UMA HISTÓRIA PARA REFLECTIR
A nossa culturairreverente e cada vez mais cética deixou de lado as histórias piedosas que, de geração em geração, transmitiam mensagens de fé e convidavam à reflexão. Esta é uma das histórias que se contavam décadas atrás, sobre um caso que teria acontecido durante a grande crise económica mundial da década de 1930, em Chicago, nos Estados Unidos.
Era ainda madrugada quando o Dr. Braun foi despertado pelo seu telefone, que não parava de tocar. Sonolento, ele atendeu e ouviu uma voz suplicante:
– O senhor é o Dr. Braun?
– Sim, sou eu.
– Por favor, venha depressa! É muito urgente, um caso de vida ou morte!
– Onde é que o senhor mora?
– Alan Street, número 17. Venha rápido, por favor!
O Dr. Braun vestiu-se depressa, pegou na sua bolsa de médico e dirigiu-se à rua indicada. Sozinho, guiou o seu carro pelas ruas escuras da cidade. A região para onde ia era distante do centro, num bairro em que nem sequer durante o dia os habitantes se sentiam seguros.
A casa ficava num beco um tanto isolado. Estranhando não ver nenhuma luz acesa, o Dr. Braun bateu à porta. Depois de uma pausa, bateu novamente e, de novo, não recebeu resposta. Quando bateu pela terceira vez, alguém perguntou com voz grossa:
– Quem é?
– Sou o Dr. Braun. Recebi uma chamada de emergência.
– Ninguém chamou o senhor. É melhor que o senhor desapareça rápido, daqui!
Afastando-se, o Dr. Braun pensou ter anotado o número errado. Algumas semanas mais tarde, uma nova ligação. Desta vez ela veio durante o dia e era do serviço de emergência do hospital. A enfermeira explicava que um certo John Turner, a ponto de morrer por causa de um acidente grave, queria falar urgentemente com o Dr. Braun. E ela acrescentou:
– Dr. Braun, por favor, venha depressa, pois o homem já está a morrer e não nos quer dizer por que insiste tanto em falar com o senhor.
O Dr. Braun prometeu chegar logo, embora tivesse a certeza de não conhecer nenhum John Turner. O próprio moribundo lhe confirmou:
– Dr. Braun, o senhor não me conhece, mas eu devo falar consigo antes de morrer para pedir perdão. O senhor com certeza lembra-se de um telefonema durante a noite, algumas semanas atrás.
– Sim, mas…
– Fui eu. Estava sem trabalho. Vendi todas as coisas preciosas da casa e, mesmo assim, não consegui alimentar a minha família. Não conseguia mais suportar os olhares suplicantes dos meus filhos, que estavam a passar fome. No meu desespero, resolvi chamar um médico durante a noite. Eu queria matá-lo, roubar o seu dinheiro e vender os seus instrumentos.
O Dr. Braun ficou paralisado de terror. Ainda assim, perguntou:
– Mas eu fui até lá. Por que é que o senhor não me matou?
– Pensei que o senhor viria sozinho, mas quando vi aquele jovem grande e forte ao seu lado, fiquei com medo. Perdoe-me, por favor!
– Claro que vou perdoar, murmurou o Dr. Braun, boquiaberto.
O facto é que o médico tinha mesmo ido sozinho. Ou, pelo menos, era isto o que ele pensava.
Foi à saída do hospital que ele ouviu de uma enfermeira um comentário que lançou luz sobre aquele mistério. A enfermeira, que nada sabia da história, disse-lhe:
– Como são admiráveis os caminhos de Deus, não é, doutor? Quantas vezes os nossos anjos nos protegem de perigos iminentes, sem que nós sequer estejamos conscientes!
– Por que está a dizer isso, enfermeira?
– Porque os filhos deste homem que acaba de falecer estiveram a ponto de morrer de fome, sozinhos em casa, quando foram encontrados por uma senhora.
– Não entendi a relação.
– A senhora foi a casa deles porque um jovem grande e forte lhe pediu o favor de entregar lá um pacote. O pacote continha comida e o endereço de uma tia das crianças com quem tinham perdido o contacto. E nem a tia, nem a senhora, nem as crianças conheciam nenhum jovem grande e forte.
Se não era um anjo, quem mais poderia ser?