Mais saúde
É preciso aprender a ter paz e serenidade
- 17-06-2021
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A vida é composta por desafios diários
Diante de tantos tormentos que diariamente enfrentamos na
vida, muitas vezes, ter a paz e a serenidade parece algo muito distante. Cada
vez mais constante entre as pessoas de todas as classes sociais, a falta de paz
e serenidade torna-se uma queixa em todas as idades, todos os sexos, todos os
níveis de instrução. Algumas pessoas, por vezes, apresentam aquilo que é
chamado, no meio médico, psiquiátrico e psicoterápico de: Síndrome do Pânico.
Este quadro é caracterizado por uma série de alterações
emocionais e físicas, incluindo, por exemplo, taquicardia, falta de ar,
sintomas que se mostram incontroláveis. É um tipo de medo, muito intenso e um
tanto generalizado e, acima de tudo, é um excelente exemplo do quanto se faz
necessária uma reformulação dos nossos hábitos, das nossas relações.
Vivemos um tempo corrido, uma vida impessoal, em que já não
temos tempo para conversas, convivências. Falta a hora do jantar, do café;
faltam os pequenos rituais familiares, onde todos se encontravam e se olhavam.
Falta tempo para a intimidade. Às vezes, até há tempo para essas coisas, mas a
competitividade que somos “obrigados” a apresentar, torna as nossas relações
frias, superficiais. Ficamos receosos quanto a confiar nas pessoas, nos
expormos, nos apegarmos, amarmos, dependermos.
Esta falta de suporte afectivo, subtilmente, acaba por nos
incutir um sentimento de desamparo que, por vezes, fornece a base para quadros
como a Síndrome de Pânico; a Depressão e a Ansiedade. Sabe do que estamos a
falar? Já sentiu este desamparo mesmo cercado de pessoas que, de alguma forma,
nos devem amar, mas em relação às quais não nos sentimos à vontade para
dividirmos o fardo do dia a dia? Conhece alguém assim? Por vezes, o fardo pesa,
os problemas sufocam e vemo-nos impossibilitados de dividir, com quem quer que
seja, o que vivemos. Alguns não acreditam que o que vivem pode ser importante
para alguém; outros até sabem que aquilo que fazem é importante sim, mas só é importante,
só é valorizado pelo outro, se a pessoa for bem sucedida naquilo que faz,
naquilo que vive.
No caso de fracasso, de dificuldades, a pessoa é levada a “se
virar” sozinha. A situação parece tão sem saída que muitos buscam uma solução
externa, um remédio, um conselho mágico. No entanto, a solução pode estar mais
perto do que se imagina: pode estar “dentro” de si; na mudança dos seus
hábitos, nas suas iniciativas, principalmente nas relações com aqueles que lhe
são mais próximos.
O que a minha história influencia neste processo?
Muitas pessoas que vivem esta situação de que falamos, trazem
na sua história uma relação familiar na qual não foram valorizados; várias
vezes foram desqualificados, criticados, abandonados, até mesmo violentados. A
família, o primeiro suporte afectivo, não esteve presente. Outras pessoas
encontram uma estrutura familiar super-protectora, ou seja, cuidam, apoiam, mas
não deixam a pessoa aprender a cuidar da vida, não deixam a pessoa experimentar
frustrações e aprender a superá-las; assim, não desenvolvem confiança.
Tornam-se pessoas inseguras.
Pode ser útil pensar na família da qual saímos, pois fornece
o modelo das relações que aprendemos a construir; informa-nos sobre a maneira
como aprendemos a olhar para os outros: percebemos os outros como inimigos,
como avaliadores? Ou (como deveria ser) os percebemos como aliados, cúmplices,
na aventura que é a vida? Se não sabemos quem são as pessoas importantes para
nós e se não sabemos desfrutar do apoio deles, qualquer coisa passa a ser
ameaça. E, se nos percebemos diante dos outros como rivais, se nos percebemos
constantemente sob avaliação, a forma de sairmos desta condição para a condição
de amigos, companheiros, cúmplices é por meio do diálogo. Um diálogo onde
possamos assumir as nossas fraquezas, pedir ajuda, sermos humildes. Ninguém
nasceu pronto, perfeito. E, de que adianta ser amado se não nos deixamos ser
amados? De que adianta ser amado se não podemos desfrutar do colo, da amizade,
da compreensão daqueles a quem amamos?
É importante aprendermos a receber amor, a pedir ajuda, a
solicitar apoio, reconhecer falhas. As relações familiares são o melhor lugar
para colocar isto em prática. Fazer é aprender a amar… Amar em via dupla: dar e
receber amor; e ensinar o outro a fazê-lo. Assim, é hora de retomar os pequenos
hábitos, talvez até os que foram citados no início deste texto e que nos tornam
parte de algo maior.