Meditar faz bem
Perder a confiança? Desanimar? Nunca!
- 05-09-2017
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Perder a confiança? Desanimar? Nunca!
Jesus oferece a graça do arrependimento e da conversão
Jesus perdoou à mulher adúltera e mostrou que todos devemos aceitar as graças de arrependimento e conversão. Abismo da humana fraqueza, tirania dos maus hábitos!
Quantos cristãos recebem no tribunal da Penitência a absolvição das suas faltas; é sincera neles a contrição, enérgicas são as suas resoluções… e caem de novo nos mesmos pecados, por vezes graves; o número das suas quedas cresce sem cessar! Não terão, então, sobejas razões de desânimo?
Que a evidência da própria miséria nos mantenha na humildade, nada mais justo. Que ela nos faça perder a confiança – será uma catástrofe, mais perigosa que tantas recaídas no erro.
A alma que cai deve levantar-se imediatamente. Não deve cessar de implorar a piedade do Senhor. Não sabeis que Deus tem as suas horas e pode num instante elevar-nos à mais sublime santidade?!
Não tinha levado por acaso Maria Madalena uma vida criminosa?
A graça, no entanto, transformou-a instantaneamente. Sem transição, de pecadora tornou-se grande Santa. Ora, a acção de Deus não se reduziu no seu alcance.
O que fez pelos outros, poderá fazer por ti. Não duvides: a oração confiante e perseverante obterá a cura completa da tua alma.
Não me venhas com essa que o tempo passa e já toca talvez ao termo a tua vida.
Nosso Senhor esperou a agonia do bom ladrão para o atrair a Si vitoriosamente. Num só minuto este homem tão culpado converteu-se!
A sua fé e o seu amor foram tão grandes que, apesar dos seus grandes crimes, nem passou pelo Purgatório; e, agora, ocupa para sempre um lugar elevado nos Céus.
Que nada, pois, altere em ti a confiança! Do fundo do abismo embora, apela sem trégua para o Céu. Deus acabará por responder ao teu apelo e em ti operará a sua justiça.
Certas almas angustiadas duvidam da própria salvação.
Lembram-se demasiado das faltas passadas; pensam nas tentações tão violentas que, por vezes, nos assaltam a todos; esquecem a bondade misericordiosa de Deus. Essa angústia pode tornar-se uma verdadeira tentação de desespero.
Quando era jovem, São Francisco de Sales conheceu uma provação dessas: tremia de não ser um predestinado ao Céu. Passou vários meses nesse martírio interior.
Mas uma oração heroica libertou-o: prostrou-se diante de um altar de Maria; suplicou à Virgem que o ensinasse a amar o seu Filho com uma caridade tanto mais ardente sobre a terra, quanto ele temia não poder amá-Lo na eternidade.
Neste género de sofrimento, há uma verdade de fé que nos deve consolar imensamente. Só nos perdemos pelo pecado mortal.
Ora, sempre o podemos evitar, e, quando tivermos tido a desgraça de o cometer, poderemos sempre reconciliar-nos com Deus. Um ato de contrição sincera, feito logo, sem demora, nos purificará, enquanto esperamos a confissão obrigatória, que convém se faça sem demora.
Certamente a pobre vontade humana deve sempre desconfiar da sua fraqueza.
Mas o Salvador nunca nos recusará as graças de que carecemos. Fará também todo o possível para nos ajudar na empresa, soberanamente importante, da nossa salvação.
Olha a grande verdade que Jesus Cristo escreveu com o seu Sangue.
Já terás algum dia reflectido como puderam os judeus apoderar-se de Nosso Senhor? Acreditas, por acaso, que conseguiriam isto pela astúcia ou pela força? Podes imaginar que, na grande tormenta, Jesus foi vencido porque era o mais fraco?!
Seguramente não. Os inimigos nada podiam contra Ele. Mais de uma vez, nos três anos das suas pregações, tentaram matá-Lo. Em Nazaré, queriam lançá-Lo num precipício; por várias vezes tinham apanhado pedras para O lapidar.
Sempre, porém, a sabedoria divina desfez os planos dessa ímpia cólera; a força soberana de Deus reteve-lhes o braço; e Jesus afastou-Se sempre tranquilamente, sem que ninguém tivesse conseguido fazer-Lhe o menor mal.
Em Getsémani, ao dizer Ele simplesmente o seu nome aos soldados do Templo vindos para se assenhorearem da sua pessoa sagrada, toda a tropa cai por terra tocada de estranho pavor. Os soldados só se podem levantar pela permissão que Ele lhes dá.
Se Jesus foi preso, se foi crucificado, se foi imolado, é porque assim o quis, na plenitude da sua liberdade e do seu amor por nós.
Se o Mestre derramou, sem hesitar, o Sangue todo por nós, se morreu por nós, como poderia recusar-nos graças que nos são absolutamente necessárias e que Ele próprio nos mereceu pelas suas dores?
Essas graças, Jesus as ofereceu misericordiosamente às almas mais culpadas durante a Paixão dolorosa. Dois apóstolos tinham cometido um crime enorme: a ambos ofereceu o perdão.
Judas atraiçoou-O e dá-Lhe um beijo hipócrita. Jesus falha-lhe com doçura tocante; chama-lhe seu amigo; procura à força de carinho tocar esse coração endurecido pela avareza. “Meu amigo, a que vieste? – Judas, tu trais o Filho do homem com um beijo?…”. É esta a última graça do Mestre a um ingrato.
Graça de tal força, que jamais lhe mediremos bem a intensidade. Judas, porém, repele-a: perde-se, porque assim formalmente o prefere.
Pedro faz-se muito forte… Tinha jurado acompanhar o Mestre até à morte, e abandona-O, quando O vê às mãos dos soldados. Só O segue então, mas de longe. Entra a tremer no pátio do palácio do Sumo Sacerdote. Por três vezes renega o seu Senhor – porque receia os insultos de uma criada.
Com juramento afirma que não conhece “esse homem”. Canta o galo… Jesus volta-Se e fixa sobre o apóstolo os olhos cheios de misericordiosas e doces censuras. Cruzam-lhe os olhares…
Era a graça, uma graça fulminante que esse olhar levava a Pedro. O Apóstolo não a repeliu: saiu imediatamente e chorou com amargura a sua falta.
Assim como a Judas, como a Pedro, Jesus nos oferece sempre graças de arrependimento e conversão. Podemos aceitá-las ou recusá-las. Somos livres! A nós compete decidir entre o bem e o mal, entre o Céu e o Inferno. A salvação está nas nossas mãos.
O Salvador não só nos oferece as suas graças, como faz mais: intercede por nós junto ao Pai celestial. Lembra-Lhe as dores sofridas pela nossa Redenção. Toma a nossa defesa diante dEle; desculpa-nos as faltas: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!”.
O Mestre, durante a Paixão, tinha tal desejo de nos salvar, que não cessava um instante de pensar em nós.
No Calvário dá aos pecadores o seu último olhar; pronuncia em favor do bom ladrão uma das suas últimas palavras. Estende largamente os braços na Cruz para marcar com que amor acolhe todo o arrependimento no seu Coração amantíssimo.
Se alguma vez, nas lutas íntimas, te sentires fraquejar na confiança, medita nas passagens do Evangelho que te acabo de indicar.
Contempla a cruz ignominiosa, sobre a qual expira o teu Deus. Olha para a sua pobre cabeça coroada de espinhos, que tomba inerte sobre o peito. Considera os olhos vítreos, a face lívida onde se coagula o sangue precioso.
Olhai para os pés e as mãos trespassadas, para o corpo todo ferido. Fixa sobretudo o coração amantíssimo que acaba de ser aberto pela lança do soldado; dele correram umas poucas gotas de água ensanguentada… Tudo te deu! Como será possível desconfiar deste Salvador?
De ti, porém, Ele espera retribuição de afecto. Em nome do seu amor, em nome do seu martírio, em nome da sua morte, toma a resolução de evitar doravante o pecado mortal.
A fraqueza é grande, mas Ele te ajudará. Apesar de toda boa vontade, terás talvez quedas e reincidências no mal, mas o Senhor é misericordioso. Só pede que não te deixes adormecer no pecado, que lutes contra os maus hábitos.
Promete-Lhe confessar-te logo que possas e nunca passar a noite tendo a consciência de um pecado mortal.
Feliz serás, se mantiveres corajosamente esta resolução! Jesus não terá derramado em vão, por ti, o seu Sangue bendito.
Tranquiliza-te quanto às tuas íntimas disposições. Terás assim o direito de encarar com serenidade o temeroso problema da predestinação; trarás sobre a fronte o sinal dos eleitos.