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Natal

Uma meditação para o Natal: o Céu desce à terra

 “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. Com este cântico de louvor os Anjos anunciaram aos pastores o maior acontecimento de toda a história da humanidade. Convido-te, a conhecer um pouco mais este sagrado encontro do céu com a terra, de Deus com os homens através dos santos Anjos.

“Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor lhes apareceu e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram cheios de medo. Mas o anjo disse-lhes: ‘Não temais. Trago-vos boas-novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um bebé envolto em panos e deitado numa manjedoura’. De repente, uma grande multidão do exército celestial juntou-se ao anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados’.

Quando os anjos os deixaram e foram para os céus, os pastores disseram uns aos outros: ‘Vamos a Belém, e vejamos o que aconteceu, e que o Senhor nos deu a conhecer’.

Então correram para lá e encontraram Maria e José e o Menino deitado numa manjedoura. Depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito daquele menino, e todos os que ouviram o que os pastores diziam ficaram admirados. Maria guardava todas estas coisas e sobre elas reflectia no seu coração. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, como lhes fora dito”. (Lc 2, 8-20)

Na gloriosa noite do Natal, muitos dormiam, alguns velavam. Entre eles, a Virgem Maria e São José esperando, na intimidade do presépio, o nascimento milagroso do Menino Jesus. Também alguns pastores vigiavam. Cumpriam o seu dever de guardar o rebanho, sem conceder ao sono um instante de tréguas. As ovelhas estavam seguras, e provavelmente repousavam. Aqueles homens, acostumados à paz dos campos, estariam em silêncio ou conversariam, olhando para as estrelas? Uma coisa é muito provável, os seus corações estavam a ser preparados pela graça para a aparição dos anjos. Como? São Lucas não nos conta… mas ao chegarmos ao céu, como esperamos pela misericórdia de Deus, eles mesmos narrarão os pormenores de uma cena quase poética, como a que se medita.

Esta vigilância dos pastores, lembra de alguma forma, a virtude tão louvada por Nosso Senhor no Evangelho: “Vigiai e orai para que não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). O receio dos lobos mantinha acordados aqueles pastores. Como poderiam imaginar que no lugar de animais hostis veriam com seus olhos um Anjo resplandecente, e assistiriam com os seus ouvidos ao primeiro e mais belo concerto de Natal? Eis o prémio das almas vigilantes, daqueles que temem o mal e se mantêm em alerta para o evitar.

Mas, só é vigilante quem é humilde, quem conserva a clara noção da sua fraqueza e pequenez. Este mantém-se sempre atento contra os que tramam a sua ruína. Mas, quem se julga forte e poderoso, esquece-se dos inimigos, abaixa as defesas, e… muitas vezes perece em sua presunção.

Os pastores eram humildes. Pela natureza da sua profissão, o pastor não possuía grandes ambições e, em geral, tendia a ser muito contemplativo. As suas cogitações voltavam-se para o firmamento, as estrelas e outras belezas da natureza. Por que é que homens desta categoria, foram visitados por Anjos? Por serem despretensiosos, livres de orgulho, vazios de si.

Bons elementos para uma meditação. Somos católicos vigilantes, atentos contra a sedução do mundo, contra a nossa fraqueza e contra as insídias do demónio? Seremos humildes, contemplativos, amantes do silêncio? Aprendamos a viver como ensina São Paulo, sem grandes aspirações terrenas: “não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às humildes” (Rm 12, 16). Assim poderemos também nós, receber a visita dos anjos, ou ouvir a subtil voz do Espírito Santo.

Os pastores, então, viram o Anjo, e a glória do Senhor resplandeceu em torno deles. À aparição do Anjo, acrescenta-se a visão da Glória do Senhor, numa luz inefável mais brilhante que o Sol.

Pelo Anjo, os pastores souberam do nascimento de Cristo, o Senhor. É um anúncio sem dúvida messiânico, mas contém uma admirável e surpreendente novidade, o Messias é também o Senhor, ou seja, Deus. Revelação tão alta precisava de ser selada por meio de um sinal. Eis o papel da manifestação da Glória do Senhor, a indicar-lhes uma nova forma de presença de Deus entre os homens, para os salvar dos seus pecados.

Mas terão compreendido esta mensagem os pastores? Certamente, pois ao escutar as palavras do mensageiro tiveram uma experiência mística sobre a Pessoa do Menino Jesus, contudo não sabemos se explicitaram tanto quanto lhes era possível o inexaurível mistério. Entretanto, chegando a Belém – onde se dirigiram à pressa movidos pela graça – depois de contemplarem aquele belíssimo Menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura, os pastores tiveram tempo de conversar com Maria e José, e, portanto, de ouvir das testemunhas mais privilegiadas, a narração da Encarnação do Filho do Altíssimo. São Lucas é preciso neste particular e sublinha que ao voltarem a casa davam glória a Deus por tudo o que viram e ouviram. Viram quem? O Menino Deus, sua Mãe virgem e o castíssimo José. E, o que ouviram? Seguramente o Evangelho de Jesus Cristo pelos lábios de Maria e José. Ambos, com grande ternura devem ter-lhes falado sobre o grande acontecimento anunciado por São Gabriel, que se cumpria em Belém, diante dos olhos extasiados daqueles homens.

Sim, estavam diante de um bebé, mas este pequenino era Deus! E se os seus lábios não o confessavam ainda, contemplando o seu olhar, a luz do seu rosto, o encanto da sua inocência, se confirmava um mistério tão alto e tão acessível ao mesmo tempo.

Quem diria, oh santos pastores, que naquela noite surgiria para vós um novo astro no firmamento? Sim, no coração da noite, nasceu para vós o Sol imperecível da justiça e da verdade, sempre luzidio na alma com fé. Rezai por nós, santos pastores. Queremos ser também contemplativos do mais belo mistério de amor de Deus para os homens. Também nós possamos como vós, ver e ouvir as maravilhas da salvação e voltar ao nosso apostolado, aos nossos afazeres, glorificando e louvando a Deus. Queremos ser evangelizadores como vós: “Os pastores, ao manifestarem o seu contentamento, tornaram-se verdadeiros apóstolos de Jesus. Desejavam que os outros participassem da sua alegria para que eles se abrissem à Boa-nova”.

Pe. Carlos Javier Werner Benjumea, EP

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