Fala um exorcista: A estratégia de Satanás é confundir
Satanás existe e a sua estratégia é a confusão, constata nesta entrevista o padre Pedro Mendoza Pantoja, exorcista da arquidiocese do México.
- O que é um exorcista?
- É um bispo ou um sacerdote designado por este, que, por mandato de Jesus e em nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, faz uma oração na qual, de forma imperativa, em caso de possessão diabólica, ordena a Satanás sair e deixar em total liberdade o possesso, ou, de forma depreciativa, quer dizer, de intercessão ou súplica, pede-se que, pelo sangue precioso de Cristo e a intercessão da Virgem Maria, seja libertada uma pessoa, lugar, casa ou coisa de toda a influência demoníaca: infestação, obsessão ou opressão.
- Qualquer pessoa pode ser exorcista?
- Não. De acordo com o Evangelho, Cristo enriqueceu os seus apóstolos com dons carismáticos quando os enviou a evangelizar. Em Mateus 10, 1 diz: «E chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos para os expulsar e para sanar toda a enfermidade e toda a doença». Pode-se ler também em Marcos 16, 17-18. Pelo mesmo, corresponde aos bispos, sucessores dos apóstolos, exercer este ministério e expulsar os demónios; mas eles, de acordo com o cânon 1172 do Código de Direito Canónico, podem designar para exercer este ministério, de uma maneira estável ou para um caso especial, «um presbítero piedoso, douto, prudente e com integridade de vida». Isto falando de possessões diabólicas e, pelo mesmo, de exorcismo propriamente dito, chamado também exorcismo solene.
Mas todo o presbítero pela sua ordenação participa do sacerdócio ministerial de Cristo e tem com Ele a missão de libertar os fiéis de toda a obsessão, opressão ou influência demoníaca, com orações depreciativas de intercessão e súplica, com a evangelização e administração dos sacramentos, principalmente da Penitência e Eucaristia. Pelo mesmo, todo o sacerdote é exorcista quanto à Pastoral de Libertação dentro da sua missão de evangelizar, isto é, por mandato de Cristo; não precisa de ser designado para realizar o chamado exorcismo menor. Os leigos não podem ser exorcistas.
- Há também os «Auxiliares de Libertação». Quem são e o que fazem estas pessoas?
Auxiliares de Libertação são: os sacerdotes que não têm o carácter de exorcista oficial, médicos, psiquiatras, religiosos e leigos que ajudam o sacerdote exorcista no discernimento ou auxiliando-o no exercício do seu ministério, bem com a sua oração de intercessão ou em diversas eventualidades. Os sacerdotes auxiliam com oração de libertação e os leigos com oração de intercessão. O sacerdote não-exorcista oficial pode fazer o exorcismo menor, chamado também oração de libertação, auxiliado por sua vez por todos os leigos que o acompanham no discernimento e com orações de intercessão. Os leigos não podem fazer orações de libertação.
- Nos últimos 40 anos a figura do exorcista estava a desaparecer. É verdade? Efectivamente é. As causas são várias, mas diríamos que estão englobadas no grande desafio que a segunda metade do século passado apresenta à Igreja na sua tarefa de evangelização.
Na primeira metade, Satanás atacava a humanidade no campo das ideias e do pensamento: racionalismo, materialismo, gnosticismo, maçonaria, rosacrucismo, sectarismo, socialismo, marxismo-leninismo, etc., que afastam o homem de Deus. Por uma parte a negação de um Deus pessoal e a negação também da existência de Satanás como um ser pessoal, mudando o Deus Verdadeiro por um deus impessoal que se identifica com este mundo material e reduzindo Satanás a um mero símbolo. Várias nações se viram imersas em duas grandes guerras. E outras tantas sofreram revoluções e perseguições religiosas, derramando-se o sangue de muitos cristãos que sofreram o martírio como testemunho da sua fé. Contudo, a Igreja Católica mantinha-se como baluarte de evangelização. A família era a primeira escola da fé, fé que estava inculturada nas suas tradições e manifestava-se no actuar das associações católicas e nas celebrações litúrgicas, conseguindo-se assim enraizar o povo na sua fé.
Não faltaram lendas de bruxos, feiticeiros e tudo o que há agora, mas não eram relevantes nem se lhes dava importância; não havia necessidade de exorcismos, estes só se efectuavam no rito do baptismo.
Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, em 1945, começa uma revolução industrial: os grandes consórcios mundiais, que até então tinham o grande negócio da fabricação de implementos de guerra, mudam à fabricação de implementos domésticos. Evoluindo aceleradamente a ciência e a técnica, inventando aparatos e objectos que fazem mais fácil a vida: refrigeradores, estufas, rádios, televisão, etc. Isto leva a sociedade a um afã consumista: “Diz-me quanto tens e como vives e te direi quanto vales”. Os pais, que antes eram capazes de satisfazer as necessidades básicas de famílias inclusive numerosas, já não o são ante a criação de novas necessidades. Têm que trabalhar até 3 turnos e também a mulher tem de trabalhar fora do lar. A família desintegra-se e deixa de ser a primeira escola da fé. Em 1960 a Igreja encontra-se em crise, já não cumpre eficazmente a sua missão evangelizadora.
Vem a manifestação do Espírito Santo com a convocação, pelo Papa João XXIII, do Concílio Vaticano II, que começa em 1962 e termina em 1965 para pôr a Igreja em dia e em consonância com os tempos na sua tarefa evangelizadora. As conclusões do Concílio vão se concretizando nas conferências episcopais, nos sínodos diocesanos, conselhos vicariais, paroquiais, na nova e permanente missão evangelizadora.
Para os anos sessenta já a influência demoníaca fez estragos no povo de Deus: choque de gerações, rebeldia juvenil, uso de drogas, o movimento hippie e a volta às antigas e constantes ideias pregadas nos anos sessenta por Louis Pawels e Jacques Bergier com o seu livro «O Retorno dos Bruxos». Nele se relatava a história da evolução do homem: uma fantástica viagem pela ciência, a alquimia, as sociedades secretas e o conhecimento. Eram já tratados magistralmente os grandes temas que hoje preocupam a «New Age», ou Nova Era, que tomou forma em 1980 com o livro da investigadora Marilyn Ferguson «A conspiração de Aquário», que desenha uma «maneira nova» de pensar velhos problemas, o que se conhece como «novo paradigma».
Pelos anos setenta surge a chamada teologia da morte de Deus e, consequentemente, surge também com o protestante R. Bultmann a teologia da morte de Satanás.
Tal corrente infectou também os nossos teólogos, que ultimamente não falavam já do diabo nem dos anjos. Nos seminários não se dá uma preparação sobre o exorcismo. Mas como contrapartida o homem sentiu a nostalgia de Deus. E dá-se a procura do sobrenatural e mágico como solução à problemática na qual se viu envolvido pelo seu afastamento de Deus e vem a cair nas garras da New Age, que, com as suas enganosas espiritualidades e fictícias soluções mágicas e esotéricas, abriu as portas ao demónio, que se nega a ser ignorado, fazendo estragos nas pessoas que caíram nas práticas esotéricas e mágicas da New Age. A Igreja teve, pelo mesmo, que reavivar algo que já se havia esquecido como coisa do passado, ainda que oficialmente nunca se negou: os exorcistas do Evangelho como algo urgente em nossos tempos, na Missão Permanente da Nova Evangelização: anunciar aos afastados a Páscoa de Cristo, que veio para libertar-nos das armadilhas de Satanás.
- Nalguns países o avanço das seitas satânicas não pôde ser enfrentado pela Igreja de maneira adequada pela falta de exorcistas. É verdade?
- A resposta a esta pergunta está relacionada com a anterior. Com efeito, aos nossos fiéis e aos próprios sacerdotes envolveu-nos um mar de confusões ao que a New Age nos leva com a sua mescla de ideias, de enganos e mentiras, manipulando espiritualidades orientais mescladas de panteísmo, assim como as medicinas tradicionais, que em si mesmas são um dom de Deus e nada tem de diabólico, mas de cuja eficácia se servem os promotores da New Age para se dar crédito e fazer crer que tudo o que dizem é verdade. Assim também a bispos e sacerdotes apanhou-nos de surpresa, sem saber o que fazer nem como actuar ante este mar de confusões. E a alguns encheu de medo a fenomenologia que apresentam os afectados pelo demónio. Ou bem, levou-os a escudar-se num cepticismo, crasso ante estas realidades, atribuindo-as a problemas psicológicos ou a enfermidades difíceis de curar e, pelo mesmo, levou-os a não atendê-los.
- Muitos negam que possa haver pessoas possuídas pelo demónio. Dizem que se trata de problemas psicológicos ou psiquiátricos. Como é que um exorcista distingue os casos de possessão dos casos de perturbações de outro género?
- O Código de Direito Canónico e o próprio Novo Ritual de Exorcismos, assim como o Catecismo da Igreja Universal, estabelecem que antes de fazer o exorcismo maior deve fazer-se um discernimento: se se trata de uma verdadeira possessão ou de uma simples obsessão ou opressão diabólica, servindo-se inclusive de assessoramento prévio de médicos e psiquiatras, a fim de que dêem o seu diagnóstico, sendo sempre o sacerdote que deve decidir; pois, por outra parte, o ritual de exorcismo indica-nos quais são estes sinais que nos podem indicar ou fazer suspeitar de uma verdadeira possessão diabólica: falar ou entender, com se fossem próprias, línguas desconhecidas; revelar coisas ocultas ou distantes; manifestar forças superiores a sua idade ou condição física, separar-se veementemente de Deus, aversão ao Santíssimo nome de Jesus, da Virgem Maria e dos santos, a imagens, lugares e objectos sagrados.
- A estratégia do demónio é a de fazer crer que não existe. É verdade isto?
- Na realidade, segundo a minha apreciação, Satanás utiliza várias estratégias para nos afastar de Deus. O que lhe interessa mais é confundir-nos, seja para que creiamos que não existe e que, se ele não existe, tampouco existem o inferno nem o céu e assim não temamos estar distante de Deus. Por outro lado, ao contrário, manifesta-se com opressões e obsessões para atormentar terrivelmente os que lhe abriram as portas, a fim de que lhe tenham medo e não tratem de lhe fechar as portas e libertar-se dele. A alguns favorece para que creiam no seu poder e confiem nele. Assim podemos explicar o culto satânico para obter poder a seu favor e protecção. Satanás é o pai da mentira e do engano.
- Todo ministério na Igreja é uma graça de Deus e um serviço aos irmãos.
O senhor percebe como uma graça para a sua vida o ministério de exorcista?
Toda a minha vida é uma graça de Deus: o meu baptismo, o dom que me converte em filho de Deus, membro da Igreja e co-herdeiro com Cristo da sua glória; o ministério sacerdotal, o dom que me permite participar da sua páscoa e da sua obra de salvação e serviço aos meus irmãos. O ministério de exorcista é também um dom da sua graça e misericórdia, que na minha pequenez e limitações me permite experimentar, como instrumento seu, o seu poder libertador e salvífico no serviço aos meus irmãos, o qual me alenta e me impulsiona a aderir mais a Ele para ter parte na sua vitória e, com ela, da sua glória.
- Há algum caso que possa contar-nos no qual o seu ministério de exorcista lhe tenha permitido experimentar em plenitude a sua vocação como homem e sacerdote?
- São muitos os casos em que, praticando a oração de libertação (desde há vinte e quatro anos, ainda sem ser exorcista), constatei o poder de que Deus nos faz partícipes aos sacerdotes no serviço aos nossos irmãos que sofrem. A terapia de fé com a oração de cura, de libertação e de perdão, com a qual se consegue muitas vezes o que resulta impossível, fora do seu alcance, à ciência médica e psicológica.
Agora, como exorcista desde há seis anos, atendi vários casos de opressões e obsessões diabólicas em pessoas atormentadas e já desesperadas depois de terem passado por toda a classe de especialistas, curandeiros e bruxos que pioraram a sua situação, ao ponto de os fazer pensar numa possessão diabólica e pedir ansiosamente um exorcismo. Nalguns casos apresentaram-se sinais que me levaram a suspeitar de uma presença ou possessão diabólica e, ainda sem estar seguro, a fazer o chamado exorcismo de diagnóstico, ou seja, oração imperativa, conseguir com isso fazê-los entrar numa paz e tranquilidade ainda sem chegar a fazer plenamente o exorcismo solene, bastando continuar com a oração de libertação. Foi uma grande satisfação conseguir a libertação dos meus irmãos através do serviço do meu humilde ministério, pelo poder da oração de intercessão e ver o aumento da sua fé, graças a uma evangelização e catequese que os leva a converter-se, a renovar a sua fé e aderir mais plenamente ao Senhor e vê-los continuar a sua vida cheios de amor e confiança em Deus.
- Que deve fazer uma pessoa que crê ser vítima da possessão diabólica ou que conhece alguém que poderia encontrar-se nesta situação?
- Recorrer ao seu pároco e fazer uma boa confissão para que, de primeira instância, este sacerdote a atenda. Se o seu pároco descobre que há uma influência demoníaca, mas não sinais de possessão diabólica, que lhe faça oração acompanhado da sua equipa de libertação e a insira nalgum grupo de evangelização ou de crescimento na fé ou nalgum ministério da paróquia. Se o pároco percebe sinais que o façam suspeitar de uma possessão diabólica ou não se sente capaz para enfrentar o problema, então que o encaminhe para o exorcista da sua diocese ou ao exorcista mais próximo. Nunca deve recorrer a bruxos ou curas mágicas.
Satanás existe e a sua estratégia é a confusão, constata nesta entrevista o padre Pedro Mendoza Pantoja, exorcista da arquidiocese do México.
- O que é um exorcista?
- É um bispo ou um sacerdote designado por este, que, por mandato de Jesus e em nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, faz uma oração na qual, de forma imperativa, em caso de possessão diabólica, ordena a Satanás sair e deixar em total liberdade o possesso, ou, de forma depreciativa, quer dizer, de intercessão ou súplica, pede-se que, pelo sangue precioso de Cristo e a intercessão da Virgem Maria, seja libertada uma pessoa, lugar, casa ou coisa de toda a influência demoníaca: infestação, obsessão ou opressão.
- Qualquer pessoa pode ser exorcista?
- Não. De acordo com o Evangelho, Cristo enriqueceu os seus apóstolos com dons carismáticos quando os enviou a evangelizar. Em Mateus 10, 1 diz: «E chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos para os expulsar e para sanar toda a enfermidade e toda a doença». Pode-se ler também em Marcos 16, 17-18. Pelo mesmo, corresponde aos bispos, sucessores dos apóstolos, exercer este ministério e expulsar os demónios; mas eles, de acordo com o cânon 1172 do Código de Direito Canónico, podem designar para exercer este ministério, de uma maneira estável ou para um caso especial, «um presbítero piedoso, douto, prudente e com integridade de vida». Isto falando de possessões diabólicas e, pelo mesmo, de exorcismo propriamente dito, chamado também exorcismo solene.
Mas todo o presbítero pela sua ordenação participa do sacerdócio ministerial de Cristo e tem com Ele a missão de libertar os fiéis de toda a obsessão, opressão ou influência demoníaca, com orações depreciativas de intercessão e súplica, com a evangelização e administração dos sacramentos, principalmente da Penitência e Eucaristia. Pelo mesmo, todo o sacerdote é exorcista quanto à Pastoral de Libertação dentro da sua missão de evangelizar, isto é, por mandato de Cristo; não precisa de ser designado para realizar o chamado exorcismo menor. Os leigos não podem ser exorcistas.
- Há também os «Auxiliares de Libertação». Quem são e o que fazem estas pessoas?
Auxiliares de Libertação são: os sacerdotes que não têm o carácter de exorcista oficial, médicos, psiquiatras, religiosos e leigos que ajudam o sacerdote exorcista no discernimento ou auxiliando-o no exercício do seu ministério, bem com a sua oração de intercessão ou em diversas eventualidades. Os sacerdotes auxiliam com oração de libertação e os leigos com oração de intercessão. O sacerdote não-exorcista oficial pode fazer o exorcismo menor, chamado também oração de libertação, auxiliado por sua vez por todos os leigos que o acompanham no discernimento e com orações de intercessão. Os leigos não podem fazer orações de libertação.
- Nos últimos 40 anos a figura do exorcista estava a desaparecer. É verdade? Efectivamente é. As causas são várias, mas diríamos que estão englobadas no grande desafio que a segunda metade do século passado apresenta à Igreja na sua tarefa de evangelização.
Na primeira metade, Satanás atacava a humanidade no campo das ideias e do pensamento: racionalismo, materialismo, gnosticismo, maçonaria, rosacrucismo, sectarismo, socialismo, marxismo-leninismo, etc., que afastam o homem de Deus. Por uma parte a negação de um Deus pessoal e a negação também da existência de Satanás como um ser pessoal, mudando o Deus Verdadeiro por um deus impessoal que se identifica com este mundo material e reduzindo Satanás a um mero símbolo. Várias nações se viram imersas em duas grandes guerras. E outras tantas sofreram revoluções e perseguições religiosas, derramando-se o sangue de muitos cristãos que sofreram o martírio como testemunho da sua fé. Contudo, a Igreja Católica mantinha-se como baluarte de evangelização. A família era a primeira escola da fé, fé que estava inculturada nas suas tradições e manifestava-se no actuar das associações católicas e nas celebrações litúrgicas, conseguindo-se assim enraizar o povo na sua fé.
Não faltaram lendas de bruxos, feiticeiros e tudo o que há agora, mas não eram relevantes nem se lhes dava importância; não havia necessidade de exorcismos, estes só se efectuavam no rito do baptismo.
Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, em 1945, começa uma revolução industrial: os grandes consórcios mundiais, que até então tinham o grande negócio da fabricação de implementos de guerra, mudam à fabricação de implementos domésticos. Evoluindo aceleradamente a ciência e a técnica, inventando aparatos e objectos que fazem mais fácil a vida: refrigeradores, estufas, rádios, televisão, etc. Isto leva a sociedade a um afã consumista: “Diz-me quanto tens e como vives e te direi quanto vales”. Os pais, que antes eram capazes de satisfazer as necessidades básicas de famílias inclusive numerosas, já não o são ante a criação de novas necessidades. Têm que trabalhar até 3 turnos e também a mulher tem de trabalhar fora do lar. A família desintegra-se e deixa de ser a primeira escola da fé. Em 1960 a Igreja encontra-se em crise, já não cumpre eficazmente a sua missão evangelizadora.
Vem a manifestação do Espírito Santo com a convocação, pelo Papa João XXIII, do Concílio Vaticano II, que começa em 1962 e termina em 1965 para pôr a Igreja em dia e em consonância com os tempos na sua tarefa evangelizadora. As conclusões do Concílio vão se concretizando nas conferências episcopais, nos sínodos diocesanos, conselhos vicariais, paroquiais, na nova e permanente missão evangelizadora.
Para os anos sessenta já a influência demoníaca fez estragos no povo de Deus: choque de gerações, rebeldia juvenil, uso de drogas, o movimento hippie e a volta às antigas e constantes ideias pregadas nos anos sessenta por Louis Pawels e Jacques Bergier com o seu livro «O Retorno dos Bruxos». Nele se relatava a história da evolução do homem: uma fantástica viagem pela ciência, a alquimia, as sociedades secretas e o conhecimento. Eram já tratados magistralmente os grandes temas que hoje preocupam a «New Age», ou Nova Era, que tomou forma em 1980 com o livro da investigadora Marilyn Ferguson «A conspiração de Aquário», que desenha uma «maneira nova» de pensar velhos problemas, o que se conhece como «novo paradigma».
Pelos anos setenta surge a chamada teologia da morte de Deus e, consequentemente, surge também com o protestante R. Bultmann a teologia da morte de Satanás.
Tal corrente infectou também os nossos teólogos, que ultimamente não falavam já do diabo nem dos anjos. Nos seminários não se dá uma preparação sobre o exorcismo. Mas como contrapartida o homem sentiu a nostalgia de Deus. E dá-se a procura do sobrenatural e mágico como solução à problemática na qual se viu envolvido pelo seu afastamento de Deus e vem a cair nas garras da New Age, que, com as suas enganosas espiritualidades e fictícias soluções mágicas e esotéricas, abriu as portas ao demónio, que se nega a ser ignorado, fazendo estragos nas pessoas que caíram nas práticas esotéricas e mágicas da New Age. A Igreja teve, pelo mesmo, que reavivar algo que já se havia esquecido como coisa do passado, ainda que oficialmente nunca se negou: os exorcistas do Evangelho como algo urgente em nossos tempos, na Missão Permanente da Nova Evangelização: anunciar aos afastados a Páscoa de Cristo, que veio para libertar-nos das armadilhas de Satanás.
- Nalguns países o avanço das seitas satânicas não pôde ser enfrentado pela Igreja de maneira adequada pela falta de exorcistas. É verdade?
- A resposta a esta pergunta está relacionada com a anterior. Com efeito, aos nossos fiéis e aos próprios sacerdotes envolveu-nos um mar de confusões ao que a New Age nos leva com a sua mescla de ideias, de enganos e mentiras, manipulando espiritualidades orientais mescladas de panteísmo, assim como as medicinas tradicionais, que em si mesmas são um dom de Deus e nada tem de diabólico, mas de cuja eficácia se servem os promotores da New Age para se dar crédito e fazer crer que tudo o que dizem é verdade. Assim também a bispos e sacerdotes apanhou-nos de surpresa, sem saber o que fazer nem como actuar ante este mar de confusões. E a alguns encheu de medo a fenomenologia que apresentam os afectados pelo demónio. Ou bem, levou-os a escudar-se num cepticismo, crasso ante estas realidades, atribuindo-as a problemas psicológicos ou a enfermidades difíceis de curar e, pelo mesmo, levou-os a não atendê-los.
- Muitos negam que possa haver pessoas possuídas pelo demónio. Dizem que se trata de problemas psicológicos ou psiquiátricos. Como é que um exorcista distingue os casos de possessão dos casos de perturbações de outro género?
- O Código de Direito Canónico e o próprio Novo Ritual de Exorcismos, assim como o Catecismo da Igreja Universal, estabelecem que antes de fazer o exorcismo maior deve fazer-se um discernimento: se se trata de uma verdadeira possessão ou de uma simples obsessão ou opressão diabólica, servindo-se inclusive de assessoramento prévio de médicos e psiquiatras, a fim de que dêem o seu diagnóstico, sendo sempre o sacerdote que deve decidir; pois, por outra parte, o ritual de exorcismo indica-nos quais são estes sinais que nos podem indicar ou fazer suspeitar de uma verdadeira possessão diabólica: falar ou entender, com se fossem próprias, línguas desconhecidas; revelar coisas ocultas ou distantes; manifestar forças superiores a sua idade ou condição física, separar-se veementemente de Deus, aversão ao Santíssimo nome de Jesus, da Virgem Maria e dos santos, a imagens, lugares e objectos sagrados.
- A estratégia do demónio é a de fazer crer que não existe. É verdade isto?
- Na realidade, segundo a minha apreciação, Satanás utiliza várias estratégias para nos afastar de Deus. O que lhe interessa mais é confundir-nos, seja para que creiamos que não existe e que, se ele não existe, tampouco existem o inferno nem o céu e assim não temamos estar distante de Deus. Por outro lado, ao contrário, manifesta-se com opressões e obsessões para atormentar terrivelmente os que lhe abriram as portas, a fim de que lhe tenham medo e não tratem de lhe fechar as portas e libertar-se dele. A alguns favorece para que creiam no seu poder e confiem nele. Assim podemos explicar o culto satânico para obter poder a seu favor e protecção. Satanás é o pai da mentira e do engano.
- Todo ministério na Igreja é uma graça de Deus e um serviço aos irmãos.
O senhor percebe como uma graça para a sua vida o ministério de exorcista?
Toda a minha vida é uma graça de Deus: o meu baptismo, o dom que me converte em filho de Deus, membro da Igreja e co-herdeiro com Cristo da sua glória; o ministério sacerdotal, o dom que me permite participar da sua páscoa e da sua obra de salvação e serviço aos meus irmãos. O ministério de exorcista é também um dom da sua graça e misericórdia, que na minha pequenez e limitações me permite experimentar, como instrumento seu, o seu poder libertador e salvífico no serviço aos meus irmãos, o qual me alenta e me impulsiona a aderir mais a Ele para ter parte na sua vitória e, com ela, da sua glória.
- Há algum caso que possa contar-nos no qual o seu ministério de exorcista lhe tenha permitido experimentar em plenitude a sua vocação como homem e sacerdote?
- São muitos os casos em que, praticando a oração de libertação (desde há vinte e quatro anos, ainda sem ser exorcista), constatei o poder de que Deus nos faz partícipes aos sacerdotes no serviço aos nossos irmãos que sofrem. A terapia de fé com a oração de cura, de libertação e de perdão, com a qual se consegue muitas vezes o que resulta impossível, fora do seu alcance, à ciência médica e psicológica.
Agora, como exorcista desde há seis anos, atendi vários casos de opressões e obsessões diabólicas em pessoas atormentadas e já desesperadas depois de terem passado por toda a classe de especialistas, curandeiros e bruxos que pioraram a sua situação, ao ponto de os fazer pensar numa possessão diabólica e pedir ansiosamente um exorcismo. Nalguns casos apresentaram-se sinais que me levaram a suspeitar de uma presença ou possessão diabólica e, ainda sem estar seguro, a fazer o chamado exorcismo de diagnóstico, ou seja, oração imperativa, conseguir com isso fazê-los entrar numa paz e tranquilidade ainda sem chegar a fazer plenamente o exorcismo solene, bastando continuar com a oração de libertação. Foi uma grande satisfação conseguir a libertação dos meus irmãos através do serviço do meu humilde ministério, pelo poder da oração de intercessão e ver o aumento da sua fé, graças a uma evangelização e catequese que os leva a converter-se, a renovar a sua fé e aderir mais plenamente ao Senhor e vê-los continuar a sua vida cheios de amor e confiança em Deus.
- Que deve fazer uma pessoa que crê ser vítima da possessão diabólica ou que conhece alguém que poderia encontrar-se nesta situação?
- Recorrer ao seu pároco e fazer uma boa confissão para que, de primeira instância, este sacerdote a atenda. Se o seu pároco descobre que há uma influência demoníaca, mas não sinais de possessão diabólica, que lhe faça oração acompanhado da sua equipa de libertação e a insira nalgum grupo de evangelização ou de crescimento na fé ou nalgum ministério da paróquia. Se o pároco percebe sinais que o façam suspeitar de uma possessão diabólica ou não se sente capaz para enfrentar o problema, então que o encaminhe para o exorcista da sua diocese ou ao exorcista mais próximo. Nunca deve recorrer a bruxos ou curas mágicas.