Nunca desanimar
O que é que faz desanimar os homens na luta contra o pecado?
Serem obrigados a lutar sempre contra as mesmas dificuldades sem poder humanamente ter nenhuma esperança de sair delas; e voltar a cair por terra, quando já pensavam estar definitivamente de pé, solidamente apoiados em seus pés?
Em ambos os casos esquecem a Omnipotência de Deus e o seu Poder. O desânimo é um sério obstáculo na vida, pois ele aniquila-nos, faz-nos perder tempo, e porque é essencialmente uma falta de confiança, afasta-nos de Deus, o nosso único Salvador.
Para o cristão não há nenhuma razão para o desânimo.
Tu “cozinhas a tua tristeza” “não tenho gosto para nada”: “e vais deixando tudo no mesmo para ver como fica”.
Não acreditas no esforço: “para quê lutar?”; “nunca conseguirei”; “é sempre a mesma coisa”.
O desânimo imobiliza-te, paralisa-te, deixa-te sem reacção. Tu já não és dona da tua vida. Pura e simplesmente, não vives!
Estás desanimado? É porque confiavas em ti mesmo e agora constatas dolorosamente que não podes contar contigo.
Se tu confiasses em Deus, sofrerias com o erro, mas não desanimarias. Porque Deus é tão poderoso e tão amigo depois do pecado como antes. O desânimo é sempre prova de demasiada confiança em si e de muito pouca confiança em Deus.
Não procures escapar artificialmente às tuas dificuldades, aos teus maus hábitos, aos teus pecados inesperados.
“Se eu pudesse não ter feito aquilo”. “Se fosse possível voltar atrás”.
“Se eu tivesse que recomeçar”. “Não é normal que eu tenha tantas dificuldades”. “Não é justo”. “E por causa do meu temperamento, nada posso fazer. “
Se queres triunfar do pecado, a primeira atitude é reconhecer o mal que está em ti. Não inventes desculpas, não fujas, não procures esquecer, negar, porque não é assim que tu o destruirás. Aceita a falta de hoje, a tentação de amanhã, a tirania daquele hábito, as ocasiões de pecado das quais tu não podes escapar. Cristo não veio para nos tirar as tentações, nem suprimir as possibilidades de pecar, mas veio para perdoar os nossos pecados.
Fica sossegado, os próprios santos não foram dispensados da luta contra o mal. São Paulo escrevia aos romanos: “Não faço o que quero, mas o que odeio… Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero… Quando quero fazer o bem, o mal está ao meu lado. No meu ser profundo, desejo a lei divina, mas, nos meus membros vejo outra lei lutar contra a lei do meu espírito e tornar-me prisioneiro da lei do pecado que reside nos meus membros. Um miserável, é o que sou! Quem me libertará deste corpo que me arrastaria para a morte?” (Rm 7,15-24).
Aos olhos de Deus, o valor de um homem não se mede pela escassez das suas tentações, pelo pequeno número das suas quedas, nem mesmo pela ausência de pecados materialmente graves, mas, antes, pela sua confiança total da Omnipotência do Salvador, pelo seu amor, e pela sua vontade de querer tentar ainda e sempre.
Enquanto restar em ti um pouco de abatimento, de tristeza, de vazio na alma, é porque tu não crê bastante no perdão do Senhor, porque esse perdão deve trazer-te paz, alegria. Quando o filho pródigo volta para casa, o pai quer que todos esqueçam o passado. Dá um banquete para os convidara todos à alegria. “Há mais ALEGRIA no céu por um só pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que perseveram.”
Cristo é severo para o pecado, mas bom para o pecador. Se tu fores vítima do pecado, o Senhor virá a ti para te amar mais e salvar-te. Mistério infinito do amor. Não ofereças resistência e ficarás mais unido ao teu Senhor depois do pecado, do que antes. Assim, toda a falta é um aceno; um convite para te ofereceres a Cristo Salvador.
Sentes-te cada vez mais fraco, à mercê da primeira tentação que aparecer.
Descobres em ti cada vez mais egoísmo e orgulho.
Vês cada vez com mais lucidez as faltas de amor na tua vida, as hesitações, as recusas. Não desanimes, alegra-te, pois o Senhor veio para ti. E se te lançares nos seus braços, ele vai poder perdoar-te e salvar-te.
Pois, como é que tu queres que Ele te perdoe, se tu achas que não tens nada que possa ser perdoado?
Como queres que Ele te salve se tu não te entregas para ser salvo?
Não penses que vais conseguir a paz ficando cada vez mais segura de ti, da tua vida honesta, da tua imaculada virtude. Essa tranquilidade seria a pior ilusão, porque então tu não terias necessidade do Senhor e ficarias só, horrivelmente só e vulnerável sem Ele.
“Não vim para o justo, mas, para o pecador.” “Vim salvar o que estava perdido.” “Não são os que têm saúde que precisam de mim, mas, os doentes.”
Desconfia do desânimo especial que originam os pecados contra a castidade. O vazio físico que eles criam, o mal-estar psicológico que os acompanha, a impressão de tirania do instinto todo poderoso, confundem teu julgamento e deformam a tua culpabilidade. Os pecados contra a carne não são os mais graves, sim os contra a fé, esperança e caridade.
O hábito limita a tua liberdade e também a tua responsabilidade diante do pecado.
Se o hábito te paralisa com os seus laços, tens que, com perseverança e paciência, reconquistar a tua liberdade. Constatar a tua fraqueza não desanima tanto, se ao mesmo tempo tu constatas a omnipotência de Deus, do amor divino. O amor não te faltará nunca, és tu que não crês bastante no amor.
É grave continuar no chão depois que levaste o tombo, mas, é ainda mais grave sentar-se à beira da estrada crendo que já se chegou ao fim.
Os teus pecados devem recolocar-te na linha da verdade da tua fragilidade; eles permitirão que voltes a ser criança e voltes a caminhar, desta vez dando a mão ao Pai.
“Ponho o Senhor constantemente diante dos meus olhos.
E, porque Ele está ao meu lado, não serei abalado.
Por isso o meu coração se alegra, e minha alma canta.
E, ainda mais, a minha carne também repousará em segurança.” (Sl 15).
Michel Quoist