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Jovens com Valor

Carla Restoy, batizada na adolescência e corajosa evangelizadora: "A Verdade merece vida"

Ainda não tem trinta anos e há dez anos tornou-se católica,mas a jovem catalã Carla Restoy é um exemplo de compromisso e ardorevangelizador. Não conhecia Deus nem ninguém que fosse à missa, mas as suas preocupaçõesintelectuais acabariam levando-a à conversão e à Igreja Católica.

Agora defende a fé que recebeu onde quer que uma porta seabra para ela, seja nas redes sociais, em qualquer conferência ou mesmo natelevisão nacional em programas de horário nobre, onde não tem medo de lutarpara defender questões como pureza, virgindade ou falar sobre o poder daEucaristia ou o mal do aborto.

Como foi a sua infância?

Muito feliz. Eu era uma criança muito querida. Meus pais, porconsistência de vida, decidiram que não me iriam batizar. Eles não sabiam o queera o batismo; eles não eram crentes. E nenhum dos meus quatro avós ia à missa.

Também não falaram consigo na escola?

Eu fui para uma escola secular onde não nos falavam de Deus.Embora seja verdade que a minha avó uma vez rezou o Pai Nosso, porque uma dassuas filhas morreu e ela disse que precisava "para sobreviver".

O que sabia sobre Deus e a Igreja?

Praticamente nada. Entre as duas turmas do meu curso, apenasquatro alunos fizeram a Comunhão. Cresci com a ideia de que a religião era parapessoas estúpidas, pobres que não pensavam muito ou para pessoas que sofrerammuito, como a minha avó. Para mim, a Igreja Católica era uma instituição decarcaça, e eu via como bom que ela se estivesse a extinguir.

Preconceitos haviam penetrado em si.

Sim, mas devido à ignorância. Não por causa dos meus paisdiretamente, mas por causa do ambiente. Na verdade, os meus pais disseram que,quando eu crescesse, deveria decidir a minha religião. Embora o meu pai medissesse: "O que eu quero é que você seja uma menina boa, livre efeliz", e para isso a religião não parecia "necessária" paraele.

Que referências ele tinha?

Eu não conhecia Deus ou ninguém católico ou qualquer pessoaque fosse à missa. Sim, a minha infância foi muito bonita, a minha adolescêncianem tanto, porque eu era bastante rebelde. A partir dos 12 anos a minha sériefavorita era Sex and the City, e na minha adolescência bebi da ideia de mulher,sexualidade e estilo de vida que ela propunha.

E o que aconteceu para que isso mudasse?

Aos 15 anos, tive que fazer uma cirurgia para escoliose.Fiquei engessada durante dois meses e depois dois anos num espartilho. Fiz umapausa no meio da adolescência. Por um lado, parei de fazer as coisas que faziacom os meus amigos. E por outro lado, pela primeira vez tive duas disciplinasque nos fizeram pensar: Filosofia e História e Cultura das Religiões. Eu tinhamuito tempo livre. Eu era capaz de parar e pensar. O meu coração efervescenteno fundo estava procurando respostas.

O que aconteceu então?

Falaram-nos sobre os cinco caminhos de São Tomás quedemonstram por que a existência de Deus é razoável. Foi uma bomba. E essespreconceitos estavam a cair. Então li Chesterton e quando contei o queaconteceu com ele, senti-me identificada: tinha muitos preconceitos contra aIgreja Católica que não sabia de onde vinham e comecei a investigar se eramverdadeiros ou não.

Para onde foi parar?

Sem saber, parti numa busca intelectual e também porexperiência. Eu assisti aos dramas dos meus amigos... Algumas já haviam feitoabortos, e entendi que a proposta de Sex and the City não se encaixa com o querealmente vivemos. Percebi que era ateu, mas não sabia por quê.

Demorou em descobrir?

Foi um processo de dois anos. Eu tinha pensado toda a minhavida que tudo era relativo, mas comecei a perceber que poderia haver verdadesobjetivas, leis no coração. Eu o descobri em São Tomás, mas também em S. Agostinho.Quando li as Confissões, de repente todas as peças se estavam a encaixar...

O meu pai disse que eu poderia escolher a religião. Entãoencontrou outras "propostas" além do catolicismo?

O budismo e a ioga estavam na moda. Eu tinha uma amiga quefazia meditação transcendental e ela me disse que depois das meditações elaacabou por sair do lugar. E no meio da busca eu me perguntei qual era o sentidode acabar "fora do lugar"... Vi que a ioga não me tornava uma pessoamelhor ou respondia à verdade.

E não notou isto no cristianismo?

Não. A visão da Igreja de quem é a pessoa se encaixava emmim. Comecei a entender a ideia de concupiscência e também a de redenção. Daminha própria história pessoal, tudo isso fazia sentido razoável, embora euainda não tivesse recebido a graça.

O que finalmente a conquistou?

A ideia de uma Revelação fez muito sentido para mim. Éverdade que desde criança sempre vi que a vida é um milagre, gosto da naturezae era muito sensível à beleza, por isso não via como irracional que pudessehaver um Criador. No final, encontrei Jesus, aquele Deus que vem para me salvare me curar.

Tudo isso que descobriu por conta própria, quando a uniu àIgreja?

Eu já valorizava o cristianismo, mas não a Igreja Católica.Coincidentemente, conheci um padre com quem comecei o acompanhamento espirituale depois comecei a ajudar num grupo de jovens. Vi que ali havia vida, que o queme convinha a nível racional ali se concretizava num amor muito genuíno, no"olha como se amam".

E quando recebeu o batismo?

Como resultado da leitura do Evangelho, apaixonei-me. E tinhaum desejo muito grande de ter essa filiação divina. Aos 17 anos, na VigíliaPascal de 2014, recebi o Batismo, a Comunhão e a Confirmação.

O que lembra daquele momento?

Senti-me muito amada, muito bem-vinda. Foi maravilhoso queamigos que não acreditam vieram, e meus pais também.

Sentiu-se incompreendida?

De certa forma, sim, porque o meu modo de vida questionava odos meus amigos. Mas eles vieram até mim para me contar sobre os seusproblemas. Os meus pais viam-me como a garotinha de uma adolescente. O problemasurgiu quando mais tarde viram que eu estava a falar a sério. Então elescomeçaram a ficar com medo. Mas agora eles estão lidando muito melhor. Naverdade, a minha irmãzinha foi batizada há dois anos.

O que foi mais difícil para você depois que se tornoucatólica?

A sensação de ver o que tínhamos e que muitos católicos nãovalorizavam, como a missa, a adoração ao Santíssimo Sacramento. Eu meperguntava: como eles podem não estar apaixonados por Deus?

Este zelo a levou a defender a virgindade em rede nacional...

É importante dizer ao mundo que a virgindade não é algo quese perde, é algo que se dá. Você não tem um corpo, você é um corpo. O maior dosgestos corporais é precisamente esse abraço sexual. Se você não viver naverdade, acabará por se arrepender, porque o sexo é feito para ser vivido com apessoa a quem você dá a vida.

Como faria um adolescente ver a importância desta espera?

Como é maravilhoso termos a inteligência e a vontade de poderdirecionar esse impulso inicial e essa reação do corpo para o que seu coraçãorealmente quer! Sentir-se atraído por um menino não é ruim, o que é ruim é nosanimalizar e não orientar para um fim último. Aos jovens, eu diria:"Pensai a longo prazo; pare e pense."

Sentiu-se uma esquisita na TV?

De modo algum. Pelo contrário, se não dormi com ninguém, éporque não quis e porque aspiro a uma dedicação muito maior. Muitas pessoasacreditam que essa visão já está "desatualizada" porque não aentenderam realmente. E aí vejo que tenho uma missão: tentar mostrá-la.

Nesta missão na televisão, eu também falo sobre Deus,aborto...

Pude até falar da Eucaristia! Foi o melhor momento da minhavida, falando sobre o grande milagre que é. Acho que muitos católicos têm medodo martírio. Que chegue ao Céu e possa chegar cansado de anunciar a Verdade.Quando estou na Missa e vejo o corpo de Cristo quebrando, como posso nãoquebrar?

Essa rendição total vale a pena?

Ele merece a vida. É um acto de justiça. As pessoas merecemconhecer a verdade. Espero que isto encoraje muitas pessoas a assumirem edefenderem publicamente estas verdades.

Por que acha que os católicos têm medo de se expor?

Encontro cada vez mais pessoas que se apresentam,especialmente entre os jovens. Por terem sido tão desencantados, quandodescobrem o contraste, a verdade, a vida e a beleza, dão a vida por isso.

O que a ajuda nesta missão?

A missa diária. Sem isso eu morro. Também a minha direçãoespiritual, os meus amigos, a minha formação. Eu preciso de ter bases sólidas.E então, obviamente, ter uma comunidade de fé.

Atualmente, é definida como uma "influenciadoracatólica". O que isto significa para você?

Sou uma católica normal e estou nas redes sociais como umajovem normal. Quero ser um trampolim para as pessoas viverem a sua santidade noreal. Eu gostaria que quando as pessoas vissem uma publicação, largassem osseus telemóveis e dissessem: "Quero viver a minha vida real a partir desteamor que esta garota descobriu".

Encontra algum perigo neste mundo virtual?

Sim, e de facto sou a primeira a dizer que no momento em queisto me afasta da minha família, da minha realidade, do meu relacionamento comDeus, eu deixo. Mas hoje sinto-me chamado a comunicar ali o bem que descobri. Eaté agora não me magoou. O que me deixa triste é que há pessoas que podem meidealizar, porque quem me conhece sabe que sou um desastre.

Também faz palestras para jovens...

Senti-me muito enganada durante a minha adolescência. E seeles me enganaram, enganaram algumas pessoas. Tenho um desejo tremendo de partilharcom o mundo inteiro esta beleza que me foi dada. Fico feliz em anunciar aosquatro ventos o que aconteceu comigo, o que estou a viver, quem conheci, e quetudo isto se refere à fonte.

Fala com as meninas sobre feminilidade. Como acolhe estavisão?

Quando falo com eles sobre o que eles vivenciam no meio daadolescência, eles dizem-me: "Você não está a mentir-me, você está adizer-me algo que eu vivo". Assim, você pode ajudá-los a mudar um pouco oolhar e orientá-lo. Muitas meninas me escreveram depois porque o que eu lhes digoas ajudou a transformar as suas vidas.

Como vê a sua geração?

A juventude pós-moderna de hoje sente-se sozinha, como umindivíduo lançado ao acaso. Esta é a grande mentira. Tiraram-lhe as raízes, oseu património, a sua identidade... Há uma ruptura tão grande nos laços que elefica como se estivesse desengajado, sente-se impotente e tenta se protegerprocurando maneiras que lhe dêem conforto. É por isso que os jovens não são tãoinconformistas. Eles tiraram o épico e a possibilidade de fazer parte de umagrande aventura.

Que pontos fortes você vê na juventude?

O jovem que não é cristão não conhece Buda tão bem comoCristo. Eles nem sequer têm preconceitos porque nem sabem o que é a Igreja. Épor isso que vejo uma grande oportunidade de proclamar a Boa Nova pela primeiravez sem os preconceitos que outras gerações tiveram.

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