamente o bom, o que é obra do demónio e dos que o servem.

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