Espiritualidade
O que é a fé? O que significa crer, nos dias de hoje?
- 28-02-2020
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Ainda tem sentido a fé, num mundo onde a ciência ultrapassou
horizontes que, há pouco tempo, eram impensáveis? Pode parecer que este tipo de
questionamento só possa surgir numa pessoa incrédula, mas isto não é verdade. Actualmente,
torna-se cada vez mais necessária uma “renovada educação para a fé, que inclua,
sem dúvida, um conhecimento das suas verdades e dos acontecimentos da salvação;
sobretudo, que nasça de um encontro verdadeiro com Deus em Jesus Cristo”.
Não obstante a grandeza das descobertas da ciência, hoje o
homem não parece ter se tornado verdadeiramente mais livre, mais humano. O Papa
emérito Bento XVI ensina: “Temos necessidade não só do pão material, mas
precisamos de amor, de significado e esperança, de um terreno sólido que nos
ajude a ter um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas
dificuldades e nos problemas quotidianos”.
A fé, segundo ele, “oferece-nos precisamente isto: Um
entregar-se confiante a um «Tu», que é Deus, o qual me confere uma certeza
diversa, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exacto ou
da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades
particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um
Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um «Tu» que me dá esperança e
confiança”.
A fé é uma experiência
A fé é algo além de um sentimento ou uma certeza; é uma
experiência. Quando olhamos para Deus, podemo-nos deparar com um “deus”
tradicional, um ser poderoso, no qual aprendemos a crer, porque, normalmente, a
maioria das pessoas ao nosso redor acreditam ou, podemos realmente olhar para o
Senhor e saber que Ele existe não porque contam, mas porque o conhecemos e
fazemos uma experiência pessoal com Ele.
Não que a tradição familiar e cultural da fé sejam algo ruim,
mas a “educação para a fé” deve nos direccionar também para um caminho que nos
levará a uma profunda e verdadeira experiência com esse “Tu” que é Deus. Desta
relação, dia a dia, nasce a verdadeira conversão do coração e da mente.
Fé: caminho seguro para uma verdadeira conversão
Esta fé que a Igreja professa é o caminho seguro para uma
verdadeira conversão de vida. O Papa João Paulo I, numa das quatro catequeses
que fez durante o seu curto papado, definiu: “Eis o que é a fé: entregarmo-nos
a Deus, mas transformando a própria vida”. É este o caminho que Deus quer
trilhar connosco: uma relação pessoal e real com Ele, e uma transformação verdadeira
das nossas vidas. Não há sincera experiência de fé se não houver uma concreta
mudança na vida pessoal.
Uma experiência de fé que não atinge a minha forma de agir,
pensar, sentir, relacionar-se, não pode ser considerada fé em Cristo. Fé é
relacionar-se, e o relacionamento com Jesus atinge toda a nossa forma de estar
e ser no mundo. A começar pelo nosso carácter, não existe relação com Deus que
não nos leve a uma busca sincera para segui-lo e imitá-lo. Por isso, o próprio
Jesus afirmou que “uma árvore se conhece pelo fruto” (Lc 6, 44). Um cristão é
conhecido pelo amor.
Desconheceis que a bondade de Deus vos convida à conversão?
Esta educação para a fé é um trajecto feito no pessoal. Não
dá para pensar que Deus me ama como sou, e por isso não preciso de mudar. É
justamente este amor de Deus, real e concreto, que nos impulsiona e no incomoda
a não continuarmos como somos, mas querer ser melhor para Deus e para o outro.
Na sua catequese sobre a fé, o Papa João Paulo I pediu que
cada um de nós, toda a Igreja, rezasse a oração que ele costumava rezar:
“Senhor, aceita-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas
faz que me torne como tu desejas”.