Espiritualidade
Como viver o martírio todos os dias
- 21-11-2023
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“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida
pelos seus amigos.” (João 15,13)
Quando pensamos nos santos e mártires, especialmente nos
primeiros cristãos, lutamos para conceituar as suas experiências. Nós não
vivemos na mesma época, eles parecem “mais católicos” do que nós, e o seu nível
de santidade pode parecer incompreensível e inatingível. A magnitude do seu
sacrifício e o seu compromisso com o nome de Jesus pode parecer inimitável.
Os primeiros cristãos tiveram mortes dolorosas por crerem em
Cristo. Embora existam muitos cristãos a sofrer em muitas partes do mundo pela sua
fé, isso está muito longe da nossa experiência como cristãos onde vivemos.
Na nossa vida diária, a maioria de nós não é convidado a
arriscar a morte, a decapitação, o apedrejamento ou ser queimado na fogueira
pela nossa fé. Mas ainda somos solicitados a estar atentos e preparados,
prontos para partilhar o que acreditamos com qualquer um que veja algo um pouco
diferente sobre a maneira como vivemos. “Estejam sempre preparados para
responder a quem lhes pedir a razão da esperança que há em vós.” (1Pedro 3,15)
Por vezes, isto requer coragem. E estudar a vida dos mártires
e dos santos pode dar-nos o que precisamos para viver a nossa fé no mundo.
Tomamos Santo Estevão como exemplo. Santo Estêvão foi morto pelos judeus por
abandonar o seu modo de vida anterior e professar o cristianismo. O que é
interessante sobre Estevão ser apedrejado até à morte em Actos 7 é como Lucas
compara as mortes de Estêvão e Cristo. Por outras palavras, a morte de Estêvão
parece recapitular a de Cristo. Por exemplo, quando Estevão está prestes a
morrer, ele clama: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (Atos 7,59) – muito
parecido com o que Jesus diz na Cruz, em Lucas 23,46: “Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito”. E Estêvão – como Jesus – perdoa aos seus carrascos:
“Senhor, não lhes imputes este pecado” (Actos 7,60), assim como Jesus disse na
cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23, 34).
Ao estudarmos os primeiros mártires cristãos, vemos que
“morrer para nós mesmos” assume um significado poderoso e abrangente. Os
primeiros mártires romanos encarnam uma recapitulação da vida e morte de Cristo
de forma concreta. Mas este é o caminho para todos nós: para alguns, é um
martírio vermelho – como Santo Estêvão e São Pedro. Para outros, isto implicará
um martírio branco, uma morte diária para nós mesmos – para que Cristo possa
viver através de nós. Isto começa no nosso batismo; é consumado na Santa
Eucaristia; e continua no derramamento das nossas vidas em amor aos outros –
pelo qual a vida de Cristo é reproduzida em nós e através de nós.
É disto que trata o cristianismo: amar como Cristo
ama, a ponto de dar a vida – de uma forma ou de outra — como Cristo disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida
pelos seus amigos.” (João 15,13)
Como o testemunho de mártires actuais e recentes pode inspirar-nos
a fazer da nossa vida não algo sobre nós (os nossos confortos, os nossos
projetos, as nossas ambições), mas sobre algo maior?
Como a ousadia e o abandono descarado de si mesmo por Cristo
podem inspirar-nos a aprender mais sobre a nossa fé, a entender como ela está
inextricavelmente ligada ao relacionamento mais importante que nunca teremos e
a partilhar isto com as pessoas na nossa vida a cada momento?
O martírio diário pode manifestar-se em simples gestos, como:
- Fazer o sinal da cruz em restaurantes ou em locais públicos
(como fazes na tua própria casa);
- Partilhar a tua fé com amor nas redes sociais ou
pessoalmente quando te perguntam — mesmo que te sintas desqualificado,
desconfortável ou não saibas responder;
- Escolher as necessidades de outras pessoas acima das tuas
sem precisar de reconhecimento;
- Colocar sempre Deus como prioridade na tua vida sobre todas
as coisas e confiar n’Ele em vez de resultados;
- Não ceder à tentação de reclamar das situações e
dificuldades, mas antes louvar por tudo, mesmo em coisas que aparentemente não
são boas;
- Falar bem de pessoas com quem não simpatizas, tentando
reconhecer as suas qualidades por trás dos defeitos que saltam aos olhos;
- Não dar jeitinho nas coisas, mas viver com fidelidade e
justiça, no trabalho, na faculdade, nos negócios;
- Confessar-se com um padre frequentemente;
- Usar um sinal externo da tua fé, uma cruz, uma medalha, um
terço, mesmo que te ridicularizem por causa disto;
- Fazer jejum e penitência, uma vez por semana.
“Assim, cercados como estamos de uma tal nuvem de
testemunhas, desvencilhando-nos das cadeias do pecado. Corramos com
perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador da
nossa fé, Jesus. Em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e
está sentado à direita do trono de Deus.”
(Hebreus 12,1-2).