A alegria dos inocentes
A celebração da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo é talvez a festa litúrgica mais popular na maioria dos países cristãos, embora, de si, a Páscoa da Ressurreição seja mais importante.
Apesar da decadência do espírito religioso, ainda em nossos dias a voz da graça continua a convidar a humanidade a adorar Aquele que, sendo Deus, se fez homem para nos redimir.
A noite de Natal é noite de gala para a qual todos se preparam com esmero: a liturgia usa os melhores paramentos, o coro prepara os mais belos cânticos, os assistentes colocam as suas melhores roupas, as donas-de-casa e as cozinheiras preparam os melhores pratos, os ambientes são decorados com carinho.
Mas a graça natalícia suscitou igualmente toda uma cultura própria: a ceia, São Nicolau, o presépio, a árvore de Natal, os presentes, os bolos e pães especiais para a ocasião, as guloseimas, as visitas, os contos, as feiras de Natal durante o Advento, os concertos musicais natalícios, os cânticos populares, as famílias que se reúnem... tudo isto faz parte de um universo encantador que agrada especialmente às crianças.
As crianças, sim, porque representam a inocência, e a festa de Natal é a festa do Inocente por excelência, que foi o Cordeiro de Deus, capaz de restaurar todas as inocências perdidas.
O ambiente de Natal tinha então algo de maravilhoso, de evocativo de um mundo ideal: as luzes, as harmonias dos corais ou do órgão, as cores dos enfeites do pinheiro, os perfumes das flores, as comidas e bebidas servidas na ceia, os doces, os brinquedos...
Mesmo nos lares mais simples e pobres, algo deste maravilhoso penetrava, pois na realidade ele depende mais de uma disposição de alma, de uma atitude interior, do que dos próprios objetos.
A criança tem a capacidade de se maravilhar com as menores coisas: um pedaço de cabo de vassoura pode transformar-se no mais belo e ágil corcel... Não será por isso que Nosso Senhor disse: “Quem não receber o reino do céu como uma criancinha, não entrará nele” (Mc 10, 15)? Ou seja, a inocência de alma não deveria ser privilégio das crianças, mas deveria continuar a iluminar a mente madura do adulto.