Natal
COMO É QUE SÃO NICOLAU SE CONVERTEU EM PAI NATAL
- 02-12-2007
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A figura moderna de Pai Natal é um pálido reflexo da pessoa que a inspirou: São Nicolau, bispo de Mira, antiga cidade da costa meridional da actual Turquia.
Como se produziu a transformação de santo caritativo em ícone do consumo natalino?
O escritor Jeremy Seal empreendeu uma pesquisa internacional para dar resposta a esta pergunta, e comunicou suas conclusões no livro “Nicolau: a viagem épica do santo a Santa Claus”.
Numa entrevista Seal relata que encontrou sinais do culto à Pai Natal (Santa Claus) em todo o mundo e os motivos que explicam por que São Nicolau, com seu carisma de caridade, persiste ainda hoje, apesar da comercialização das festas de Natal.
- Quem era São Nicolau de Mira?
- Sabe-se muito pouco dele. Era bispo de Mira e viveu no século IV, em uma cidade da Turquia meridional, hoje conhecida como Demre. Não há ali actualmente nenhuma referência a sua vida, salvo uma referência material, em um manuscrito do século VI.
Temos então que nos basear quase exclusivamente em elementos póstumos referentes a São Nicolau. Mas, dada a grande difusão de seu culto, é lícito deduzir que houve algo excepcional em sua vida. Não sabemos muito dele, mas intuímos uma pessoa especial.
Nicolau parece ser uma pessoa sensível que se fez famosa por dedicar-se à ajuda material e concreta. Este aspecto manifestou-se firme no curso dos séculos, porque a ajuda material é algo de que todos têm necessidade, e que todos sabem apreciar.
- Quais foram seus aspectos especiais?
- Existe uma série de histórias, também porque foi especialmente longevo. Na época em que viveu, a maior parte dos santos cristãos eram mártires, mas sobre Nicolau se contaram muitas histórias porque viveu uma vida longa, e morreu em sua cama. Os relatos são muitos, mas a maior parte deles coincide em sua dedicação a ajudar os demais.
Um infinito número de histórias conta que salvou alguns marinheiros, em meio a uma tempestade ante a costa de Mira. Outra vez, convenceu um capitão a que levasse em seu barco uma carga de trigo a Mira, onde as pessoas estavam morrendo de fome.
Alguns militares, condenados injustamente, tiveram uma visão de Nicolau que os confortava e procurava para eles a libertação.
Quando o culto de Nicolau chegou à Rússia, no séc XI, nasceu uma nova série de histórias. Os russos o chamaram em sua língua “o que ajuda”. Na Rússia, sua ajuda assume formas diversas: ajuda aos pastores a proteger o rebanho dos lobos, protege as casas do fogo, etc.
– Como evoluiu a figura actual do Pai Natal?
- O amor a Nicolau manteve vivo seu culto até finais do século XVIII, quando em Manhattan produziu-se uma revisão de sua imagem.
O nome “Santa Claus” (Pai Natal) deriva da pronunciação americana da palavra holandesa “Sinterklass”. São Nicolau e Pai Natal são portanto a mesma pessoa, ainda que muitos não saibam. Por outra parte, são representados de modo diverso porque o representam em lugares e tempos diversos, próprios de sua evolução póstuma.
Não sabemos quando chegou seu culto a Nova Amsterdã, hoje Manhattan. Mas é provável que tenha sido levado ali pelas primeiras comunidades que se assentaram, e tenha ficado como uma vaga memória na América do Norte, latente até finais do século XVIII.
Logo, a tradição dos presentes que até então era uma celebração local e estacional, na qual se intercambiaram objectos feitos em casa, estourou em algo muito maior. Iniciava a produção em massa, difundia-se o comércio, chegaram os jogos do Norte da Europa, e tudo se podia comprar: livros, instrumentos musicais, tecidos, etc.
Por conseguinte, o uso dos presentes se transformou em algo irreconhecível, e isto fez nascer a exigência de encontrar ao espírito da entrega de presentes. São Nicolau era quem, nas tradições holandesas e inglesa do velho mundo, representava o doador; e não era necessário buscar muito para recordá-lo.
As pessoas, ao final do século XVIII, popularizaram a imagem de Santa Claus, ainda que não imediatamente com fins comerciais.
Nos anos vinte, do século XX, começou a adquirir suas características actuais: as renas, o trenó, os sinos. Elementos que são simplesmente característicos do mundo no qual emergiu: naquela época, os trenós eram o meio principal de transporte, no inverno, em Manhattan.
A poesia “Uma visita de São Nicolau”, conhecida também como “Era a Visita de Natal”, de 1822, descreve-o com todos os detalhes. Era muito similar à figura que conhecemos hoje.
Enquanto estas características tomavam forma, foi associado cada vez mais ao âmbito comercial. Uma instrumentalização compreensível, mas depois de tudo sempre um desvio de seu significado original. Na Idade Média, era símbolo e ícone da caridade. Não me parece que possa ser definido do mesmo modo hoje. Actualmente parece mais uma estranha mescla de caridade e de consumismo que o invade todo.
- Em sua opinião, o que é que os pais cristãos deveriam contar aos filhos sobre o Pai Natal ? - O que quis fazer ao remontar-me às origens do Pai Natal é recordar a mim mesmo que há um válido motivo moral para dar presentes. A ideia de São Nicolau era a de ajudar quem passava dificuldades.
É o ensinamento que podemos extrair. Dar presentes, pelo gosto apenas de dá-los, a pessoas queridas que têm em abundância, poderia não reflectir a essência da intenção de São Nicolau.