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Meditar faz bem

Porque sofrem as crianças inocentes?

 

Porque sofremas crianças inocentes?


Na visita do Papa às Filipinas, uma criança perguntou-lhe: “Porque é que sofrem as crianças inocentes?”


Esta criança tem 12 anos e chama-se Glyzelle Palomar. Mas não tem só este nome. Tem muitos outros, uma multidão, o nome de todas as crianças inocentes que sofrem por esse mundo fora.


O Papa Francisco não explicou, nem podia explicar. Os mistérios não se explicam, acolhem-se. A racionalização do mistério pode terminar em blasfémia.


O Papa limitou-se a dizer que estamos a perder a capacidade de chorar, quer dizer, a capacidade de ter compaixão. Porque há paixão e compaixão; há padecer e compadecer-se. Sim, é preciso recuperar a capacidade de chorar com quem chora e, num êxtase de comunhão, dizer-lhe, olhos nos olhos: "Eu não posso acabar com o teu sofrimento, só posso ‘estar contigo’: dói-me a tua dor; choro as tuas lágrimas; sofro contigo”.


Há paixão e compaixão; há solidão e consolação. Bento XVI dizia que a palavra consolação (con-sola-ção) significa isto mesmo: “Estar com alguém que sofre na solidão”.


A pergunta feita ao Papa Francisco é uma pergunta universal, intemporal, que atravessa os séculos da história humana. É, no fundo, uma pergunta feita a Deus. Mas as perguntas a Deus não podem obedecer às regras da lógica humana. As perguntas a Deus fazem-se de joelhos, de mãos postas, cabeça inclinada e pés descalços...


Segundo os critérios da lógica humana, não vale a pena continuar a perguntar. Se Deus permitiu Auschwitz, acabaram-se as perguntas. Não há mais nada para perguntar...


Quando, na cruz, Jesus rezou: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, estavam esgotadas todas as respostas humanas. Então Jesus entregou-se a Deus: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.


Parece que Deus é um Deus ausente, incompreensível. E é mesmo: “Portanto, se compreendeste, não é Deus. Inversamente, se se trata de Deus, então não O compreendeste. Como queres, pois, falar d’Ele, se não pudeste compreendê-ro?”


Gostaríamos de ver, de tocar Deus, nas esquinas da vida, e que nos momentos de sofrimento nos pusesse a mão no ombro e sussurrasse: “Estou aqui”. Isto não vai acontecer...


Deus não se deixa ver, não se deixa ouvir, não se deixa tocar. Deus não mora à superfície, ao alcance da mão... O nosso Deus é um Deus escondido” (Is 45,15). Está presente na pergunta sobre o sofrimento, mas sob a forma de fé e de esperança.


Na hora do sofrimento, “só nos resta a nossa ‘pouca fé’, comple­tamente nua, tentando encontrar coragem para olhar nos olhos quem sofre, e neles só conseguimos ler a pergunta: ‘Porquê’?


Mas eu não sei, meu Deus, na verdade não sei. E depois essa pequena fé faz a única coisa que sabe fazer: respira fundo e assume sobre si própria todas essas pergun­tas, dolorosamente abertas como feridas por sarar, e então, num único ato de confiança, precipita-se no mar sombrio do mistério, em que não vê, mas, pelo menos, pressente a espe­rança: Eu não sei, mas Tu sabes”.


 A pergunta pelo sentido do sofri­mento é a “rocha do ateísmo”. De facto, ela pode conduzir à negação de Deus. Mas pode também ser o ponto de partida para a fé. E a fé “não é uma muleta, é um cajado”, um cajado para a nossa caminhada de crentes. Esta caminhada de fé exige paciência. A paciência com Deus “é a principal diferença entre fé e ateísmo”.


Deus está presente no sofrimento sob a forma de fé e de esperança... “Eu posso sempre continuar a esperar, ainda que pela minha vida ou pelo momento histórico que estou a viver aparentemente não tenha mais qualquer motivo para esperar”.


“A esperança significa a ousadia de deixar a eternidade de Deus romper através das nuvens do agora”.Tantas vezes a vida decorre na escu­ridão de uma interminável noite de sofrimento, sem fé, sem esperança, “longe de todos os sóis”.


 O silêncio de Deus e a “escuridão da noite” não são a “última palavra” sobre o sofrimento. O “escondimento” de Deus tem uma janela: Jesus Cristo. Mas Cristo “não res­ponde diretamente e não responde de modo abstrato a esta pergunta humana sobre o sentido do sofri­mento. O homem percebe a sua resposta salvífica à medida que se vai tornando participante dos sofrimentos de Cristo. (...) Cristo não explica abstratamente as razões do sofrimento: mas, antes de mais nada, diz: ‘Segue-me! Vem! Participa com o teu sofrimento nesta obra da salva­ção do mundo, que se realiza por meio do meu próprio sofrimento! Por meio da minha cruz’”.


E S. Paulo: “Completo na minha came o que falta aos sofrimentos de Cristo”.


 Mas a cruz não é a “última palavra” de Deus sobre o sofrimento: "A eloquência da cruz e da morte é completada com a eloquência da Ressurreição’’. “Acreditar signi­fica abrir o coração e perceber que agora, neste preciso momento, a pedra selada foi rolada para o lado e os raios da manhã de Páscoa triunfaram sobre o sepulcro frio e sombrio”.

 

 

“Porque é que sofrem as crianças inocentes?”

 


“Eu não sei, mas Tu, Deus, sabes”.


“Deus é incompreensível. Se o compreendes, já não é Deus”.


“Os mistérios não se explicam. Acolhem-se”.


“O silêncio de Deus não é a última palavra”.


“A escuridão do mistério tem uma janela: a Cruz e a Ressurreição de Jesus”.


“Ter fé é acreditar que neste preciso momento a pedra do sepul­cro rolou para o lado”.


“Há momentos na vida, tão dolo­rosos, tão dolorosos, que a única coisa, minimamente coerente e com sentido que podemos fazer, é rezar”.


 

“Porque é que sofrem as crianças inocentes?”


“Eu não sei, mas Tu, sabes”.


De facto, eu não sei. E já não faço perguntas. Fico em silêncio, rezo, adoro. São coisas de Deus...


 “Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi o conselheiro que Lhe deu lições? De quem recebeu Ele con­selho para julgar, para Lhe ensinar o caminho da justiça? Quem Lhe ensinou a sabedoria, e Lhe mostrou o caminho da prudência?' (Is 40,12).

E isto basta.


E, aconteça o que acontecer, des­cansaremos nos braços de Deus.


'Recebe-me, Pai eterno, no teu Peito, misterioso lar: nele descansarei, pois venho desfeito de tanto lutar’’.


 



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