Étão importante a celebração do Natal de Jesus, que se prolonga durante oitodias na sua Oitava, para que possamos desfrutar de tão grandes graças. Comodisse São Leão Magno: “Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; umavida que, dissipando o temor da morte, nos enche de alegria com a promessa daeternidade”
Masagora precisamos de assumir as suas consequências para que esta Solenidadeprolongada continue a dar em nós os seus frutos de santidade.
Nosseus Sermões de Natal, Santo Agostinho recordava:
“Estariasmorto para sempre, se Ele não tivesse nascido no tempo. Nunca te libertarias dacarne do pecado, se ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado.Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Nãovoltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Teriasperecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viessesalvar-te”.
Estalibertação do pecado, da morte e do demónio, que Jesus nos veio trazer, exigede nós um acto de vontade que corresponda a este amor de Deus por nós, semlimites.
SãoLeão Magno pregava nos seus Sermões de Natal:
“NossoSenhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento deculpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória;rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porqueé chamado à vida”.
Eo Santo doutor aponta-nos as exigências do Natal:
“Tomaconsciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da naturezadivina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno da tuacondição. Lembra-te de que Cabeça e de que Corpo és membro. Recorda-te quefoste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus. Pelosacramento do baptismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses commás acções tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demónio, porque opreço da tua salvação é o sangue de Cristo”.
Omistério da Encarnação é a manifestação do “grande amor com que Deus nos amou”(Ef 2,4). Será que Deus nos poderia ter concedido alguma coisa mais sublime doque o próprio Filho feito homem para nos salvar?
SantaCatarina de Sena, Doutora da Igreja (†1380), disse que “Deus enxertou a suadivindade na árvore morta da nossa humanidade, pela Encarnação do Verbo”. Ahumanidade descaída no pecado original é o tronco selvagem onde Deus enxertou aboa planta divina para dar frutos de santidade.
SantaÂngela de Foligno, exprimia o seu amor ao Verbo humanado, dizendo: “Ver ecompreender que Tu nasceste para mim, enche-me de grande alegria”.
SãoBasílio Magno (†369), doutor da Igreja, mostrou a profundidade do mistério daEncarnação:
“Deusassume a carne precisamente para destruir a morte nela escondida. Como osantídotos a um veneno, quando são ingeridos, anulam os seus efeitos, e como astrevas de uma casa se dissipam à luz do sol, assim a morte que predominavasobre a natureza humana foi destruída pela presença de Deus. E como o gelo quepermanece sólido na água, enquanto dura a noite e reinam as trevas, masderrete-se imediatamente ao calor do sol, assim a morte que reinara até à vindade Cristo, logo que surgiu a graça de Deus Salvador e despontou o sol dajustiça, “foi engolida pela vitória” (1Cor 15, 54), pois não podia coexistircom a Vida” (Homilia sobre o Nascimento de Cristo).
Qualdeve ser a nossa resposta a tanto amor? São João da Cruz, Doutor da Igreja(†1591), amigo de Santa Teresa, responde: “Amor só se paga com amor!”.
Masque amor é este que Deus espera de nós? A resposta está nas SagradasEscrituras: fazer a vontade de Deus! Deus quer a nossa santificação, e a Igrejaexiste para isso. E o edifício da santidade cristã levanta-se na vontade divinarevelada nas Escrituras e no ensinamento da Igreja, especialmente nosMandamentos de Deus.
SomenteDeus nos pode santificar, pois Ele conhece o que mais convém à nossasantificação. O único caminho que infalivelmente nos conduz à santidade é oindicado por Deus. Aceitar a sua santa vontade é trilhar o caminho daperfeição.
OPapa Bento XV afirmou: “A santidade consiste própria e exclusivamente naconformidade do querer de Deus, manifestado no exacto cumprimento dos deveresdo próprio estado” (AAS, 1920, p. 173). Cumprindo bem os nossos deveresprofissionais, familiares e religiosos, estaremos a trilhar o caminho dasantidade que o Natal nos aponta.
SantaTeresa de Ávila ensinava às suas monjas:
“Claroestá que a suma perfeição não consiste em regalos interiores, nem em grandesarroubamentos, nem em visões, nem em espírito de profecia, mas tem que ter anossa vontade tão conforme com a de Deus, que não entendamos querer Ele algumacoisa sem que a queiramos com toda a vontade, e tomemos com a mesma alegria,tanto o saboroso como o amargo, como quer Sua Majestade” (Fundações A, 1,2).
Quemcelebra o Natal decidiu viver como cristão, seguidor de Cristo, ser “luz e salda terra”, pelo caminho da santidade. São Leão Magno perguntava aos seusouvintes: “De que vale carregar o nome de cristão se não imitar a JesusCristo?”
Nadamelhor do que contemplar as figuras santas do Presépio, para termos os exemplosde como imitar a Jesus: a pureza, a humildade, a disposição para fazer avontade de Deus e o abandono tranquilo da vida nas mãos da Providencia divinaque Maria e José viveram.