Dezembro de 1223.
Francisco de Assis acaba de chegar a Gréccio, cidadezinha das cercanias de Roma. Vem roto, cansado, encharcado dos pés à cabeça. Entra em casa de João Vellita que depois de distribuir toda a sua grande fortuna pelos pobres era agora mais rico do que nunca, precisamente porque trocara o dinheiro pelo AMOR.
- A paz do Senhor esteja na vossa casa, João.
- Bendito seja Ele que vos trouxe a esta morada.
E enquanto se apreciam e comiam umas sopas de pão e leite, foi dizendo o Pobrezinho de Assis:
- Sabeis, João, queria pedir-vos uma coisa.
- Estais em vossa casa; mandai, Irmão Francisco.
- Precisava de um burrinho...
- Para alguma longa viagem?!...
- Não. Pensei em celebrar com esta boa gente a Santa Noite de Natal. Queria representar ao vivo o Nascimento do Grande Rei e Senhor que se fez pobre por nosso Amor...
Para um bosque das cercanias de Gréccio converge uma multidão imensa de gente de todas as condições sociais, vindas de todas as terras vizinhas, atraídas pela novidade insólita, que rapidamente se propagara.
Meia-noite. No céu, sereno e diáfano, miríades de estrelas tremeluzem, como naquela maravilhosa noite de Belém...
Debaixo de duas frondosas árvores cujos troncos carcomidos se abraçam lá está o presépio. João Vellita
fez tudo como o Mestre recomendara.
Lá está a burrinha e a vaquinha, e no meio, o berço onde jaz uma loira criança, de barro... Ao lado ergue-se o altar onde será celebrado o Santo Sacrifício da Missa...
No silêncio religioso da noite ressoam os cânticos...
Parece que do céu desceram, como outrora, os anjos, fazer coro com os frades que, em torno do altar estão extasiados.
Depois do canto do Evangelho, Francisco, Diácono da Igreja, fala à multidão... Fala do Verbo Eterno que deixou a glória do Pai e veio fazer-se criança, habitar no meio dos homens; fala do seu Amor Infinito por nós a ponto de deixar a riqueza do céu para vir mendigar o amor dos homens, suas criaturas... E falava tão simples, tão sublime e tão singularmente ao coração que em muitos olhos se vêem
lágrimas de ternura umas, de arrependimento e remorsos outras...
Terminada a pregação Francisco vai ao Presépio, toma a doce Imagem do Deus-Menino nas suas mãos para o
dar a beijar aos circunstantes e... oh milagre!... Aquele barro começa a animar-se, a ter vida; e então todos,
estupefactos, puderam ver o que os Reis e Pastores viram em Belém naquela noite Santa… O Deus-Infante renascera nas mãos de Francisco de Assis…Jorge Picheler