Depois de ver o inferno, atriz alemã desiste da carreira para se tornar eremita
Uma experiência impressionante mudou radicalmente a vida de Katja Giammona. O que a fez abandonar as telas de cinema para entrar no silêncio e no escondimento da vida religiosa.
O novo livro do jornalista Antonio Socci, Avventurieri dell'eterno (Rizzoli, 2015), apresenta aos leitores o incrível testemunho de Katja Giammona, uma história que – assegura o autor – "tocará o fundo da sua alma".
A entrevista da ex-atriz foi dada com a permissão específica do seu pai espiritual. Para ela, de facto, "retirada do mundo com toda a sua vaidade", os contactos com o mundo externo são extremamente reduzidos, quase inexistentes. A disponibilidade para a entrevista foi dada via e-mail e telefone. Benedita – como hoje se chama, na vida religiosa – só concordou em falar porque sabe que "o seu testemunho pode ajudar a muitos".
Nascida em Wolfsburg, na Alemanha, a 11 de Julho de 1975, numa família de testemunhas de Jeová, Katja foi ensinada desde a infância a ler a Bíblia e acompanhar os pais na sua caminhada religiosa. Mas, ainda no começo da sua adolescência – graças a uma amiga católica e à ajuda de um pastor protestante –, a jovem sentiu o desejo de levar à perfeição o seu batismo, entrando plenamente na Igreja Católica (o batismo das testemunhas de Jeová, recorda Katja, não é considerado válido pela Igreja, porque não é ministrado em nome da Trindade, mas tão somente em nome de Jesus).
Nos anos 90, Katja trabalhou na televisão e no cinema, realizando o sonho de se tornar uma atriz famosa, na Alemanha e na Itália. Mas a sua carreira foi definitivamente interrompida porque, como ela mesma explica, "Cristo me queria para si, e que eu vivesse e trabalhasse somente para Ele, e não para fazer carreira para a TV e para o inferno".
Em Fevereiro de 2002, estando em Berlim para o Festival Internacional de Cinema, aconteceu algo que mudou radicalmente a sua vida. Em visita à casa de alguns amigos, ela caiu num sono profundo, talvez por um desmaio ou pelo cansaço, indo parar a um pequeno quarto escuro. Naquele lugar, ela viu em torno de si muitas chamas que se elevavam do chão e começou a correr desesperadamente, sem achar uma saída.
Foi uma experiência real e impactante do inferno, a qual, embora tenha durado alguns momentos, pareceu-lhe uma eternidade. Ali, Katja encontrou um demónio disfarçado de jovem, que se ria dela, dizendo: "Podes correr, mas daqui tu não sais". Mesmo com o corpo intacto, ela sentia dores de queimaduras, um "sofrimento terrível", durante o qual ela chegou a pensar que iria morrer:
Eram sobretudo os pecados contra a castidade que me tinham levado à
perdição. (...) O demónio ria-se do facto de que a minha alma, que
procurava o verdadeiro amor, que é Cristo, tinha sido afastada do caminho do
seu Reino. Ele mostrou-me os rapazes que passaram pela minha vida, ainda que
apenas através de um pensamento. O nosso bom Senhor Jesus
ensina-nos, no Evangelho, que é possível pecar só com um olhar ou um pensamento
(cf. Mt 5, 28). O ser humano quase
sempre se esquece disso.
Sim, porque não entendemos quão loucamente somos amados por Deus, com um amor
infinitamente maior que o de qualquer ser humano. Se considerássemos apenas
isto, não poderíamos julgar insignificante 'um pensamento'. Quem ama é imensamente vulnerável, pode ser
ferido pela pessoa que ama, ainda que só por uma palavra ou um pensamento.
(...) Alguém que te ama não se sentiria profundamente ferido, sabendo do
desejo que tu tens por outra pessoa? E nós achamos que não ferimos o Senhor
Deus?
É assim mesmo. Se apenas compreendêssemos
quão imensamente somos amados...!
Também ficou profundamente gravado na sua memória o facto de que: estes homens, meus amigos, que caminhavam nas chamas, permaneciam ali. O demónio disse-me que era ele quem me tinha seduzido através deles. Tinham sido usados por ele. Também notei que havia um ou outro que não ficava naquelas chamas. Isto significava que eles não estavam no inferno, talvez se tivessem confessado dos seus pecados. Mas aqueles outros permaneciam ali. Compreendi que eles já estavam no fogo e, depois, foram enviados a mim para me atirar nas chamas. O demónio usa especialmente os que estão em pecado mortal para atirar outras almas no abismo.
Em dado momento, através de uma fenda "aberta" no quarto, Katja viu a sua mãe. Convertida à fé católica há alguns anos, ela tinha cultivado o piedoso costume de se levantar de noite para rezar a coroa de Santa Brígida. O relógio da sala marcava três horas da madrugada e, enquanto a mãe rezava, Katja suplicava-lhe ardentemente por oração (já que ela "não podia rezar a Deus por si mesma" naquele estado): " Mamã, reza por mim! Eu te imploro, reza por mim!"
Benedita conta que, depois de abandonar a seita das testemunhas de Jeová, a mãe tornou-se uma alma de muita penitência, tendo feito jejuns e vigílias durante longos sete anos, até que Deus acolhesse a oferta dela pela sua conversão. Ela também lamenta o facto de que tantas pessoas ignorem ou se esqueçam de rezar pela conversão dos pecadores. "O Senhor revelou-me – diz ela – que, quando Ele salva uma alma, não o faz porque essa pessoa é especial, mas por pura misericórdia. Ele comove-se com a oração, com os sacrifícios e com as lágrimas daqueles que imploram misericórdia e salvação duma alma."
Enquanto estava no inferno, a mãe de Katja não a escutava, mas, mesmo assim, rezava pela filha, como sempre fazia, com devoção e amor maternais – uma oração que a própria filha recusava, porque, conta ela, "para mim eram orações de fanáticos que, em vez de fazer bem, traziam má sorte". Presa naquele quarto infernal, todavia, ela entendeu que não ter ninguém para rezar por ela era "uma verdadeira punição".
Subitamente, então, ela caiu em si e encontrou-se de novo na sua cama, imóvel, pálida, e com os lábios "ligeiramente azulados". Os seus amigos estavam ali, espantados, enquanto ela tentava em vão pronunciar alguma palavra – experiência típica de quem acorda de um coma, comenta Socci. O que parecia não passar de um pesadelo, porém, fez a vida de Katja mudar totalmente de rumo.
A experiência do inferno mostrou a Katja a contradição de sua vida: enquanto se dizia católica, a atriz vivia afundada no pecado. Ela acreditava que o pecado não era algo tão sério e dava de ombros para a voz da sua consciência: "Eu era uma pecadora que sequer me dava conta da própria condição. Porque o mundo repete-nos que não há pecados". Mesmo declarando-se católica "no papel", a atriz morava com o seu namorado, ignorando a gravidade do seu pecado e considerando o seu sentimento de culpa um "fanatismo" herdado das testemunhas de Jeová. A partir daquela noite, ela sentiu a exigência de uma mudança radical na própria vida: terminou o seu relacionamento e fez uma peregrinação a Medjugorje, juntamente com a mãe, com o propósito sincero de consagrar a sua vida ao serviço do Senhor.
Entre as várias formas de vida consagrada, Katja sentiu que a sua vocação particular era o deserto. Depois de uma experiência na África, no deserto geográfico, entendeu que o verdadeiro deserto que Deus lhe havia preparado era o da alma. Então, ela decidiu aposentar-se, "como Maria Madalena aos pés de Jesus", abraçando a vida eremítica e tomando para si o nome de Benedita.
Foi assim que Katja abandonou definitivamente a antiga vida para se colocar aos pés do Senhor – a exemplo de São Bento, Santo Arsénio e Santo Antão, os quais têm em comum o facto de "terem confiado em Cristo e se entregado completamente a Ele", sem pretensões, sem procurar títulos, riquezas ou fama, sem fazer muitos projetos e racionamentos, mas vivendo "dia após dia a vontade divina".
A sua vocação, Katja explica tê-la aprendido da sua experiência pessoal: a primeira vocação é o batismo, mas, depois, "deve-se estar pronto a deixar tudo e todos, se Cristo chama, como chamou o jovem rico":
A mim, depois de sete anos de sacrifício e oração por parte de minha mãe, foi dada a graça de compreender que não basta ser batizada e ser católica 'no papel' [para salvar-se]. Descobri que Deus é católico, que a sua Igreja é a nossa querida Mãe, que devemos praticar a fé, que devemos observar os mandamentos e que o inferno existe!
"Deus conhece-nos e conhece a nossa vocação", diz ela, e isso não é uma "coisa da cabeça ou do próprio gosto, mas algo sobrenatural". É o Espírito Santo que guia, não a razão ou os cálculos humanos. "Não tenhamos a pretensão de ter que entender tudo de Deus. Não devemos entender, mas amar".
Ao fim da entrevista, Benedita lança um apelo: "Aventurar-se com Cristo, acreditem em mim, vale a pena. Abram as portas dos vossos corações a Cristo e Ele se revelará a vós em todo o seu esplendor".