Ave Maria Imaculada... Rezai o Terço todos os dias... Mãe da Eucaristia, rogai por nós...Rainha da JAM, rogai por nós... Vinde, Espirito Santo... Jesus, Maria, eu amo-Vos, salvai almas!

Jovens com Valor

Da discoteca ao mosteiro de clausura

Testemunho de uma religiosa clarissa 

Eu era uma menina que passava as noites nas discotecas.

Por isso Deus não era ninguém para mim. A questão religiosa estava adormecida em mim. Sentia-me bem. A coisa mudou quando, não sei como, me vi fazer parte dum grupo de meninas que semanalmente se reuniam no auditório do convento com uma irmã que falava e dialogava com elas de Deus, da sua própria vocação, enfim, de temas religiosos.
Estes encontros, sentadas todas ao redor duma pequena mesa, começaram a inquietar-me interiormente. Pouco a pouco me ia fazendo consciente de que algo estava a mudar dentro de mim, sentia-me diferente. Comecei a fazer-me perguntas que antes nunca havia feito. Sentia certa tensão. Aquilo começava a ser bastante confuso e os sentimentos apareciam muito contraditórios. Quando por fim pude dar nome a todo este “movimento” interior, chegou a decisão: mudar do auditório pelo claustro e da visita semanal pela permanência definitiva. Depois pude dar-me conta de que tudo aquilo, supôs uma experiência configuradora, que fez com que me enraizasse na convicção de que o Senhor me chamava à aventura de decidir a minha vida na contemplação.
Quando, depois de todos estes anos de vida no mosteiro, trato de partilhar o significado e o alcance da minha opção pela vida contemplativa clariana com as pessoas que me pedem, encontro-me com a dificuldade de não acertar a dizer o que quisesse, sempre fico com a impressão de ficar-me como na simplicidade da questão. Consola-me o facto de que nem o próprio evangelista João soube expressar o que sucedeu aquela tarde, à hora décima, depois de ser encontrado por Jesus junto com seu amigo André.
Pois bem, isso que João não pode explicar e que acontece num momento determinado da vida, da história pessoal, isso mesmo, mas de forma permanente, é a vida contemplativa: encontrar-se com Jesus, pelo que antes foste tu mesma encontrada, ir atrás dele, no mais simples e quotidiano da vida, aprofundando nele, reconhecendo Deus inclusive na rotina, na monotonia de todos os dias; contemplá-lo não só nos tempos que dedicamos exclusivamente à oração, mas na simplicidade do que vai acontecendo, no rosto das Irmãs, no trabalho, no estudo e na formação, na cruz das limitações. Tudo isto não é senão um processo que desemboca na vida teologal, ou seja, na experiência única de que Deus vai sendo mais Deus em ti e tu mais tu Nele.
Há uma maneira, ou melhor ainda, uma atitude existencial que contribui para conservar o nível de azeite com o qual a chama da lâmpada contemplativa pode nutrir-se e manter-se acesa.
- O silêncio, que em nenhum caso é ausência de linguagem e comunicação. Num clima de silêncio, a contemplativa ou o contemplativo percebe de maneira especial o lamento da Humanidade que grita o seu sofrimento, a sua angústia, o seu desfalecimento por causa das injustiças praticadas de mil maneiras pelos fortes, pelos poderosos. Na linguagem do silêncio, é capaz de dialogar com a única Palavra do amor de Deus permitindo assim que a sua vida seja somente um eco dela através do que faz, pensa, diz e sente.
- A solidão, que não pode ser confundida com uma atitude de isolamento ou de inibição. Trata-se da solidão habitada por Deus na qual, misteriosamente, estão presentes todos os homens e mulheres que, sem ter um rosto concreto, sem conhecer a sua dramática existência, estão aí, junto de ti e tu junto deles. Isso faz de ti consciente de que a solidão é uma graça que te possibilita estar espiritualmente próximo de quem geográfica, económica, étnica ou culturalmente está longe.
- A oração contemplativa, que, na peculiaridade de nosso carisma clariano, é um olhar a Cristo pobre e humilde que incendiou o coração de Clara de Assis, que o apaixonou de tal modo que já não quis senão seguir e imitar sua vida e pobreza e a de sua mãe. Olhá-lo como se olha um espelho para contemplar Nele a pobreza de Deus, o seu abaixamento, a sua condição indefesa, o seu opróbrio... por amor! Ao contemplar as suas feridas, a sua morte infamante, alguém se atreve a curar a ferida das Irmãs que foram dadas como um dom, se atreve a morrer por elas, a ser mais irmã. Olhando para Jesus se sente irmã de todos os homens e mulheres deste mundo e quer colaborar com Deus, desde o seu ser eclesial, servindo de apoio dos membros mais fracos que a formam. Olhar para Jesus Cristo sem mais alegria que o olhar e saber ser olhada pela maneira de uma mãe que não espera nada do menino pequeno que contempla enquanto dorme e que, precisamente porque não espera nada dele, é capaz de dá-lo todo, de dar-se inteira.

Deus fez-me um grande presente, fez-nos um grande presente para todas as contemplativas e contemplativos do mundo: Deus chamou-nos exclusivamente para permanecer com todos n’Ele.

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