“Depois disso, houve
uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Há em Jerusalém, junto à porta
das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico “Betsaida”, que tem cinco pórticos.
Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de
paralíticos, que esperavam o movimento da água. E, de tempos em tempos, um anjo
do Senhor descia ao tanque e a água se punha em movimento. E o primeiro que
entrasse no tanque, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer
doença que tivesse. Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.
Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo,
perguntou-lhe Jesus: “Queres ficar curado?” O enfermo respondeu-lhe: “Senhor,
não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; enquanto
vou, já outro desceu antes de mim” (João 5,1-7).
Nós devemos perder a visão do Senhor
Na sociedade actual, há muita gente a viver: “de vez em
quando”: “De vez em quando vou à Missa”; “de vez em quando eu rezo”… As pessoas
têm vivido superficialmente, é uma vida de tanta superficialidade, de tanta
ficção que nós perdemos a visão do Senhor. Estamos como o cocho, o doente, e
insistimos em ficar na porta dos fundos, que é a porta da morte, e dizemos ao
Senhor, “Senhor, estou sozinho, eu não tenho ninguém”.
Quando aquele homem respondeu “eu não tenho ninguém”, ele
está imbuído de uma tristeza e de uma indiferença, porque ele estava nas portas
dos fundos, estava a insistir em ficar ali como um doente; ele perdeu a
esperança e estava tão imbuído na morte, no sofrimento de todos, que já não
tinha o optimismo Cristão.
E quando o Senhor chega até a ele e pergunta: “Queres ficar
curado?” Ele tinha toda condição de dizer: “Sim, Senhor, quero ficar curado”;
mas ele não reconhece o Senhor, e apenas diz: “Senhor, eu não tenho ninguém”. E
Jesus não perguntou quantas pessoas estavam com ele, Ele apenas perguntou ao
paralítico, naquele local: “Queres ficar curado?” Mas ele estava tão sem esperança, tão cru,
pois estava fixo na morte, no comodismo, que não cresce dentro dele o optimismo,
a possibilidade de ser curado.
Nós precisamos de dar
uma resposta diferente e dizer “Senhor, eu tenho-Te a Ti”.
Tal atitude faz-nos reflectir quanto estamos a viver no
comodismo. “Eu não tenho ninguém”, ”não tenho ninguém para ir à Missa comigo,
para ir à novena”. Esta é a resposta da sociedade e, muitas vezes, é também a
nossa resposta, pois estamos no comodismo, não conversamos, não pedimos ajuda,
não pedimos oração, nós estamos como aquele cocho a dizer: “Senhor, eu não tenho
ninguém”, mas a nossa resposta precisa de ser: “Senhor, eu tenho-Te a Ti”.
O texto sagrado leva-nos a reflectirmos outra coisa: o
egoísmo, a sociedade egoísta que quer tirar proveito de todos, vantagem em cima
de tudo, ser sempre o primeiro. Ninguém se alegra com a condição do outro, por
exemplo quando estamos no índice de egoísmo, numa destruição de uma relação
fraterna. Quando nós temos o Senhor, a caridade é potencializada, mas quando eu
dou esta resposta: “eu não tenho ninguém”, eu me inundo do meu egoísmo.
Outra parte que este texto bíblico nos faz reflectir é o
favoritismo, “o jeitinho bem português”; é o apadrinhamento, é o viver de
favores. Este favoritismo quer dizer:
perdeu-se a potência do esforço pessoal, é o perder-se a visão. Nós precisamos de
mudar o nosso vocabulário e começar a dizer: “Senhor, eu tenho-Te a Ti, eu não
estou só”.
Vemos também, neste texto sagrado, a frustração, que nos faz
perder uma virtude teologal, a esperança. No baptismo, recebemos estas três
virtudes: fé, esperança e a caridade. Está em nós, é intrínseco. E, quando
aquele cocho diz: “eu não tenho ninguém”, ele perdeu a esperança, o optimismo
Cristão, a capacidade de amar, perdeu a força de crer e culpa os outros.
Meu irmão, procura ser uma pessoa activa que vive a fé, a
esperança a caridade; que está contra a frustração, contra o comodismo. Nós não
podemos responder como o paralítico. Nós precisamos de dar a resposta: “Senhor,
eu tenho-Te a Ti!” Quando nós esperamos
no Senhor, quando confiamos mesmo nEle, as mudanças tornam-se possíveis.