Jovens com Valor
De bêbado e viciado a santo, padroeiro dos doentes e dos hospitais
- 31-08-2022
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A trajectória de São Camilo de Léllis, entre os abismos da
miséria e as alturas da misericórdia
São Camilo de Léllis, fundador da Ordem dos
Ministros dos Enfermos, é o padroeiro dos doentes, dos profissionais da saúde e dos hospitais.
Bem antes da criação da Cruz Vermelha, os religiosos da sua ordem, conhecidos
como camilianos,
tornaram-se apóstolos da caridade de Cristo num dos cenários mais angustiantes da existência
humana neste mundo: o da enfermidade.
Dos traumas ao vício
Camilo
nasceu em 1550 em Bucchianico, na Itália. Aos 17 anos, alistou-se como voluntário
no exército veneziano e, junto às tropas, testemunhou o drama dos enfermos que
agonizavam diante das mais diversas e torturantes doenças. Ele próprio, nessa época,
passou a conviver com uma dolorosa úlcera no pé – que o acompanharia até ao
último dia da sua vida. Para aumentar as angústias, o jovem ainda sofreu nesse
período a perda do pai. A sua vida então mudou drasticamente: Camilo enveredou
pelos prazeres mundanos, inclusive o da jogatina, em que acabou por se viciar.
Sem
dinheiro nem saúde, não conseguia local para se tratar. Partiu para Roma para
pedir socorro no Hospital Santiago: não tendo dinheiro, ofereceu-se para trabalhar
como servente e enfermeiro. Mal cicatrizada a ferida, voltou a juntar-se ao
exército para combater os turcos otomanos, que, na época, estavam a tentar
expandir-se em direcção à Europa ocidental.
Recuperação e… queda pior ainda
Aos 23
anos, já quase restabelecido economicamente, Camilo voltou a cair nos vícios
mundanos e no jogo, até perder tudo. Retornou a Nápoles e prometeu tornar-se
religioso franciscano, voto que já tinha esquecido no ano seguinte, quando…
estava novamente mergulhado na jogatina.
O jogo
e a bebida eram vícios que o derrubavam com força brutal. Camilo, na miséria,
partiu para Veneza. O frio, a fome e a indigência de quem nem sequer tinha teto
para dormir não eram suficientes para o afastar do maldito vício: em mais uma
das suas muitas derrotas no jogo, o rapaz teve de entregar como pagamento a
própria camisa.
Dos abismos da miséria às alturas da misericórdia
Depois
de muito deambular pelas ruas do mundo, Camilo conseguiu abrigo no convento dos
capuchinhos. E, finalmente, começou de verdade a converter-se.
As
pregações iam pouco a pouco transformando o seu coração até o levar a reconhecer-se
como pecador necessitado com urgência da misericórdia de Deus. Ingressou na
ordem dos capuchinhos, mas não pôde fazer a profissão dos votos religiosos por
causa da enfermidade na perna. Dedicou-se então, no hospital de San Giacomo, a
cuidar dos doentes – e chegou a ser superintendente do hospital.
Golpeado
pelas dolorosas necessidades do próximo, Camilo fundou uma associação de
pessoas dispostas a se consagrarem por caridade ao serviço dos doentes. Aos 32
anos, voltou aos estudos, sob o acompanhamento de São Felipe Neri, e, aos 34,
pôde enfim receber as ordens sagradas como sacerdote.
A Ordem dos Ministros dos Enfermos
A partir
de então, o padre Camilo iniciou a Ordem dos Ministros dos Enfermos, com dois
companheiros que, todos os dias, cuidavam dos doentes no Hospital do Espírito
Santo. A sua motivação brotava do facto de ver neles o próprio Cristo. Além de os
tratar na dimensão física, procurava também aproximá-los dos sacramentos,
cuidando assim da sua alma.
Com o
tempo, o serviço da congregação foi-se ampliando. Os camilianos assumiram a
missão de atender os prisioneiros doentes e os convalescentes em casas particulares.
São Camilo passou ainda a enviar religiosos com as tropas do exército para
atenderem os soldados feridos.
Muitos
religiosos morreram no cumprimento desta missão sacrificada – alguns,
inclusive, atingidos pela peste. São Camilo e os seus irmãos, apesar disso,
prosseguiram heroicamente. E prosseguem até hoje: os camilianos fundaram e
mantêm uma grande quantidade de hospitais em vários países, inclusive em
regiões nas quais, sem eles, o atendimento à saúde dos mais pobres estaria
severamente comprometido – ou mesmo ausente.
Finalmente, o descanso na Casa do Pai
O
santo dos enfermos sofreu sempre as dores intensas da perna e do pé, e, pouco
antes de morrer, as náuseas quase o impediam de comer. Mesmo assim, mantinha-se
preocupado com os necessitados. Em 1607, renunciou à direcção da ordem. Em 14
de Julho de 1614, aos 64 anos, partiu finalmente para o descanso eterno na Casa
do Pai.
O Papa
Leão XIII proclamou-o padroeiro dos enfermos juntamente com São João de Deus.
Pio XI declarou-o padroeiro também das associações dedicadas aos doentes.